A conexão estabelecida entre as pessoas e os sons é tão primordial que se inicia antes mesmo do nascimento. Sabe-se que a formação das estruturas auditivas no bebê se dá logo nos primeiros meses de gestação, o que aponta uma relação muito íntima e sensível do ser humano com essa forma cognitiva. Nesse período, o bebê tem contato com a sua primeira referência de ritmo musical: o batimento cardíaco materno.
Antes de nascer, ele já aprecia as batidas do coração da mãe, o timbre da sua voz e após o sistema auditivo estar formado, todo o repertório musical e os sons com os quais a mãe tem contato. São muito comuns os relatos de mães sobre movimentos e respostas de seus bebês a estímulos sonoros específicos. A audição, portanto, assume papel de protagonista nos primeiros processos cognitivos deste novo ser e segue, significativamente, como processo ativo de cognição no desenvolvimento integral da criança.
Sabemos que, para uma criança aprender a falar, precisamos conversar com ela. Com o desenvolvimento da linguagem musical se passa o mesmo: o gérmen da comunicação é a escuta. Podemos “conversar musicalmente” com uma criança de diversas formas: cantando, tocando instrumentos, ouvindo músicas com ela… O importante é que, ao longo do tempo, essa escuta vá se dando de maneira consciente, o que chamamos de escuta ativa.
Na primeira infância, a criança vai construindo um repertório de sons sem sentido semântico, o balbucio, que funciona como ponte entre escuta e fala, o que ocorre ainda nos primeiros meses de vida. Conforme os estímulos aos quais a criança é exposta, o balbucio pode assumir significado musical intencional. Nessas trocas musicais entre balbucio, som, música e palavra são criados vínculos afetivos entre criança, música, outras crianças e todos que estão ali envolvidos.
A educadora Teca Alencar de Brito, em seu livro Música na Educação Infantil, aponta que a criança faz música brincando, sendo essa sua maneira de se relacionar com o mundo que descobre a cada dia. Nesse período, a criança se “transforma” em sons, aprende o gestual que envolve tocar um instrumento, traduz movimentos rítmicos através do corpo, pesquisa, constrói e descobre novos timbres e instrumentos, inventa e imita motivos melódicos e ouve com prazer a música de todos os povos. É na informalidade do brincar que reside a relação afetiva entre a criança e a música.
À medida que vão crescendo, a construção do social vai se tornando cada vez mais expressiva na vida das crianças. De maneira orgânica, a música também se faz presente no contato com o repertório, possibilitando conhecer diversas tradições musicais.
Atualmente, com a televisão e veículos de massa fortemente presentes nas culturas urbanas, a família e a escola têm a difícil missão de intervir e garantir que a música continue participando da nossa formação, de maneira que se faz importante ressaltar o valor do contato da criança com um repertório musical diversificado, caminhando entre a música erudita, popular e tradicional de todos os cantos do mundo. No contato com essa diversidade, nutrem-se na criança a reflexão e a autonomia, bem como a capacidade de construção de suas próprias hipóteses acerca do sentido da nossa e de outras culturas na condição de ouvinte, criadora e também produtora cultural.
Nas aulas de música da Eduque, os educandos experimentam e entram em contato com a música através de diferentes vivências lúdicas, do Berçário ao Ensino Fundamental. A roda de cantoria, a contação de histórias, as danças circulares, a experimentação e execução de instrumentos de percussão e a apreciação musical priorizando o ouvido ativo são algumas das formas em que a linguagem musical é trabalhada de modo que as crianças interpretem, criem e apreciem a arte dos sons. Todas essas vivências são proporcionadas aos alunos tendo como base diferentes repertórios musicais, indo da música clássica à música popular brasileira, bem como canções oriundas de outros países, como Japão, Gana, África do Sul, Estados Unidos, além de canções indígenas.
Independentemente do contato musical da criança acontecer através da família, da vivência escolar ou mesmo do convívio social cotidiano, é fato que desde a nossa gestação a música e o mundo dos sons interferem no que somos. Portanto, por que não pensar, refletir e questionar qual repertório sonoro e de que forma nós o proporcionamos para as nossas crianças? Assim como nós, as elas entrarão em contato com muitas músicas através da internet, espaços públicos e demais convívios sociais, por que não tentar possibilitar uma apreciação musical realmente diversificada e rica em casa e na escola? São perguntas que talvez nos ajudem na preciosa e difícil missão de educar nossas crianças musicalmente.
Informações: Assessoria de Imprensa