Aventuras Maternas

A vitamina do Sol

sol

Ser mãe não é fácil. Além de todos os compromissos diários, preocupações com educação, alimentação e/ou alguma doença que possa aparecer, mesmo que um “simples” resfriado, há, ainda, alguns problemas de saúde que podem ser imperceptíveis em um primeiro momento, como a falta de alguma vitamina. Uma delas é a vitamina D, ou vitamina do sol, como alguns chamam. A vitamina D regula a absorção de cálcio e fósforo, ajuda a manter o cérebro funcionando, fortifica ossos, dentes e músculos, e é extremamente importante na prevenção da osteoporose.

Na vida das crianças, sua importância é fundamental. Por isso, conversamos com a pediatra, alergista e imunologista Luciana Canela, que é Coordenadora da Pediatria do Hospital Real D’Or; e com a obstetra Glaucimara Nunes, Coordenadora de Obstetrícia do mesmo hospital.

AM – Qual é a importância da vitamina D para as crianças?

Luciana Canela – A Vitamina D tem um papel fundamental no metabolismo de cálcio e na saúde óssea das crianças, participando no processo de absorção de cálcio no intestino e na reabsorção de cálcio nos ossos. Níveis adequados de cálcio e de vitamina D são necessários para uma boa formação do esqueleto e para um adequado crescimento infantil. Nos últimos anos, surgiram estudos mostrando possíveis benefícios (não totalmente definidos) em doenças não ósseas, como doenças respiratórias, atopia, asma, esquizofrenia, modulação do risco de doenças cardíacas, neoplasias, esclerose múltipla, obesidade, asma e diabetes tipo 1.

AM – O nível ideal de vitamina D para crianças varia de acordo com a idade? Fale sobre isso.

Luciana Canela – A ingestão diária recomendada de vitamina D pelas crianças varia de acordo com a faixa etária, mas o nível ideal de vitamina D, avaliado através da dosagem no sangue de 25-Hidroxi Vitamina D, é o mesmo. A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Pediatria consideram deficiência quando as concentrações de 25-Hidroxi Vitamina D estão abaixo de 20 ng/mL.

AM – Quais as doenças associadas a falta de vitamina D nas crianças?

Luciana Canela – As principais doenças estão associadas ao metabolismo do cálcio.  A deficiência de vitamina D pode levar a alterações de crescimento durante a infância e, quando grave, ao raquitismo. Podemos encontrar também hipocalcemia, hipofosfatemia e osteomalácia. A relação existente entre deficiência de vitamina D e outras doenças ainda não está completamente definida.

AM – Antes que alguma doença se instale, o corpo dá algum sinal sobre essa deficiência?

Luciana Canela – A deficiência de vitamina D pode não dar sintomas, na fase inicial. Os sintomas podem demorar meses para aparecer e vão depender do conteúdo de cálcio na dieta, do grau de deficiência da vitamina D e da velocidade de crescimento da criança.

AM – Se expor ao sol diariamente realmente faz a diferença? A partir de qual idade a criança pode se expor e por quanto tempo?

Luciana Canela – A Vitamina D é produzida primariamente na pele após exposição à radiação ultravioleta e só 10% vem da dieta. Por esse motivo, a exposição ao sol faz diferença mas deve ser feita sempre de forma segura, evitando os horários de maior incidência de radiação ultravioleta e com uso de protetor solar. Dessa forma, a Academia Americana de Pediatria não recomenda a exposição direta ao sol para os menores de 6 meses de idade. É difícil definir a quantidade de exposição solar necessária para prevenir a deficiência de vitamina D, pois vários fatores irão influenciar na produção desta vitamina pela pele, como: o momento do dia em que essa exposição vai ocorrer, a estação do ano, a quantidade de melanina presente na pele da criança, entre outros.

AM – Ainda sobre o sol, deve-se expor a criança com ou sem protetor solar?

Luciana Canela – A exposição segura ao sol se faz com o uso de protetor solar, liberado para maiores de 6 meses de idade. Os filtros solares não impedem completamente a produção cutânea de vitamina D. Com relação ao horário de exposição ao sol, antes das 10 e após as 15 horas, horário considerado mais seguro para a exposição, o ângulo de incidência é mais oblíquo, e, por isso, menos vitamina D3 é sintetizada pela pele. Por outro lado, a exposição ao sol no período das 10 às 15 horas está associado ao aumento no risco de câncer de pele na vida adulta. Então, considerando o risco/benefício da situação, a exposição deve ser sempre feita com filtro solar, para prevenir o câncer de pele.

AM – Além do sol, quais alimentos são indicados para repor ou manter os níveis de vitamina D?

Luciana Canela – Os principais alimentos que contêm vitamina D são óleo de fígado de peixe, peixes como sardinha, salmão e atum, gema de ovo e fígado. Os peixes gordos possuem vitamina D em baixa concentração. Os laticínios são importante fonte de cálcio, que deve ter seu consumo estimulado para a manutenção da saúde óssea. No caso de deficiência de vitamina D, não conseguimos fazer a reposição somente com alimentos, sendo preciso fazer a suplementação.

AM – Diz-se que a vitamina D previne alguns tipos de câncer. Algum tipo de câncer associado a crianças?

Luciana Canela – Como falamos, considerando o possível efeito imunomodulador da Vitamina D, existem estudos em várias doenças, inclusive em câncer mas as evidências ainda não são totalmente conclusivas, especialmente na faixa etária pediátrica e os casos devem ser avaliados de forma individual.

AM – Para mães que moram em locais frios e sem sol, como fazer para recuperar a vitamina D dos filhos?

Luciana Canela – Nessas situações, em que a produção de vitamina D pela pele estará ainda mais reduzida, pela menor incidência de raios solares, é importante estimular o consumo dietético dos alimentos ricos em vitamina D (já mencionados) e suplementar a vitamina, quando for indicado, sempre com acompanhamento do pediatra.

AM – A falta da vitamina D enquanto criança, pode desencadear quais problemas quando crescerem?

Luciana Canela – Sabemos que níveis adequados de vitamina D e cálcio na infância previnem a ocorrência de osteoporose na vida adulta.

AM – Para mulheres que pretendem engravidar ou estejam gravidas, existe a necessidade de reposição por pílulas caso não peguem sol? Em caso afirmativo, por que?

Glaucimara Nunes – A Vitamina D é importante para todos, mas sua importância aumenta na mulher que pretende engravidar e para a gestante. Quando ela ainda não está grávida, medimos a dosagem da vitamina no organismo e só receitamos a reposição se houver necessidade. Porém, para mulheres grávidas a complementação dessa vitamina faz parte do protocolo de pré-natal.

AM – Os danos causados pela falta de vitamina D no organismo podem ser totalmente revertidos? Em crianças e adultos?

Luciana Canela – Precisamos entender que os danos normalmente ocorrem se houver deficiência de Vitamina D grave e prolongada. De forma geral, a deficiência de vitamina D, diagnosticada pelo exame de sangue, pode ser totalmente revertida, em crianças e adultos, através da suplementação oral da vitamina, na forma de gotas ou comprimidos, com doses e tempo de uso que serão avaliados caso a caso, pelo médico. Uma vez estabelecido o dano, com alteração do metabolismo ósseo, a reversão vai depender da gravidade. Por isso, é importante focarmos na prevenção a um possível dano, com a suplementação de vitamina D sempre que indicada.

AM – Mais alguma informação que queira adicionar?

Luciana Canela – Estudos, no Brasil e no mundo, mostram uma prevalência elevada de insuficiência e deficiência de vitamina D, em crianças e adolescentes. Crianças e adolescentes devem ser estimulados à prática de atividades ao ar livre e ao consumo regular de alimentos ricos em vitamina D. A deficiência de vitamina D, quando diagnosticada, deve ser tratada pelo médico, de forma correta, para garantir uma boa saúde óssea nesse grupo etário, prevenindo osteoporose e, possivelmente, outras doenças, na idade adulta.

 

 

 

Sobre o autor Ver todos os posts

Priscila Correia

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *