Aventuras Maternas

Vamos desacelerar nossas crianças?

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Imagem: Pinterest

Diante de uma situação nova, de uma mudança ou de algo que seja muito importante, é muito comum que sinais de ansiedade afetem a cada um de nós: nó na garganta, o aperto no peito, a inquietação. Era assim que eu me sentia quando era criança: ansiosa! Mas apenas diante de uma mudança ou antes de uma prova, por exemplo.

Já atualmente, é fato que não só a minha cabeça, mas a de centenas de pessoas não pára de pensar alto nem por um segundo sequer, numa velocidade tão alta que estressa e desgasta o cérebro. Segundo a Organização Mundial da Saúde, provavelmente 80% de adultos, crianças e adolescentes desenvolvem a chamada Síndrome do Pensamento Acelerado, descoberta pelo psiquiatra brasileiro Augusto Cury.

Trata-se de um transtorno que impede o desenvolvimento de funções da inteligência, como refletir antes de reagir, expor e não impor ideias, exercer a resiliência, colocar-se no lugar do outro. E, entre os sintomas que atingem a nossa geração em peso, estão: fadiga, dores de cabeça e musculares, irritabilidade, sofrimento por antecipação, dificuldade para trabalhar com pessoas lentas, transtorno do sono, déficit de memória e por aí vai.

Diante dessa realidade, me pego refletindo sobre para onde estamos conduzindo nossos filhos. Se nós, que somos de uma geração que ainda viveu o final da fase dos discos de vinil, uma década como a de 80, onde brincar na rua, soltar pipa e jogar bolinha de gude, brincar de carrinho e de boneca ainda eram nossas principais distrações.

Tempos bons em que a hora demorava a passar e para pagar contas, precisávamos enfrentar filas enormes no banco, ao lado de nossas mães sem reclamar e para eliminar o tédio, éramos apresentados a um gibi ou a um bloco onde jogávamos cruzadinha, jogo da velha ou algo do gênero, com toda tranquilidade do mundo, sem acabar com a paz de quem também estivesse cansado na fila, porque a bateria do telefone acabou ou o joguinho não está carregando na hora que queremos, como as crianças de hoje fazem.

hhhh

Enfim, fomos acostumados a esperar para falar com um colega da escola até a hora em que ele chegasse em casa para atender o telefone fixo e a pesquisar para trabalhos, em livros de uma biblioteca, onde tínhamos que analisar calmamente sopés de páginas para entender detalhadamente o objeto do nosso estudo. E hoje somos desesperados pela agilidade. Precisamos de tudo para ontem. Se a internet está lenta e demora dois minutos a mais para concluir uma pesquisa, nosso coração dispara e praguejamos contra o Google. Se um colega visualiza o Whatsapp e não responde na hora, entramos em crise, e ele pode até virar inimigo por conta disso.

Pensando desta forma, como funcionará para nossos pequenos que já nasceram numa realidade instantânea? Mal eles nascem, querendo ou não, já fazem parte do mundo virtual. Os convites para eventos vem e vão pelas redes sociais, viajamos para resorts nas férias e a brincadeira preferida de crianças de três anos são jogos e aplicativos dos tablets dos pais, ou deles mesmos. E até nós, pais, nos reunimos nas redes sociais criando grupos que decidem encontros coletivos, que tiram das crianças a oportunidade de definirem quem são os colegas com quem querem se relacionar. Já entregamos tudo pronto: até a hora da mamada é cronometrada por um aplicativo. Naturalidade zero! Apenas fases, literalmente, pulando a todo momento e tirando a oportunidade de eles aprenderem pelas sensações, pelas emoções, pela vivência.

Esse é o mundo dos nossos filhos, com tecnologias que se atualizam a todo segundo. Não temos ingerência sobre isso, mas podemos fazer a nossa parte dentro de casa. A vida real não é instantânea. As fases não mudam como num passe de mágico, os erros não somem ao apertarmos num botão e conversas virtuais não satisfazem nossas necessidades humanas de carinho e aconchego. E cabe a nós ensinar os valores de realidade a nossas crianças.

No que diz respeito a dar valor a cada momento, podemos tentar seguindo ideias simples sobre paciência dentro de casa. Abaixo reúno algumas:

1. Comece pedindo pouco:

Tente pedir pequenas doses de paciência de seu filho desde cedo. No início peça apenas para se acalmar e esperar por 1-2 minutos antes de você colocar mais leite no copo de canudinho ou antes de ligar a televisão num desenho. E vá aumentando esse tempo progressivamente.

2. Ensine auto-controle.

Ensine-o a controlar suas emoções. Por exemplo, se ele estiver nervoso ou desesperado para falar rápido ou para fazer logo o que quer, pare tudo, olhe no olho dele e peça para ele respirar junto com você. Cinco vezes é um bom número para começar e suficiente para fazê-lo parar e prestar atenção no que você falará em seguida (explique porque não adianta se desesperar e que com calma tudo se resolverá).

3. Não presenteie à toa.

Espere uma data especial de verdade para dar o que ele tanto pediu durante os últimos meses. Se ele estiver se comportando bem e merecendo um mimo, faça um passeio diferente, dê uma atenção especial com uma brincadeira nova, por exemplo. Quanto maior a troca com seu filho, menos ansioso por atenção, ele ficará.

4. Reveze.

Nada testa a paciência de uma criança mais do que ter que esperar a sua vez para fazer algo divertido. Se o seu filho fica ansioso toda vez que espera sua vez para ir ao balanços, ensine-o a esperar a vez. Mesmo que não haja outras crianças no parquinho, reveze entre vocês mesmo.

5. Ajude-o a verbalizar seus sentimentos

É difícil lidar com as emoções e as primeiras frustrações. Certifique-se de usar uma voz calma, fazer contato visual, e manter a sua postura corporal livre de estresse. Às vezes as crianças só precisam se sentir ouvidas e precisamos estar atentos a essa necessidade.

6. Dê noções de tempo a eles

Quantas vezes você já se pegou respondendo a um pedido com “em um minuto”? Minutos são sem sentido para as crianças e, na verdade, é mais uma forma de falar, do que um fato real que responderemos em um minuto. Da próxima vez que seu filho lhe pede alguma coisa quando você está ocupado fazendo outra, tente usar noções de tempo que ele está acostumado. Exemplo: É o tempo que demora um episódio de Peppa. Se for mais tempo, exemplifique com um filme. Para uma viagem de carro: pode ser o tempo que você fica na escolinha. Ele pode não ter noção exata, mas vai saber que demora e vai administrar melhor sua resposta.

                              

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Priscila Correia

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