Aventuras Maternas

Hérnia Diafragmática Congênita

herniaQuando uma mulher engravida, inúmeros problemas podem acontecer no bebê, mesmo ainda dentro da barriga, e um deles é a Hérnia Diafragmática Congênita.  A Hérnia Diafragmática Congênita é uma falha na formação do diafragma do bebê que faz com que os órgãos abdominais subam para a caixa torácica, impedindo o desenvolvimento completo do pulmão. As consequências podem ser graves sequelas respiratórias e até mesmo a morte – no Brasil, são cerca de 700 casos por ano. O diagnóstico precoce pode garantir ao bebê uma vida saudável e sem complicações.

“A taxa de sobrevida é em média de 60%, varia conforme a gravidade. Em situações com alto risco de morte é necessária a intervenção ainda no útero da mãe”, explica o ginecologista e obstetra Renato Sá, coordenador do Centro de Cirurgia Fetal e Neonatal (CCFN) do Grupo Perinatal, onde já foram realizadas 21 intervenções intrauterinas em pacientes de diversas partes do país.  “Nesta etapa é colocado um balão dentro da traqueia do feto, que permite o desenvolvimento adequado do pulmão do lado não afetado”. O procedimento é raro no Brasil. E por ser um problema complexo, envolve uma equipe médica com muitos profissionais de diferentes especialidades e habitualmente necessita de uma cirurgia ampla para a correção definitiva. Entretanto, embora grave, recentes avanços tecnológicos têm permitido salvar vidas mesmo em situações de alto risco por meio da toracoscopia, cirurgia minimamente invasiva, feita com pequenos furinhos e com ajuda de vídeos.

Os recém-nascidos diagnosticados com HDC são colocados em respiração assistida na UTI neonatal, onde ficam em observação para avaliar a capacidade dos pulmões. A correção é feita entre o terceiro e o quinto dia de vida. “Nestes casos, o parto deve ser feito em hospitais de alta complexidade para que o tratamento adequado seja oferecido logo nos primeiros minutos de vida. O diagnóstico pode ser feito a partir do terceiro mês de gestação, quando o diafragma já deve estar formado”, alerta Renato.

E para saber mais informações sobre o assunto, conversamos com o médico, que deu mais detalhes sobre essa condição:

AM – Por que acontece o problema?

Renato Sá – A causa da hérnia diafragmática congênita é desconhecida. Sabemos que o diafragma não se forma corretamente, mas não sabemos o que faz ele se formar de maneira incompleta. Alguns casos podem estar associados a síndromes genéticas, mas não todos.

AM – Existe alguma forma de evitar antes do nascimento? Alguma cirurgia?

Renato Sá – Não há como evitar. O problema maior é o desenvolvimento dos pulmões, pois ficam comprimidos pelas órgãos do abdome que passaram para o tórax. As cirurgias antes do nascimento visam permitir que o pulmão se desenvolva adequadamente e assim melhorar a chance na correção após o nascimento.

AM – Se for diagnosticado somente após o nascimento, como proceder?

Renato Sá – Cerca de 50% dos casos só são descobertos após o nascimento. O procedimento é o mesmo, precisa ser feita uma cirurgia para corrigir o defeito do diafragma.

AM – Quais problemas pode gerar no desenvolvimento do bebê? Esses problemas, caso aconteçam, podem ser resolvidos com os passar dos meses ou anos? Fale sobre isso.

Renato Sá – Se a correção cirúrgica for bem sucedida, na maioria das vezes não há consequência para o bebê. Algumas vezes só um dos pulmões se desenvolve adequadamente, mas o bebê consegue ter uma vida normal com só um dos pulmões. O problema são os primeiros dias de vida, quando é preciso fazer a estabilização do bebê, este período é o de maior risco para a vida dele.

AM – Você falou sobre taxa de mortalidade. Dos casos diagnosticados, qual seria a taxa de mortalidade entre os diagnosticados antes do nascimento e após o nascimento?

Renato Sá – O diagnóstico pré-natal melhora o prognóstico porque o bebê receberá a assistência adequada ao nascimento, melhorando os resultados em 50%. Como eu falei, os primeiros dias são os dias críticos. Mas o que mais influencia é o tamanho do defeito. Os defeitos grandes que comprometem os pulmões são os que tem maior mortalidade.

AM – Esse balão que você cita é colocado ainda na barriga da mãe ou imediatamente após o nascimento?  Uma vez colocado o balão, quando é retirado?

Renato Sá – O balão é colocado ainda na barriga da mãe. Uma cirurgia bastante delicada que usa uma câmera de vídeo com 02mm de diâmetro (do tamanho de uma ponta de caneta esferográfica). O balão é colocado entre 26 e 28 semanas e retirado entre 32 e 34 semanas.

AM – A correção, quando feita de forma correta, é totalmente eficaz ou fica alguma sequela?

Renato Sá – Na maioria dos casos é totalmente eficaz. As sequelas podem estar relacionadas ao desenvolvimento dos pulmões.

AM – Para mães que receberam já esse diagnóstico, o que você diria sobre o futuro de seus bebes?

Renato Sá – O acompanhamento pré-natal adequado e o seguimento em um serviço de medicina fetal são essenciais para orientar o tratamento correto e a melhor conduta em cada caso. Apresar de ser um problema grave, na maioria das vezes o tratamento é muito bem sucedido.

AM – Mais alguma informação que queira adicionar?

Renato Sá – Este diagnóstico geralmente é feito no ultrassom morfológico. Portanto a gestante deve estar atenta ao período adequado para fazer este exame (entre 20 e 24 semanas). Hoje existem muitos recursos para ajudar o bebê ainda dentro do útero, mas é importante que o diagnóstico seja feito de maneira oportuna e também o encaminhamento a um serviço de medicina fetal para orientar o tratamento.

 

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Priscila Correia

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