“Não quero essa brincadeira chata”
“Cansei de fazer isso”
“Por que não posso aquilo?”
De repente, o meu menino meigo que falava tudo com serenidade e carinho na voz começa a dar respostas mais secas, desagradáveis. Os olhos ficam marejados e um bico enorme se forma na boca…
Será que é pela gravidez? Escola nova? Tédio das férias? Tudo junto e misturado? Pode até ser, mas pelo que andei estudando, os 6 anos pouco alarmados pelas mães, são uma fase bem difícil e emblemática para nossos pequenos.
Quando os dentes começam a cair soa um gongo de adolescência no meio da infância. Eles se sentem grandes, pressionados a crescer, a mostrar que não são mais criancinhas e querem provar para os pais e para a sociedade que já sabem argumentar, articular bem e que não aceitam mais que a gente recomende o que eles devem fazer.
Em um dos textos que li, no site LookBebê, escrito pela psicóloga Lilian Britto, havia uma descrição bem resumida sobre o que representa essa fase: “Vale salientar que uma criança de 6 anos não é uma criança de 5 anos mais crescida e melhor, é uma criança diferente porque está em transformação – novas propensões, novos impulsos, novos sentimentos e novas ações devido às modificações profundas no desenvolvimento do sistema nervoso que do sistema nervoso que lhes é subjacente. É como se nessa fase a criança estivesse “recebendo” uma nova herança psicológica que não vem pronta; ainda está desorganizada e colide com os esquemas já aprendidos. Tais considerações reforçam as dificuldades encontradas pela crianças de 6 anos. E é neste sentido que ela tende a comportamentos extremos ou até mesmo a decisões conflituosas. Por exemplo, uma simples pergunta: “Você quer picolé de chocolate ou de fruta?”, podem deixá-las muito indecisas ou pensativas, como se estivessem em um grande dilema. Isso ocorre porque estão em questão novos fatores emocionais, mas indica que a criança está crescendo. Conflito é sinal de crescente maturidade. É nessa ginástica de opostos que a criança começa, lentamente a fazer escolhas.”
E é por tudo isso que, a conversa se torna mais importante do que nunca e mostrar que a gente entende e os respeita como seres pensantes também. Mudanças não são fáceis, “novas responsabilidades trazem novos poderes”, já diria o tio do Homem Aranha. E não é fácil lidar com esses poderes: de fazer o dever de casa, de definir com os amigos que brincadeira brincar (sem interferência das tias na escola ou dos pais), de estudar para provas, amarrar o próprio cadarço e superar suas próprias expectativas. Parecem coisas simples, mas não são. Até ontem eles eram bebês e recebiam ajuda para tudo! E mesmo que agora não queiram mais, pois já sabem o que querem de si mesmos, o crescimento dói neles e se pararmos para pensar, dói na gente também acordar do dia para noite e ver que eles não precisam da gente nem para calçar um sapato.
Outra coisa que incomoda nossas pequenas grandes crianças é tomar consciência de algumas verdades que vêm com o crescimento! Eles já sabem, por exemplo, que a medalha de Honra ao Mérito é para todos os participantes da brincadeira e é legal ganhar a medalha de primeiro lugar, enquanto a gente quer que eles aprendam que também é preciso saber perder, entender quando o amigo prefere brincar apenas com outro amigo, ou que as coisas têm preços e é preciso abrir mão das vontades, sabendo que aquele “amanhã a gente vê”, às vezes nunca vai chegar.
Ter plena cognição e noção das atitudes de si mesmo e do mundo a sua volta frustra, cansa. Dá vontade de voltar para o colo da mamãe e ao mesmo tempo pegar uma espada e ser seu próprio paladino.
6 anos merecem um Terrible na frente? Acho que não seria bem assim. Está mais para Complexos, Incompreensíveis e Bipolares 6 anos. Paciência é a palavra chave pra gente e para ensinarmos a eles. Porque eles precisam de ajuda, conversa, amor e cumplicidade. Sim! Aquela nossa criança fofa que conhecíamos ainda está ali, aprendendo a se reconhecer dentro de si.
Como está por aí?