Paula Skoretzky, 42 anos, jornalista, mãe dos gêmeos Renato e Gabriel.
“Para começar, veio a notícia da gestação gemelar. Todos ficaram muito felizes, é claro. Só que, com o tempo, foi batendo a insegurança, pois sempre ouvimos que é gestação de risco. Com 22 semanas, tive que entrar em repouso absoluto, por conta do encurtamento do meu colo do útero, pelo peso dos bebês. Eu sou baixinha e meu marido alto. Os meninos tinham tamanho e peso de gestação única. Nasceram de 36s +1, de cesárea, e nem foram para a UTI. Três dias após o parto, viemos todos muito bem para casa. Aí, começaram as inseguranças naturais de toda mãe de primeira viagem. Eu sempre tive muita vontade amamentar e as perguntas começaram por todos os lados: “Mas você vai amamentar os dois no peito?”, “Não vai dar complemento?”, “Você vai dar conta? São dois, hein!”. E se os questionamentos já eram ruins, tudo ficou pior após a ida ao pediatra, no primeiro mês, em que foi constatado que eles tinham apenas retomado ao peso que nasceram, pois, como todos sabem, nos primeiros dias sempre perdem um pouco de peso. Recebi a visita de uma pessoa muito preocupada com a saúde e desenvolvimento dos meus filhos, mais jovem que eu, mas que, como já tinha filho, se julgava mais experiente. Ela me “aconselhou” a iniciar o uso de complemento, porque eles não estavam engordando como deveriam, afinal, “não tinham engordado nada”. Aí, eu ouvi assim “as mulheres da nossa família não costumam ter leite por muito tempo e você com dois pode não estar dando conta. Seu leite pode estar fraco para eles e, se ficar teimando em apenas dar de mamar, pode desencadear uma anemia nos seus filhos. É isso que você quer?”. E como sempre ouvi que a minha avó teve que dar minha mãe para uma “ama de leite” amamentar, porque o leite dela não era suficiente; minha mãe amamentou a mim e a minha irmã por apenas três meses, pois o leite secou; e minha irmã amamentou por quatro meses porque teve que voltar a trabalhar e, mesmo ainda tendo leite, estava com o seio muito machucado, fazendo ela desistir da amamentação por estar sofrido demais; como eu, depois de todo esse histórico familiar, daria conta? Quando essa pessoa foi embora, eu chorei muito, me senti péssima e resolvi conversar com uma amiga, especialista em amamentação, perguntando se esse histórico “genético” poderia ter alguma influência. Foi então que ela me disse que cada mãe é uma mãe e algumas nascem para amamentar e outras simplesmente não, e que, muitas vezes, isso depende apenas única e exclusivamente da vontade e empenho de cada uma. Me senti encorajada por ela e apoiada totalmente pelo meu marido, também fundamental nesse período. Nos meses seguintes, meus pequenos só engordaram. Hoje, com 21 meses, ainda a noite, seguimos com leite materno. Comecei uma complementação, apenas de manhã, há apenas seis meses, porque eu teria que me ausentar alguns dias por trabalho e seria complicado. Mas, até então, eles seguiam apenas com o meu leite e, claro, a IA que começamos aos seis meses como deve ser. Atualmente, um dos gêmeos dorme a noite toda, o outro ainda acorda algumas vezes para ser amamentado. Sei que não é fome, é mais “aconchego” mesmo. É cansativo, obviamente, mas me mantenho firme no propósito. Sei que muitas vezes as pessoas não falam por mal, nos veem cansadas e imaginam estar ajudando, mas não concordo com algumas coisas que escuto. Há alguns dias, perguntaram por que eu não desmamava eles de vez, dando uma mamadeira bem pesada com alguma farinha, tipo aveia ou maisena, para ver se eles dormiam a noite toda e, assim, eu poderia dormir também. Como eu disse, sei que a pessoa está pensando em mim e quer me ajudar, quer meu bem, mas não vejo isso como bom para os meus filhos. Claro que também passei pelo famoso “Você não vai dar conta da casa e filhos.”, “Vai deixar eles dormirem na sua cama? Ih, se acostumar, você está lascada.”, coisas assim. Sempre tentamos filtrar as coisas que escutamos aqui em casa, afinal, acreditamos ser o melhor para o bem de todos.”