Educar as crianças não é uma tarefa tão fácil como muitos pensam. E, claro, em uma realidade em que a maioria dos pais trabalham fora e tentam recompensar os filhos de diversas maneiras, os pequenos “respondem” à situação de formas que nem sempre o pai e a mãe sabem lidar.
Afinal, como diferenciar um ataque de fúria de uma birra? Como lidar com essas situações?
A psicóloga Deise Moraes Saluti, que também é neuropsicopedagoga, fala sobre o assunto. Confira!
Quais são as principais características do “ataque de fúria” em crianças pequenas?
Deise Moraes Saluti – Eu vou sempre dizer que todo comportamento é secundário. Precisamos buscar os gatilhos, entender os porquês, analisar históricos, ponderar o ambiente e buscar o comportamento primário à ação.
Só a avaliação por um comportamento é errado, precisa-se observar todo o comportamento dos pais ou cuidadores responsáveis por essa criança para, então, tentar entender o episódio.
Como diferenciá-lo da birra?
DMS – A birra é um comportamento muito mais emocional, respondente a uma negação de atenção dos pais. Isso porque, onde a criança acredita que chorando, ficando isolada, se negando a olhar ou a comer, com esses episódios ela pode chamar a atenção dos pais na tentativa de conseguir algo, como uma recompensa pela sensação de abandono.
O que é o Transtorno Explosivo Intermitente (TEI)? Como ele se difere dos episódios de raiva naturais das crianças?
DMS – Não é qualquer pessoa que consegue avaliar esses tipos de comportamento, nem os pais são capazes de dizer se é apenas uma birra ou um transtorno. Mas, calma, em qualquer um dos casos, um profissional da psicologia comportamental e da terapia ocupacional infantil poderá auxiliar e direcionar os pais a um caminho que atenue essas questões da criança.
Não podemos afirmar que seja só uma birra, ou seja, ninguém poderá julgar o sentimento dessa criança e muito menos o que ela está pensando.
Quando os conflitos se externalizam é quando acontece o Transtorno Explosivo Intermitente (TEI), um transtorno que se instalou diante a uma sequência de sentimentos de insegurança.
Resumindo: o Transtorno Explosivo Intermitente é a explosão dessas inseguranças.
Esses ataques de fúria são mais comuns em alguma faixa etária?
DMS – A fúria não pode ser avaliada sem um tratamento psicológico e psiquiátrico. Já a birra, em qualquer criança de 18 meses a 3 anos, é consideravelmente normal.
Entretanto, qualquer anomalia dentro desse período precisa ser investigada por um profissional.
Como os pais devem reagir quando esses episódios acontecerem? Por exemplo, o que não dizer ou fazer?
DMS – Os pais devem proporcionar muito amor, carinho, se dedicar sem algo que possa dividir a atenção, como um celular, por exemplo.
Vale ressaltar que não existe uma criança que não perceba que está sendo ignorada. Acredite, toda falta de atenção que esta criança receber, ela irá reivindicar.
Criança precisa de atenção, necessita que os pais separem um tempo exclusivo. Não é comum para qualquer pessoa se sentir rejeitada, ignorada, portanto, para as crianças também não é diferente.
Uma dica: papais e mamães, lembrem-se sempre de que os pequeninos não pediram para vir ao mundo, mas sim, vocês os desejaram, vocês os planejaram de alguma forma, ou, em uma hipótese de não ter desejado seu bebê, você decidiu tê-lo e cuidá-lo.
Então, faça da melhor maneira possível, pois caso você não corresponda às emoções do seu filho, ele poderá crescer um adulto extremamente triste, que não aprenderá a amar, assim como você não demonstrará seu amor. Cuidar é um ato de amor!
Quais são algumas dicas de atitudes construtivas para que as crianças elaborem essa raiva e não “carreguem” para as próximas fases da vida?
DMS – A busca por apoio psicológico é fundamental para as crianças trabalharem suas emoções.
Por isso, os pais precisam passar para os seus pequenos que eles os amam, mas que podem estar vivenciando uma fase difícil e que não tem nenhuma ligação com o amor que eles sentem por seus filhos.
Todo adulto que fere seu filho certamente foi ferido por seus pais também.
Sendo assim, precisamos parar com os ciclos de violência, agressividade, narcisismo, alienação de nossos históricos adoecedores e aprender com o amor que os filhos trouxeram.
Afinal, eles já nos ensinam desde os primeiros batimentos cardíacos que a vida é um ciclo, que uns ciclos se encerram para outros começarem, e é com esse amor que aprendemos a nos dedicar para nossos bebês, até que o amor seja suficiente para ser distribuído pelo mundo.
Informações: Assessoria de Imprensa.