Em maio deste ano, uma criança de um ano e três meses morreu após engasgar-se em uma creche, em Petrópolis, no Rio de Janeiro. No início desse mês, a polícia concluiu o inquérito do caso. Entre os erros apontados estão o despreparo técnico da equipe de colaboradores da creche. Por isso, saber como realizar os primeiros socorros durante um processo de engasgo é essencial para salvar a vida de um bebê. A médica com pós graduação em pediatria Ana Jannuzzi explica que nos casos de engasgo em bebês é essencial saber como fazer a Manobra de Heimlich.
Estatísticas recentes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) estimam que 15 bebês morrem engasgados por dia, durante o ano de 2022. Já um estudo mais abrangente do Sistema Único de Saúde – SUS, mostrou que entre 2009 e 2019, o número de mortes por engasgo notificados em crianças de 0-9 anos de idade, no Brasil, foi de 2.148 óbitos. Do total de mortes, 72% foram bebês menores de 1 ano, e 21,6% crianças de 1 a 4 anos. O local onde ocorreram os engasgos que levaram a morte dos bebês são variados, mas em 35,98% dos casos foi no domicílio da família, e em 4,14% em outros locais. A ocorrência de mortes por engasgo com alimentos, como ocorreu no caso da bebê de Petrópolis – que se engasgou com uma maçã, é uma das ocorrências predominantes (84,6%), sendo 78% em bebês menores de 1 ano.
A faixa etária que tem maior risco de engasgos é o das crianças abaixo de 4 anos. Isso porque elas têm o maior hábito de levar objetos na boca. Elas também não têm ainda os dentes molares, que servem para a mastigação de certos alimentos. Além disso, ainda falta a elas o mecanismo de coordenação da deglutição aprimorado. Junto a tudo isso, a laringe que é mais elevada e o reflexo de tosse que ainda não está plenamente desenvolvido. “Sabendo destes fatores, tão fundamental quanto saber resolver um engasgo é saber como diminuir seus riscos. Algumas medidas de proteção contra engasgos são: evitar a introdução alimentar antes dos seis meses da criança, não oferecer alimentos redondos (cortar em quatro pedaços, na vertical), não alimentar a criança.na frente da televisão ou celular, para que ela não se distraia durante a refeição, evitar alimentos muito duros e difíceis de cortar com o dente, ter atenção aos pequenos objetos que podem se soltar e serem levados à boca”, alerta a médica.
Familiares e educadores não sabem como resolver e identificar o engasgo
O estudo do SUS também revelou um desconhecimento dos sinais que indicam engasgo nas crianças. Isso porque 41,8% das mães disseram que não reconheceram a crise de tosse como uma das manifestações do engasgo. Outra questão é o despreparo para lidar com a situação. Quando o público são os profissionais de saúde, 70% disseram não saber o que fazer quando presenciaram um engasgo (mesmo os que já tinham participado de treinamentos). Os dados sobre a porcentagem de cuidadores em escolas, e pais que não sabem como fazer a Manobra de Heimlich são escassos. No entanto, é interessante observar um estudo feito por membros da Universidade Federal de Mato Grosso, e veiculada na Revista Brasileira de Enfermagem. Os dados, de 2018, mostraram que 56,8% dos profissionais de educação não tinham nenhuma capacitação sobre o tema de primeiros socorros. Entre as situações que necessitavam de treinamento, para estarem aptos a saber como agir, estava a situação de engasgos de bebês.
“É importante identificar os sinais de engasgo. O bebê fica arroxeado, não consegue emitir sons, fica paralisado e faz uma cara de desespero. No caso de um engasgo parcial, pode haver uma crise de tosse. Identificados esses sintomas, ele precisa de ajuda imediata. Não adianta soprar o bebê, colocar os braços dele para cima ou gritar com a criança. Isso tudo só piora a situação e você perde tempo. E sabemos que nesses casos tempo é essencial. No caso da bebê de Petrópolis, o inquérito concluiu que o despreparo da creche e os 11 minutos que demorou para a bebê ser levada a UPA foram decisivos no óbito da criança. O primeiro passo é sempre manter a calma e pedir ajuda. Grite. Chame os vizinhos. Avise sobre o engasgo. E comece a realizar a manobra ao passo que você se dirige para um local de saúde. Se você já conhece a manobra, antes mesmo que ocorra algum caso de engasgo, teste o procedimento para ter certeza de que você sabe o que fazer”, conclui Jannuzzi.
Como socorrer bebês engasgados
Ana Jannuzzi divulgou um vídeo sobre como fazer a Manobra de Heimlich, em suas redes sociais. O interesse sobre o tema foi tamanho, que a publicação já chegou a mais de 8 milhões de visualizações: https://www.instagram.com/reel/Cfl6R48FvOL/?igshid=NWRhNmQxMjQ=. Outra fonte de pesquisa é uma cartilha, feita pela Universidade de São Paulo, que ensina os cuidadores o que fazer caso uma criança engasgue: https://gruposdepesquisa.eerp.usp.br/gpecca2/wp-content/uploads/2014/06/oque_fazer_quando_seu_bebe_engasgar.pdf
Informações: Assessoria de Imprensa.