A pandemia acelerou um processo de mudança na educação considerado necessário e positivo por especialistas da área. A necessidade de interromper as aulas presenciais e migrar para o ensino remoto ampliou questionamentos sobre o papel do profissional da educação e o que se espera da escola. “Ficou ainda mais claro que uma sala de aula proporciona o que a internet não é capaz de fazer: a interação real entre as pessoas. Apenas presencialmente é possível fazer a leitura de emoções faciais e proporcionar um aprendizado com emotividade. Aquele contato quase inexplicável que flui entre seres humanos que se veem ao vivo e que não flui quando se veem através de uma tela por uma série de motivos. Tem a ver com a capacidade de ver microexpressões no rosto e de perceber gradações da voz, por exemplo”, pontuou o historiador Leandro Karnal durante um debate sobre o Futuro da Educação, promovido recentemente pelo Grupo Super Cérebro.
Na opinião de Karnal, a crise instaurada pela Covid-19 tornou mais rápida a mudança daquilo que já não tinha sentido antes da pandemia. “O desafio que estamos enfrentando começou antes de março de 2020. Existe uma defasagem entre o que eu ensino e a demanda do mundo. O que esses alunos podem precisar em 2050 quando a tecnologia será outra? É fundamental refletirmos sobre como estamos trabalhando competências socioemocionais, a convivência com a diversidade, a curiosidade, a capacidade autônoma de pesquisa, enfim, aquilo que sempre será útil. O ser humano é absolutamente único. A escola exige algumas inteligências, mas não todas. Mesmo diante de tanta evolução tecnológica, quero que meu aluno pense. Que aprenda a ler e escrever imagens, textos e situações. Que seja capaz de analisar e argumentar, que aprenda ferramentas que independentemente do futuro sejam úteis, como capacidade de pesquisa, de interação, negociação, convencimento, enfim, habilidades validadas.”
Desenvolver as competências socioemocionais, também chamadas de soft skills, é o verdadeiro caminho para a educação do futuro de acordo com os especialistas. Além de Leandro Karnal, a neuropsicopedagoga Renata Aguilar, o presidente do Instituto Casagrande, Renato Casagrande e os diretores do Grupo Super Cérebro Patrícia Gamba e Ronaldo Hofmeister defendem a importância dessas habilidades na formação integral do ser humano.
A educação socioemocional começou a ganhar espaço nas discussões no meio educacional quando estas habilidades foram incluídas na Base Nacional Curricular de Ensino, a BNCC, em 2020. A neuropsicopedagoga Renata Aguilar explica que todos nós nascemos com as mesmas emoções básicas (alegria, raiva, tristeza, euforia), mas vivenciamos experiências diferentes. “Lidar com tudo isso é pensar que a emoção modula a cognição. O futuro da educação está baseado no aprendizado de competências como empatia, inteligência social e emocional, capacidade de enxergar o contexto e os problemas enfrentados.”
De acordo com Renata, essas habilidades podem e devem ser desenvolvidas desde a primeira infância. “Como resultado, teremos crianças, jovens e adultos mais fortes e confiantes do ponto de vista emocional e com um olhar mais altruísta, voltado para o próximo”, diz ela, que é também autora da coleção de apostilas “Socioemocional”, do Grupo Super Cérebro.
Para a neurociência, o cérebro é o condutor da aprendizagem, mas existe uma linha tênue entre a razão e a emoção. “A educação, a memória e a aprendizagem passam pelo filtro da emoção. Por isso é tão importante desenvolvermos as habilidades socioemocionais. O nosso cérebro tem neuroplasticidade, que é a capacidade de se adaptar ao longo das experiências vividas e dos aprendizados. O processo de aprendizagem consiste em sinalizar ao cérebro que determinada informação é importante e precisa ser devidamente armazenada para cumprir. Para que esse aprendizado ocorra com qualidade e eficiência, é preciso que o cérebro seja devidamente estimulado de maneira principalmente criativa”, explica a neuropsicopedagoga.
O que são habilidades socioemocionais?
A educação socioemocional é um caminho para que os alunos consigam aprender, dentro do próprio ambiente escolar, como gerir bem suas emoções. Os indivíduos que são desenvolvidos dessa maneira são desafiados a administrar melhor seus pensamentos também. Além de aprenderem a lidar com as adversidades e compreenderem que não é sempre que as coisas acontecem da forma como querem, mas mesmo assim aceitam bem e sabem como reagir a cada uma dessas situações.
Habilidades socioemocionais gerais indicadas pela Base Nacional Comum Curricular:
Valorização e utilização de conhecimentos construídos no mundo físico, social e cultural;
Exercícios de curiosidade intelectual e uso de abordagens próprias para investir e elaborar hipóteses;
Compreensão das relações do mundo de trabalho e tomada de decisões alinhadas ao projeto de vida pessoal, profissional e social;
Argumentação com base em fatos, dados e informações confiáveis para formular, negociar e defender ideias e pontos de vista;
Autoconhecimento e reconhecimento de suas emoções e dos outros, com capacidade de lidar com elas e com a pressão do grupo;
Exercício da empatia, diálogo, resolução de conflitos e cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo respeito ao outro;
Ação pessoal e coletiva com autonomia, responsabilidade, resiliência, flexibilidade e determinação.
Informações: Assessoria de Imprensa.