Aventuras Maternas

Um café para parecer gente grande… Pode?

Foto de um experimento com crianças x café feito pelo Buzzfeed

Foto de um experimento com crianças x café feito pelo Buzzfeed

Meu filho completou 5 anos e no dia seguinte virou para mim com a seguinte pergunta: “Agora que tenho 5 anos, posso tomar café?” A resposta foi “Não” só de pensar na aceleração extra que meu pequeno receberia no restante do dia, mas ao mesmo tempo percebi que como boa espectadora de “Gilmore Girls”que sou, estou longe do “siga meu exemplo”, porque da mesma forma que evito refrigerantes e outros vícios, não consigo passar nenhum dia sem pelo menos meia caneca de café.

Pois bem, fui atrás então da opinião de outras mães e enquanto o texto não ficava completinho, testemunhei, inclusive, crianças bem pequenas com seu copo de Starbucks pelas ruas. O fato é que o hábito de tomar café pode não ser uma preocupação constante para os pais, mas merece atenção especial. Embora seja um ritual natural para algumas famílias, é preciso ficar atento quanto à quantidade ingerida. Segundo Cristina Makarenko, médica pediatra sócia da HomePed, não há pesquisas sobre o efeito da bebida em crianças. Entretanto, somente a partir de dois anos pode-se oferecer uma pequena quantidade. “Não há estudos científicos sobre o quanto pode ser ingerido, porém, aceita-se, a partir de dois anos, meia xícara de café, misturado com água ou leite.”, explica.

O sabor amargo, em geral, é de aceitação mais difícil pelas crianças, que têm maior palatabilidade por alimentos doces. Mas, então, porque acabam desenvolvendo esse hábito? A geógrafa Clê Dias, fala que sua filha, hoje já adulta, sempre pedia para beber café quando criança porque via os pais, tios e avós com xícaras nas mãos. “Minha sogra, então, comprou um aparelho de chá para ela e servia o café bem diluído em água. Porém, com o tempo, percebemos que ela não gostava tanto, já que abandonou a bebida assim que entrou na adolescência. Na realidade, ela só queria ser igual ao resto da família e participar dos encontros como nós.”. Já a empresária Andréa Vieira conta que a filha mais velha, de 13 anos, adora café. “Ela começou a tomar aos cinco anos e sempre gostou do sabor. E nunca houve nenhuma alteração no sono, nem dor no estômago”.

A fala de Andrea chama a atenção exatamente sobre alguns dos mitos que envolvem o costume de beber café: insônia e problemas gástricos. Cristina Makarenko diz que a cafeína é um estimulante do sistema nervoso central e, em excesso, pode provocar dificuldade em adormecer, aumento da diurese, aumento do ritmo cardíaco e ansiedade, mas também pode melhorar a concentração.

A nutricionista Carla Caratin, mãe do Valentim, de 5 anos, e Joaquim, de 2, explica que, além de ser estimulante, o que é extremamente desnecessário para as crianças, o café pode interferir na absorção de alguns nutrientes, como o ferro – sendo a anemia a deficiência nutricional mais presente nessa idade – e vitamina C e na retenção do cálcio. Além disso, é vasodilatador (aumenta a circulação sanguínea, acelera os batimentos cardíacos e a atividade cerebral), aumenta a secreção dos sucos gástricos (dores de estômago/gastrite) e pode ajudar na redução do apetite. “Vale ressaltar que, muitas vezes, é oferecido com o leite, mas esse cálcio tem sua retenção prejudicada. E a cafeína também está presente em outros alimentos que podem fazer parte da rotina da criança, como chocolate, refrigerantes e chás, potencializando seu efeito.”, lembra.

Não podemos esquecer, também, que, normalmente, os pequenos tomam a bebida adoçada com açúcar. E, em tempos de combate à obesidade infantil no mundo inteiro, é preciso levantar também essa questão. Alguns pais acabam inserindo o adoçante artificial já cedo à alimentação dos filhos. Entretanto, alerta Carla, este deve ser utilizado apenas em caso restritos. “O ideal é a adaptação do paladar para não haver a necessidade de adoçar alguns alimentos, como bebidas (chás, sucos, café) e frutas. Encontramos adoçantes em muitos alimentos industrializados e a maioria da população não tem essa informação, como, por exemplo, nas gelatinas não dietéticas, alimento com grande apelo entre as crianças. O uso de adoçantes deve ser feito com moderação entre os adultos – inclusive recomenda-se que sejam utilizados alternadamente – e evitado pelo público infantil, principalmente sem necessidade.”, complementa Carla.

Diante dessas informações, o ideal, pelo menos para mim, é não incentivar mesmo o primeiro contato dos mais novos com o café, para que eles não criem o hábito. Conclui o “Não” para meu filho, com uma frase com mais sentido. Desde os dois anos, ele ama chá. Mas não o preto que tem tanta cafeína quanto o café e sim, o de hortelã, camomila, maracujá com gengibre, com ervas que colhemos na nossa horta ou fazemos juntinhos passando pelo difusor. Então, a sequência foi: “Já que você tem 5 anos, vai poder preparar seu chá sozinho a partir de agora, com todo cuidado e supervisão da mamãe, claro!”. Mas acho que o importante da ideia é estimular um costume tão saudável, natural e que nos une, pois até abro mão do cafezinho da manhã, se tiver um bom chá para acompanhar. E aprendi a tomar sem açúcar com ele!

 

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Priscila Correia

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