Luiza*, 38 anos, fisioterapeuta, mãe de Laura* (os nomes foram trocados a pedido da entrevistada)
“Durante a minha gravidez, aconteceram algumas situações bem incômodas. Eu sempre quis parto normal, então, o primeiro embate foi com a minha tia, ainda antes de engravidar. Ela me criticava, falava que cesárea era maravilhoso, dizia que eu não podia levantar a bandeira assim de algo. Simplesmente não respeitava o que eu pensava e me desencorajava. Quando engravidei, ela falou “quero ver na hora que vier a primeira dor, vai esquecer rapidinho que quer normal.” Ela me ridicularizava, me achava fraca, dizia que eu só tinha discurso e que na hora H seria muito diferente. Mas isso só serviu para me dar mais estímulo e força na hora de parir a minha filha. Um outro episódio foi no posto de saúde, quando eu, já super barriguda, fui tomar uma vacina que a médica passou. Saí da consulta e fui direto para lá. Eu tenho medo de agulha e comentei isso com a enfermeira, no que ela respondeu “Tem medo dessa agulhinha? Quero ver na hora do parto. Que frescura.” Respondi: “Acontece que para o parto eu estou me preparando desde antes de engravidar, essa vacina descobri que tinha que tomar agora.” É natural que pessoas que trabalham diariamente com isso percam um pouco a sensibilidade perante as situações, mas não podem faltar o respeito com o outro, ainda mais com uma gestante. Me senti impotente, pois queria respondê-la com muita grosseria, mas era ela que ia aplicar a vacina em mim. No prédio que moro, a minha vizinha de porta sempre que me encontrava dizia “Vai ter normal? Nossa, que corajosa. Você é muito corajosa!” Isso era sempre, em todos os diálogos. E quando eu estava no puerpério, o ó do ó, sem dormir de madrugada, ela me viu e falou “Nossa, você está acabada…” Me senti um lixo em pessoa. Um dia, eu estava saindo para a consulta no pediatra depois de uma noite pesada com minha filha chorando muito e encontrei com ela no elevador. “Ela está mamando direitinho? Tem que ver porque, de repente, seu leite não deve estar sustentando.” Tirando as vezes que ela falava “Nossa, que corajosa por tentar o parto normal” e eu nem ligava, as outras vezes me deixaram muito mal. Dizer para uma mulher que acabou de ter bebê que ela está acabada e que o leite não está sustentando? Falta de noção tremenda! Fiquei triste e me sentindo pior ainda, insegura… Tive que ouvir do pediatra (que graças a Deus é maravilhoso e apoia a amamentação) que a minha vizinha era sem noção e para ficar mais tranquila. Além da minha vizinha, minha tia vivia falando para eu dar chupeta. Eu nunca dei chupeta, e quando minha filha começou a golfar (o que é normal), minha tia dizia que ela mamava muito; que se chupasse chupeta, não golfaria. Fico com muita pena das mulheres que não têm o suporte que eu tive, caem na conversa de leite fraco e desistem de amamentar seus filhos. Ou as que usam chupeta nos seus filhos imaginando que podem solucionar muitos problemas, mas que sem querer acabam causando confusão de bicos e acontece um desmame precoce. Minha antiga ginecologista, durante as consultas, quando eu falava que queria parto normal, sempre dizia que se tudo desse certo, faria. Isso já me deixava encucada. Eu sempre a questionava muito, falava o que eu queria na hora do parto, e ela um dia me perguntou onde eu estava vendo essas coisas. Respondi que na internet, e ela “Você anda se ‘internetizando’ demais. Quem sabe sou eu”. Por isso troquei de médica com 35 semanas de gestação. Conheci minha médica atual com 36 semanas e com 39 semanas tive minha filha num lindo parto natural hospitalar humanizado”.