Náuseas e vômitos desencadeados quando bebês e crianças maiores se encontram em veículos em movimento é uma resposta fisiológica que tem o nome de cinetose ou, do inglês, “motion sickness”, que significa enjoo de movimento.
A cinetose pode ocorrer em resposta ao movimento real, mas também pode se manifestar frente ao movimento virtual (sensação de movimento quando na verdade é o campo visual que se move dando uma falsa sensação). O conflito que desencadeia este tipo de resposta ocorre no cérebro, em áreas especificas, conhecidas como hipocampo e córtex vestibular, responsáveis pela construção de mapas e modelos internos de movimento, baseados em experiência prévia.
Especialista em Otorrinolaringologia e Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Jeanne Oiticica explica que as aferências viscerais, térmicas e neuroendócrinas participam do fenômeno. “Trata-se de predisposição de herança genética, algumas crianças são mais predispostas que outras. Ele pode persistir na vida adulta e possui associação direta e frequente com enxaqueca. Mas não é uma doença, e, sim, um fenômeno, uma tendência à resposta fisiológica mais exacerbada frente aos estímulos de movimento”, conta a médica.
Confira, abaixo, o que fazer diante de uma criança com cinetose:
Como os pais podem perceber que o bebê tem enjoo ao andar de carro?
Jeanne Oiticica – Ele ocorre e se manifesta especificamente em situações de veículos em movimento (carro, ônibus, barco, brinquedos de gira-gira). Palidez, sudorese fria, apatia, hipotensão, bradicardia (redução da frequência cardíaca), náuseas e vômitos fazem parte dos sintomas. No caso da criança, esta pode referir ainda cefaleia e tontura.
Além dos remédios para enjoos, o que é possível fazer para minimizar os sintomas?
Jeanne Oiticica – Exercícios de habituação por meio de reabilitação vestibular (tratamento que estimula as estruturas implicadas no equilíbrio) estão indicados; evitar os gatilhos, como privação do sono antes de se submeter ao estímulo nauseante, abusos alimentares como doces, café, álcool, sal em excesso; propiciar ambiente com música relaxante durante a viagem; não fumar perto da criança. orientar que o menor procure respirar profunda e lentamente; dieta proteica 30 minutos antes de entrar no veículo em questão; e reposição de vitamina C também podem ajudar.
Por que, geralmente, viajar no banco de trás do carro enjoa mais do que no da frente?
Jeanne Oiticica – Porque no banco de trás do carro o conflito é maior do que na frente, os estímulos visuais aumentam e você perde a referência do horizonte à sua frente.
Como a criança maior, ao perceber que vai passar mal, pode evitar esses enjoos? Alguma dica?
Jeanne Oiticica – Procurar fixar o olhar e focar em um objeto ou ao horizonte à sua frente. Respirar profunda e lentamente. Evitar o contato visual com estímulos, imagens e objetos em movimento, como celulares e vídeos. Hoje em dia, é muito comum usar uma tela com DVD para filmes e programas infantis na cabeceira dos bancos dos carros. Não para todas as crianças, mas para aquelas com cinetose este pode ser um gatilho para crise, em especial se o veículo trafegar por estradas irregulares, o que acaba por gerar oscilação das imagens na tela.
É possível fazer tratamento para esse tipo de desconforto?
Jeanne Oiticica – Sim, existem exercícios físicos conhecidos como reabilitação vestibular, que servem para fortalecer o ganho dos reflexos do labirinto e habituar o indivíduo portador de cinetose, minimizando os sinais e sintomas frente aos estímulos provocadores. Além disso, pode-se usar medicamentos, tanto para crise aguda, quanto os profiláticos (para prevenir, reduzir a intensidade e a frequência dos episódios). Evitar gatilhos também é uma estratégia fundamental, como privação do sono e determinados alimentos.
Informações: Assessoria de Imprensa