Responda rápido: quando foi a última – se é que já foi – vez que seu filho foi ao oftalmologista?
Castanhos, verdes, azuis… os olhos são capazes de expressar o que sentimos, mas precisam de cuidados como qualquer outra parte do corpo. Mas, ao contrário de outras especialidades que procuramos para fazer um checkup de tempos em tempos, os oftalmologistas são procurados apenas quando algo não está bem na visão. Mas isso é um engano. E não apenas para nós, adultos, como para as crianças também.
E os exames já devem começar no recém-nascido! Segundo o oftalmologista Paulo Poliusk, diretor do Instituto Provisão, é importante que toda criança, quando sai da maternidade, faça o teste do reflexo vermelho, que é um teste de fundo de olho que permite ver se o reflexo da retina tem o padrão avermelhado como de costume. “Os casos de exceção são os chamados de “reflexo de gato”, em que o olho fica amarelado e isso mostra a possibilidade da existência de alguma doença ocular severa, entre as quais, tumor de olho e outras doenças que são realmente comprometedoras no que diz respeito à visão e a integridade anatômica do olho.
Tirando esses casos que são de exceção, o que é fundamental é que os pais possam observar se o filho apresenta um olho “tortinho”, se os olhos não são ortogonais, ou seja, se mantêm a sua simetria quando a criança olha para frente ou pro lado. Nessas situações, chamadas de estrabismo, os pais devem obrigatoriamente recorrer ao oftalmologista assim que perceberem a alteração.”, alerta.
Mas, vale lembrar que, no primeiro mês de vida é normal que os olhos do bebê se mexam de um jeito diferente ou que ele às vezes até pareça meio estrábico. Os recém-nascidos ainda estão aprendendo a enxergar e a fazer com que seus olhos trabalhem juntos. Então, é válido observar essa questão de um provável estrabismo após esta época.
Além das observações dos pais no contato diário com a criança bebê, outra época que exige muita atenção dos pais é quando os pequenos entram no colégio. O começo do ano letivo é uma excelente época para se extrair o melhor possível do aprendizado das crianças e para isso é fundamental que tenham uma visão adequada. Segundo recomendação de oftalmologistas, é muito importante que toda criança faça uma consulta e realize exames preventivos até os seis anos de idade. “Existem algumas doenças que após os seis anos de idade não são mais possíveis de se reverter, como, por exemplo, a ambliopia, também conhecida como vista preguiçosa (explicaremos melhor abaixo”, explica Polisuk.
O executivo de Operações Diogo Gomes, hoje com 37 anos, começou a usar óculos ainda com seis. Ele conta que o que levou os pais a o encaminharem a um especialista foi o fato de sentir fortes dores de cabeça e não conseguir copiar as tarefas do colégio do quadro negro. “Quando fui já tinha dois graus de miopia. Eu era muito bom aluno antes e depois. Eu reclamei logo e, como meu pai também era míope, a ação de ir ao oftalmologista foi rápida.”conta.
Já a jornalista Erika Drumond, de 40 anos, começou a usar óculos ainda com quatro anos. Ela conta que os pais a levaram ao especialista porque ficaram intrigados pelo fato de viver caindo. “E não enxergava direito o quadro negro. Não me lembro de sentir dores de cabeça, mas mamãe dizia que eu caía o tempo todo. Vendo essa minha “fraqueza”, ela passou a me dar vitaminas, porque imaginou que eu estivesse fraca. Comecei a engordar rapidamente e continuava caindo. Aí que caiu a ficha de me levarem a um oftalmologista. Acho que eu tinha 1 grau de miopia e um pouco de astigmatismo já naquela época”, comenta Erika. E completa: “Vi muito melhor o mundo e as coisas, mas foi brabo me adaptar aos óculos porque era um objeto “estranho”.
A artista plástica Tayla Nunes, de 30 anos, começou a usar óculos com cinco e o caso dela é quase tão comum quanto o das crianças que não enxergam o quadro negro: via TV a menos de um metro de distância. Preocupados, os pais a levaram ao oftalmologista e foi constatado miopia e astigmatismo – mais de um grau de miopia. O mesmo aconteceu recentemente com Maria Eduarda, de 7 anos. Sua mãe, a jornalista Ana Paula Lacerda, percebeu que a filha assistia a TV quase que colada ao aparelho. Como ainda não estava na idade de estudar – tinha quatro anos e conseguia brincar tranquilamente no colégio -, os pais acharam estranho ela dizer que não enxergava nada quando colocada mais longe. Procuraram o médico e logo ela passou a usar os óculos. “Normalmente as crianças não gostam de usar, acham incômodo. Mas a Duda não tira os óculos para nada. Como passou a enxergar melhor, viu os óculos como um aliado. Ainda bem!”, conta Ana Paula.
Todos esses casos foram felizes na solução, já que os pais procuraram os médicos assim que verificaram o problema. Paulo Poliusk lembra que, se vistas rapidamente, algumas doenças podem ser revertidas clinicamente, com tratamentos. Caso contrário, as consequências podem ser mais graves. “É fundamental que a primeira avaliação oftalmológica seja feita até o sexto ano de vida. Isso acontece porque indo ao oftalmologista e eventualmente fazendo um exame que dilate a pupila, é possível aferir o grau exato da criança. Visto isso se coíbe ou evita-se a perda da visão.”
Além disso, ele explica que quando a criança chega a clínica oftalmológica e apresenta anisometropia severa, ou seja, diferença de grau entre um olho e outro, o estímulo ao desenvolvimento do olho não acontece de uma maneira simétrica, e, sendo assim, um olho desenvolve a visão e o outro não. “Chamamos de ambliopia, que é a falta de amadurecimento de um dos dois olhos, e fundamentalmente tem de ser combatida até o sexto ou sétimo ano de vida. Combate-se a ambliopia escondendo o olho de melhor visão para que você estimule o olho de pior visão a captar o estímulo de uma maneira adequada.”, completa.
“Feito isso, com um esquema de oclusão variável, que leva em consideração a idade do indivíduo, a gente consegue na maioria dos casos, se não solucionar o problema de visão, mas certamente melhorar de forma significativa. Por isso é importante o exame até o sexto ano de vida, a detecção se existe simetria, ou, no caso da assimetria, o grau existente. Diante de uma assimetria importante, a oclusão do olho melhor para estimular o olho que não está recebendo o estímulo adequado. No que diz respeito as abordagens terapêuticas, a única cirurgia que cabe para essa faixa etária é a cirurgia de estrabismo, quando o olho desviado incapacita a criança de obter a visão adequada. Tirando isso, tudo mais deve ser corrigido por meio dos óculos, uma vez que as cirurgias corretivas estão absolutamente contra indicadas nessa faixa etária.”, finaliza o oftalmologista.