Aventuras Maternas

Ser mãe muda nossa visão sobre o tempo

tijolosUma dor no coração vem me incomodando há alguns dias, acompanhada de uma pequena tristeza a cada nova alegre descoberta que meu filho faz.

Tudo começou quando fui à reunião de começo de ano da escola e a coordenadora avisou, que ele como os outros alunos que ingressaram no 3º e último período da educação infantil, terá muito o que aprender este ano, para se preparar para sua próxima etapa já no Ensino Fundamental, com provas e outros tipos de cobranças.

Sim, meu menino tão bebê, aos seus 4 anos, está crescendo rápido, muito rápido. Assim, como o seu filho e, você ou eu crescemos também.

Eu sei que é chover no molhado se lamentar pela forma como a vida passa depressa. Mas o meu lamento não é sobre a velocidade do tempo, mas sim sobre a forma como eu aproveitei as experiências que passei junto com ele.

A cada segundo, pequeno segundo perto deles ganhamos um olhar de admiração, um sorriso de alegria, um abraço de amor, percebemos o quanto nascemos puros e inocentes, o quanto nossa natureza é bruta, é um tanto bélica, afinal já tão pequenos, temos vontade de provocar o outro, incomodar até conseguir e, até mesmo, de dizer palavrão (meu filho, aos dois anos, foi para o pensamento e estava muito chateado comigo. Como não falamos palavrão, ele buscou uma forma de me agredir verbalmente e me chamou de “Sua pensamenta”).

E toda vez que saímos, ou nos deixamos levar pelas mídias sociais e ficamos horas conectados, ou quando brigamos com eles, porque nos chamam mil vezes para ficar juntinho, ou se trocamos o momento a dois antes de dormir pela novela, ou para relaxar no sofá, estamos perdendo um tempo precioso de nossa vida com eles.

Eu sei que temos a nossa vida, não podemos nos anular pelos filhos etc e tal. Mas os nossos filhos também não são a nossa vida? E, por sinal, a parte mais preciosa dela?

Em muito pouco tempo, eu sei, que o amor singular, puro e apaixonado que ele sente por mim se transformará. E, pior! Ele pode ter vergonha de mim! Vai querer se despedir escondido quando chegar na escola. Vai achar que sua primeira namoradinha é a mulher mais linda, inteligente e incrível do mundo. Sei que o amor que ele sente por mim ainda existirá, sim, mas quanto mais o tempo passar, mais diferente ficará e ele voará sozinho, sem mãos dadas comigo, sem nada que eu possa fazer fazer para proteger os sentimentos dele. Quando acordar à noite após um pesadelo ou quando se aborrecer com algo ou alguém na vida, não poderei aninhá-lo nos meus braços, como faço hoje, até porque será grande demais, maior do que eu.

A essa altura desse texto, catarse, já estou chorando, pensando no futuro e deixando mais uma vez de viver o agora com ele.

Por mais que minha vida tenha mudado depois que ele nasceu e eu doe muito do meu tempo para ele, muito mais até do que outras mães podem e conseguem fazer, isso ainda não me completa. Sei que isso deveria me deixar feliz e grata, mas ainda acho pouco e não quero me comparar a ninguém, mas satisfazer apenas a mim mesma, às minhas necessidades…

O problema é que, às vezes, troco a conversa da noite pela novela ou me entretenho mais do que deveria no Instagram e ele brinca sozinho. E a culpa por cada tempo perdido comigo mesma me deixa mal. Sei que uma psicóloga me diria: é importante você ter o seu tempo! Não se culpe! Aproveite o tempo que vocês têm juntos com qualidade…

Mas, o problema é que a culpa que sinto não é por ele, é por mim! Uma mulher nunca se sente tão especial na vida como quando seu filho a olha com admiração e afeto em grau extremo. E sinto a necessidade, já arrependida pelo que vem depois, de preencher muitos e muitos galões dessa sensação tão especial de amor latente para que meu cérebro entenda que dei o máximo que pude e recebi da vida o que existe de melhor.

Não sei se vou conseguir mudar algo a partir de hoje, se conseguirei brincar mais, conversar mais, abraçar mais do já abraço (e olha que sou uma mamãe-polvo! Ainda bem que ele gosta! rs), mas sei que preciso me convencer de que tudo que já fazemos juntos e já compartilhamos até agora é o suficiente para preencher meu coração e minhas lembranças para sempre. Se não me satisfaz agora, será que me satisfará no futuro?

Tudo isso é um pouco de devaneio de mãe grudenta e saudosista, mas tenho certeza de que sempre podemos fazer mais e, especialmente, melhor!

A minha dica para uma mãe que está entrando nesse mundo agora é: esqueça decoração de quarto linda, roupas fofas e o passo a passo “dar de mamar, fazer arrotar, trocar fralda e fazer dormir” para ganhar o diploma de mãe exemplar. Gaste todo o tempo do mundo que está sem dormir com seu bebê no colo para olhar para ele, para cada parte de seu rostinho, troque muitos olhares de amor sublime, segure no colo sempre que precisar, dê aconchego, faça carinho, sussurre canções de ninar, embale-o para dormir dançando com ele, dê muito cheirinho, morda o pés. Você pode ter 10 filhos, mas cada segundo que você aproveita dessa fase é único e faz parte de uma construção que pertence a você e a este filho.

Tento ao máximo capturar cada pequena sensação e emoção assim todos os dias e não aceito perder a oportunidade de fazer isso, estando ali de corpo presente, mas sem o coração naquilo.

Acredito que um broto que é bem semeado, transforma-se numa árvore frondosa com frutos que também serão meus e nenhum porto seguro será melhor no mundo do que o que eu construí com tijolos doces e firmes como a rapadura na memória afetiva do meu filho.

                                             

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Priscila Correia

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