Aventuras Maternas

Por que seu filho merece ser educado de forma pacífica?

19814445_10208730170684423_1580674211_oAprender a dizer “Não”, lidar com o terrible two, com a ansiedade infantil, com a personalidade tímida ou bagunceira demais de uma criança… São tantas novidades para administrar quando temos filhos, que sinto como se nós, pais, fôssemos os primeiros com necessidade de aprendizagem e de entender como resolver algumas questões que tanto tiram o nosso sono.

Algumas delas são: como educar de forma eficaz? Como utilizar o poder das palavras e manter a autoridade como pais, mas sem perder a doçura e a paciência? Como ensinar atitudes corretas, sem agir de forma errada? A escritora e consultora em educação Elisama Santos, de 32 anos, também se viu diante desses desafios com os seus dois filhos (Miguel, de cinco anos, e Helena, de três). Para encarar as dificuldades, passou a estudar e a se especializar na educação não violenta, um processo de pesquisa desenvolvido pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, para lidar com as crescentes afrontas que os pequenos causavam no dia a dia.

Atualmente sua página conta com mais de 40.000 seguidores, boa parte deles mulheres e mães, que compartilham, comentam e curtem seus textos e fotos. Com o sucesso do perfil online e com o apoio de seguidores, familiares e amigos, conseguiu escrever e lançar o livro “Tudo Eu” no ano passado, que traz seu olhar sobre o lado B da maternidade, destacando a importância da empatia com a mulher mãe e aborda o turbilhão de sentimentos que essa mulher vive depois do Nascimento dos filhos. Com o sucesso, a escritora e consultora lançou no mesmo ano o “{Re Olhar}”, que traz uma reconexão da mãe e do pai com eles mesmos e como se dá esse encontro com si mesmo no trato com os filhos.

Neste sábado, dia 8 de julho, no Rio de Janeiro, Elisama recebe pais e mães para um workshop sobre Comunicação Não Violenta e Disciplina Positiva. O evento vai apresentar uma nova forma de falar com os filhos e a melhor maneira de ouvi-los, de forma que as necessidades de toda a família sejam respeitadas. O evento será realizado no Ananda Espaço Yoga, em Copacabana, às 8h30. Mais informações através do link: https://www.eventbrite.com.br/e/workshop-educacao-nao-violenta-rio-tickets-33677563499 

Entrevistamos a especialista sobre como promover uma educação pacífica em casa. Confira abaixo:

AM – Como é possível se comunicar com os filhos de forma tranquila quando eles desobedecem?
Elisama Santos – O mais importante na comunicação com a criança é entender que ela é uma criança. Algo que deveria ser óbvio, mas esquecemos diariamente. Seu filho chegou ao mundo a pouco tempo, está aprendendo como a sociedade funciona, como se relacionar com as pessoas e com ele mesmo. O nosso papel é orientar e fazer esta apresentação da vida. Infelizmente, por conta das obrigações diárias, da correria do cotidiano e da forma tradicional de enxergar a educação, requeremos da criança o que ela não é capaz de dar. Se a gente não leva o comportamento como uma afronta pessoal e entende que ali está um ser em desenvolvimento, nos esforçamos mais pra lidar com os entraves diários com maior tranquilidade. Se buscamos uma relação de cooperação em vez dessa obediência que tanto se fala, teremos crianças mais conscientes de si, da suas responsabilidades e do seu papel na família.

AM – Como seria a educação positiva?
Elisama Santos – Uma educação não violenta traz uma nova forma de ouvir e falar com a criança, incentivando a cooperação, a autodisciplina, a autoestima, a empatia. Entendemos as necessidades da criança, acolhemos a sua complexidade e os seus quereres e ensinamos como lidar com os seus sentimentos e necessidades. Entenda que, ao falar em acolher, eu não falo em atender. Os nãos existem e são importantes, mas são mais pensados e entendemos que, após uma negativa,  a criança sentirá frustração, tristeza ou algo semelhante, como todos nós, afinal. Esperamos que a criança diga: “obrigada, mamãe, muito sensata a sua atitude.” Claro que não! Ela vai chorar e, caso se comporte de uma maneira inadequada, vou ensinar como lidar com esse sentimento de um jeito mais socialmente aceito, respeitoso e saudável. Todos temos inúmeros problemas emocionais que poderiam ter sido evitados se soubessem lidar melhor com as nossas emoções. Somos analfabetos emocionais e é chegado o momento de mudar isso, apresentar este mundo interno e ferramentas para lidar com ele.

AM – Castigo funciona?
Elisama Santos – Depende do que você entende por funcionar. É encerrar momentaneamente o comportamento? Se sim, pode ser que funcione. Mas o que ensina? Sejamos sinceras, quantas vezes, durante um castigo, você pensou em formas mais construtivas de lidar com aquele situação quando acontecesse novamente? Normalmente pensávamos em vingança ou no quanto nossos pais são injustos. Não nos responsabilizamos pelo que acontece e não buscamos soluções mais adequadas para o problema. Esse é o grande problema da punição, tira o foco do problema e coloca na relação. Se quero que o meu filho tenha um maior repertório diante do que lhe acontece, que seja menos reativo e mais consciente, o castigo não é uma boa ferramenta.

AM – E colocar no pensamento? Por experiência própria, entendi que o pensamento sem uma boa conversa que traduza o porquê da atitude errada da criança, não adianta nada. Mas generalizando, a conversa de fato é fundamental na educação da criança diante dos erros e acertos, sempre? Com menores e maiores funciona da mesma forma?
Elisama Santos – O cantinho do pensamento é um castigo fantasiado. É a mesma coisa. Você consegue obrigar alguém a pensar? O que te garante que, naquele momento, a criança está ponderado as suas atitudes e buscando uma nova forma de agir? Não seria mais útil que o adulto a orientasse, demonstrando as suas expectativas diante da situação é apresentando ferramentas para lidar com o sentimento que desencadeou o comportamento? Tudo o que fazemos é guiado por nossos sentimentos e necessidades, e por isso é tão importante lidar com eles. O diálogo deve ser apresentado ao bebê e base da relação até a idade adulta. Não tem idade limite. Somos seres sociáveis e ensinar a lidar com os conflitos com a conversa é essencial para o futuro pessoal e profissional da criança.

AM – De que forma é possível criar uma relação, onde a criança entenda que apesar de conversar e falar de forma pacífica sobre os erros, é importante existir respeito?
Elisama Santos – A relação entre pais e filhos deve ser baseada em amizade, e isso não anula o papel de cuidar e orientar a criança diante dos limites das relações e do mundo. Falo aos meus filhos, todos os dias, que são meus amigos e conversamos sobre os mais diversos temas e acredito que isso facilita o nosso dia a dia. Que tipo de chefe você atende com mais empenho, o que te trata como semelhante, com igualdade e respeito ou o que simplesmente impõe os seus pensamentos?  Ouvir e respeitar as opiniões nos faz mais próximos e incentiva a colaboração. A autoridade não precisa de autoritarismo.

AM – Você tem dados de pesquisa que falem sobre a diferença de comportamento da criança que é tratada com agressividade e da que é tratada com paciência?
Elisama Santos – O autor do livro Inteligência emocional e a arte de educar os nossos filhos relata um estudo que comprova que crianças educadas pelo que ele chama de preparadores emocionais são mais saudáveis, tem menos problemas respiratórios, uma menor quantidade de cortisol na urina, além de uma maior capacidade de sair de estudos emocionais desagradáveis. Tem um maior poder de comunicação e maiores habilidades sociais. Enfim, são mais emocionalmente inteligentes e o QE é, comprovadamente, um fator importante para a felicidade, sucesso pessoal e profissional.

AM – independente do erro da criança, o problema deve ser resolvido no mesmo tom? Ex: uma criança que corre no shopping deve receber a disciplina diante daquilo no mesmo grau, que a criança que comete agressão contra um amiguinho? Como mostrar à criança de forma pacífica que um erro foi muito mais grave do que o outro? Volume da voz, tristeza, castigo, perda de algo importante para ela?
Elisama Santos – Não existe receita de bolo. São muitas as ferramentas possíveis para orientar uma criança com comportamento inadequado. Em algumas situações, deixaremos que elas vivenciem as consequências naturais do seu comportamento, em outras a convidaremos a buscar formas de reparar o seu erro. É importante frisar que um mau comportamento não existe por si só, mas que é consequência de algum sentimento ou necessidade, ou de alguma interpretação errônea da realidade. Crianças são excelentes observadoras e péssimas intérpretes. Precisamos assumir o nosso papel de orientadores  e fazê-lo de maneira respeitosa e eficaz a longo prazo, coisa que a punição não traz. É importante lembrar que uma criança que se sente bem, respeitada e aceita é uma criança que colabora mais e tem uma maior responsabilidade por suas atitudes, sabendo que tem um papel importante na estrutura familiar.

AM – Alguma dica para ajudar os pais a lidarem com as diferentes fases da infância. Pode falar brevemente sobre cada etapa?Elisama Santos – Tenho duas dicas que considero muito importantes. A primeira é: estude. A gente estuda para um novo emprego, para vários projetos, mas para a missão que considero a mais importante, achamos que nascemos sabendo. Queremos fazer como fomos educados e não questionamos o que poderia ser melhor. Será que você é hoje a melhor versão de si mesma? Se seus pais tivessem acesso a essas informações e fossem preparadores emocionais muitos dos seus problemas de relacionamento e crenças limitantes não existiriam. Então, vamos usar essa imensa possibilidade de informações que temos hoje e ir além do “foi assim comigo e não morri.” A segunda dica é entender que alguns comportamentos são próprios da idade e que nossa função é ajudá-los a entender o mundo e as relações. Crianças de dois anos berram quando contrariadas, crianças de quatro anos tem uma tendência a desafiar autoridade e adolescentes tem uma grande necessidade de aceitação pelo grupo social. Aceitar que essas fases existem e buscar ferramentas para lidar com elas faz a rotina menos frustrante e os dias mais fluidos. Não podemos esquecer que somos nós os adultos da relação.

 

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Priscila Correia

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