Roberta Desnos, psicóloga e coordenadora pedagógica do Laboratório Inteligência de Vida – LIV, dá dicas para os pais.
DIÁLOGO: Converse com as crianças de maneira tranquila e honesta e de acordo com a capacidade de compreensão de cada idade. Não infantilize a criança ou desconsidere sua percepção da realidade. As crianças estão passando por esse período de distanciamento social e também tiveram suas vidas alteradas, portanto também precisam ser consideradas como sujeitos. No que tange a pandemia, possivelmente elas já ouviram falar sobre o vírus, explique as situação sem cair em exageros, ou sendo otimista demais. Aproveite para explicar as medidas de cuidado e prevenção, esclareça as possíveis dúvidas e deixe que elas se expressem livremente. No caso dos menores essa conversa pode ser acompanhada por um convite para desenhar, o vírus, seus medos, seus desejos pós pandemia, a própria família e etc,
Reforçar que essa situação é passageira que elas não estão sozinhas e podem contar com o seu cuidado como adulto, é muito valioso. O tempo todo as crianças estão fazendo leituras e tentando compreender o mundo e muitas vezes se sentem responsáveis ou culpadas ao perceber que algo está errado. Converse com seu filho e filha sobre o que está acontecendo e sempre pergunte suas opiniões e versões sobre o que ele/ela acha que tudo isso significa.
REGRAS E ACORDOS: Revisite de tempos em tempos as regras e acordos que foram estabelecidos na dinâmica familiar. Acreditar que as regras anteriores a pandemia podem continuar sendo seguidas sem alteração é um forte equívoco. As rotinas foram alteradas drasticamente, e por isso de tempos em tempos é preciso rever o que foi combinado com as crianças e fazer as adaptações necessárias para diminuir os possíveis conflitos gerados pela intensidade da presença e a restrição de saídas e deslocamentos.
ROTINA- Estar atento a organização da rotina familiar é uma boa estratégia para lidar melhor com esse momento de distanciamento social. Planejar o dia e as atividades que serão realizadas, ajuda a criança a ter um ambiente seguro e previsível e isso favorece a prevenção/diminuição de sintomas como estresse e ansiedade. A previsibilidade é um aliado para a organização psíquica das crianças, estabelecer horários para dormir, acordar, fazer as refeições, assim como as atividades escolares e de lazer, podem promover maior bem estar em todos os membros a família. Não é preciso ser algo extremamente rígido, mas estabelecido de modo a favorecer a dinâmica da casa.
MOMENTOS DE LAZER- É preciso preservar o brincar durante a quarentena. Aqui me refiro tanto a brincadeiras e jogos estruturados e direcionados, como momentos de livre brincar. As crianças precisam se movimentar e por conta da diminuição considerável das atividades físicas, não podemos neglicenciar o corpo nesse momento tão atípico, se possível faça jogos e circuitos para que as crianças pulem, dancem, corram e etc. Investir em atividades artísticas como pintura, desenho, contação de histórias é fundamental para as crianças darem vazão ao que estão sentindo também.
DESCANSO: É muito importante assegurar momentos dedicados ao descanso e ao ócio. Crie hiatos entre duas atividades, para não fazer nada por um breve instante. Lidar com o tédio é um aprendizado importante e que pode se rico para o desenvolvimento do auto-conhecimento, a gestão das emoções e o desenvolvimento do potencial criativo. Não crie agenda de ministros para as crianças.
AUTONOMIA: Aproveite esse momento da quarentena para investir na autonomia da criança, estimule atividades e depois deixe a criança brincar sozinha. Identifique junto com ela quais são as ações que são possíveis serem realizadas sem a intervenção ou ajuda de um adulto (se vestir, escovar os dentes, tomar banho, preparar um lanche, organizar o material escolar, organizar os próprios brinquedos e etc)
TAREFAS DOMÉSTICAS- Inclua as crianças na realização das atividades domésticas. Além de ajudar a desenvolver a autonomia, isso aumentará o senso de responsabilidade e pertencimento. Esse tipo de fazer colaborativo favorece a manutenção dos vínculos familiares. Esteja atento a faixa etária e as habilidades e possibilidades de cada criança, respeitando o que conseguem fazer com segurança. Adapte ou crie sub divisões dentro de uma tarefa: Arrumar a própria cama, colocar a roupa para lavar, dobrar, organizar nas gavetas, cozinhar juntos, regar as plantas, são todas atividades que podem fazer parte da rotina.
USO DE TELAS: O uso das telas (televisão, smartphones, tablets e computadores) tem sido fundamental nesse momento para a realização das atividades escolares, assim como na manutenção dos laços sociais e afetivos das crianças, porém esteja atento ao tempo de exposição e a adequação e qualidade do conteúdo articulado com a faixa etária. Nesse momento flexibilizar o uso das telas é algo necessário, mas é preciso estar atento ao tempo adequado de acordo com a idade da criança e e evitar uso, sobretudo nas horas que antecedem o sono.
SONO: Ajude seu filho ou filha a garantir a qualidade/quantidade necessária de sono por dia. Invista na higiene de sono, assegurando sonecas ao longo do dia (se forem bebês ou crianças pequenas), estabeleça rituais de sono que ajudam a criança a fazer a transição gradativa do estado em alerta para o sono, faça adequações necessárias no ambiente em que a criança dorme ( pouca luminosidade, aparelhos eletrônicos fora do ambiente ou desligados).
REDE SOCIAL: Estimule que a criança mantenha algum tipo de contato com as crianças e adultos que fazia parte da sua vida antes da pandemia. As crianças interagem de uma maneira muito peculiar, é importante respeitar isso. Nós adultos entendemos que a interação on-line passa necessariamente pela conversa, a criança pode querer jogar um jogo com o amigo. Outro exemplo clássico é quando em uma chamada as crianças brincam, cada uma em sua casa, ambas com a webcam ligada, e de tempos em tempos interagem verbalmente e mostram seus brinquedos ou produções, isso também é troca e precisa ser respeitado.
HUMANIZE-SE: Os adultos nesse momento são os filtros das crianças e a depender da maneira com a qual lidamos com essa situação, ela impactará diretamente o comportamento das crianças. Isso não significa dizer que precisamos ocupar o papel do super heróis. Mostrar que você também fica preocupado em alguns momentos, que sente saudade das pessoas que não pode ver e que experiência tristeza e alegria, assim como ela, fará com que ela não se sinta só em sua experiência de desconforto e entenda que essas oscilações são naturais face ao momento atual. Vulnerabilizar-se é mostrar-se para o outro, no caso do seu filho ou filha, que somos humanos, que temos sentimentos e sensações agradáveis e desagradáveis e que está tudo bem e como lidamos com isso é que a grande questão.
Informações: Assessoria de Imprensa.