Não há dúvida: a presença constante do pai na criação dos filhos é fundamental para o desenvolvimento dos pequenos. Entretanto, embora seja uma ideia defendida e comprovada por pesquisas diversas, infelizmente, essa não é a realidade na maioria dos lares de todo o mundo.
Um estudo realizado pela pediatra Melissa Wake, da Austrália, mostrou que crianças ignoradas pelos pais podem levar para a vida adulta vários transtornos psicológicos. Outro documento sobre o assunto, o relatório State of the World’s Fathers, da Men Care, afirma que os homens que participam mais ativamente da vida dos filhos têm melhoras observadas na saúde física e mental. Além disso, os filhos se tornam mais felizes e bem-educados.
A informação acima pode ser validada por André Almeida*, pai de Gustavo*, de oito anos, que se separou da mãe do filho quando ele tinha dois anos. Contrariando uma estatística bastante comum sobre pais que acabam não assumindo o seu papel depois que se divorciam, ele permaneceu dividindo as tarefas e despesas do menino. “Mesmo ele bem pequeno ainda, mantivemos a rotina. Moramos em prédios próximos e meu filho fica comigo entre 3 e 4 dias toda semana, com finais de semana e férias divididas entre mim e a mãe dele. As datas comemorativas são intercaladas ano após ano também. Além disso, todas as despesas são compartilhadas da mesma maneira por nós dois”, pontua. André lembra que nem sempre é fácil, já que a relação com a antiga esposa não é das melhores. “Muitas vezes é difícil, mas não se pode, de forma alguma, prejudicar a criança. Nossas desavenças, assim como as de qualquer casal, devem ser resolvidas apenas entre as partes envolvidas”, complementa. Sobre a convivência com o filho, ele é enfático: “não consigo imaginar a minha vida sem ele. Homens que abrem mão do privilégio de conviver com seus filhos não fazem mal apenas às crianças, mas a eles próprios também”.
A psicóloga e psicanalista Luisa Bauke explica que no desenvolvimento da criança, tanto a figura materna quanto a paterna têm fundamental importância e se complementam na formação emocional da criança. “Os pais que educam em conjunto e com coerência em seus valores, transmitem segurança para a criança através de uma base estrutural sólida e bem definida, e esses são fatores primordiais para formar adultos seguros e independentes”, comenta.
Educar em conjunto talvez seja um dos melhores conselhos a se dar para a criação dos filhos. Marcos Piangers, autor do best seller “O Papai é Pop”, é um defensor ferrenho de papéis iguais para pais e mães. “O homem tem um jeito de fazer e a mulher tem um jeito de fazer. E nenhum é certo ou errado. O jeito errado é não fazer. Então, é importante que se respeite a forma como o pai faz, que não se transforme as atitudes ou aquilo que ele realiza em motivo de piada ou chacota toda vez que errar”, comenta, explicando, ainda, que o homem vai fazer e aprender, assim como a mulher. “Com dedicação, carinho e atenção, a gente chega lá também”, completa.
A psicóloga Maiana Rappaport lembra que, ao longo dos últimos anos, tem acontecido uma mudança na atitude, tanto das mães como dos pais, em relação a paternidade e aos cuidados com os filhos. “É muito saudável às crianças que desde sempre tenham duas figuras importantes, de referência, dois modelos diferentes com os quais poderão identificar-se. Sendo cuidadas pelos pais assim como pelas mães, já vão crescer em uma cultura familiar que valoriza a igualdade de direitos e obrigações, independentemente do gênero”, diz. Dessa forma, enfatiza Maiana, com ambos compartilhando os cuidados e as decisões relativas à criação e à educação dos filhos, será possível um ambiente mais saudável e harmonioso, mais seguro e potencialmente com melhores condições para a criança se desenvolver mais estruturada e feliz.
(*) Os nomes foram trocados a pedido do pai do menino.