Vocês já pararam para pensar sobre o mundo estranho que a gente vive? Os bebês já sabem mexer nos tablets com poucos meses de vida, mas quando a mãe não usa dessa tecnologia, e seu bebê não sabe destravar a senha dos gadgets, está atrasado. Pelas mídias sociais trocam-se informações sobre quando eles começam a falar ou a andar e cria-se uma concorrência velada sobre quem conseguiu primeiro.
Aos poucos 3 anos já vem aquela pergunta: “ele já sabe ler ou até escrever?” Ou “ele já desenha bem?”, “Quantas atividades físicas ele faz?” Por aqui somos adeptas do máximo de convivência familiar possível e do deixar a criança ser criança o maior tempo que puder, escolhendo naturalmente as atividades que quer fazer.
Meu filho faz natação desde bebê, porque eu acredito que essa é a única atividade física que devemos estimular, afinal é uma questão de segurança e de saúde, aprender a nadar e fazer exercícios respiratórios para quem sofre com sinusite e bronquite como ele. E há pouco tempo ele pediu para aprender a tocar violino. Eu não tenho a menor aptidão musical e não espero nenhum dom incrível por parte dele, mas ele se sentiu tocado ao ver outras pessoas ensaiando notas com o instrumento e quis aprender. Está amando e se divertindo com a atividade, o que acho ótimo.
No entanto, apesar dos primeiros passos dele rumo a uma futura agenda lotada, acredito firmemente que nossos pequenos não devem se sentir obrigados a saber mais e mais e sim devem ser estimulados a aprender brincando, a se divertir com a vida. Nos tornamos adultos cedo demais, escolhemos nossa função profissional ainda na adolescência e somos atacados por inúmeras novas tecnologias e obrigatoriedades sociais a todo instante.
Em que momento aproveitamos a vida? Queremos o mesmo para nossos filhos ainda bebês?
Que tal conjugar com as crianças alguns verbos antes de se preocupar com o saber? Não, não precisa obrigá-las a decorar as conjugações, basta mostrar o significado de coisas mais importantes na vida do que se sobrepor ao conhecimento alheio… Abaixo, conjugo os verbos que costumo praticar em casa com ele. Quem sabe te inspiram também?
Amar pessoas, animais, plantas, o nosso planeta como um todo. Cuidar da nossa casa interna e externa.
Brincar livremente.
Conhecer o mundo.
Experimentar sensações. Se sujar, se molhar, correr, colorir. Descobrir novidades, sabores, texturas, temperaturas. Entender a si mesmo com um ser vivo e entender quem é importante.
Festejar o fato de estar vivo. Comemorar as pequenas conquistas e celebrar cada sorriso, descoberta, brincadeira ou troca de carinho.
Gostar do que realmente interessa e escolher livremente cada novo passo a ser dado, sem obrigações sociais.
Hesitar quando for preciso. Às vezes é importante dar um passo atrás para curtir ainda mais os passos que der para frente.
Imaginar, criar histórias, se expressar. Deixar a mente viajar. É assim que se criam as melhores memórias da infância.
Jantar em família. Curtir as noites em comunhão com quem se ama. Esquecer celulares, televisão e curtir brincadeiras, conversas e um convívio real em família.
Libertar-se da rotina de 1001 atividades e ter uma vida simples. Brincar ao ar livre, apreciar a natureza, aproveitar o presente.
Misturar o estilo de vida tecnológico de hoje com o aprendizado espontâneo e orgânico. Não é preciso se fechar ao novo. Tudo tem seus benefícios, o importante é não deixar de aproveitar a vida real.
Ninar: a hora de dormir é sagrada. Deixe tudo (preocupações, medos, angústias, trabalho) do lado de fora da porta do quarto do seu filho. Conte histórias, converse sobre o dia, relaxe junto com seu filho e permita-se curtir um momento só de vocês.
Orientar: antes de aprender sobre tudo é preciso entender que na vida existem dificuldades, que nem tudo é simples, nem tudo acontece na hora que a gente quer, que o amiguinho pode ter gostos diferentes do seu, que é preciso respeitar as escolhas dos outros. Enfim, cada um tem seu jeito.
Participar: crie um vínculo real com seu filho que vá além do cordão umbilical
Querer aprender é sempre o primeiro passo para apreender de fato. Respeite os desejos do seu filho. Ele pode ser pequeno e não saber das coisas, mas tem interesses s vontade própria.
Relaxar e esperar. Cada criança tem seu tempo e sua vocação.
Para só então SABER algo com a precisão que o mundo espera. E mesmo assim se souber mais sobre o que é o viver do que o como viver estará tirando a melhor lição que a vida pode dar. Viver é o melhor aprendizado que se leva da vida, o resto a gente apreende quando de fato precisar.
E depois que aprender, é sempre bom:
Testar os aprendizados
Usar os aprendizados
E Viver o máximo que puder. Porque tudo isso junto é o que nos faz ser completos.
