Por Andressa Tannure
A pandemia mudou radicalmente o perfil das internações infantis neste ano. No período de março a julho, as hospitalizações por bronquiolite costumam atingir seu maior pico, lotando enfermarias e unidades de terapia intensiva (UTI). Com o isolamento social e o afastamento das crianças das creches e escolas, as infecções respiratórias diminuíram. Porém, se já não bastasse o coronavírus, com a chegada das baixas temperaturas e, provavelmente, o retorno às aulas, é esperado que o pico da infecção por bronquiolite ocorra no segundo semestre.
A bronquiolite é uma inflamação dos bronquíolos, que são a parte final da “tubulação” do pulmão, cuja função é levar o ar até nossos alvéolos, onde ocorre a respiração. Essa inflamação provoca um edema das vias aéreas e um aumento da secreção no seu interior, dificultando a respiração. Ocorre principalmente em crianças abaixo de 2 anos (predominando entre 6 e 12 meses), que têm as vias aéreas mais estreitas, a maioria dos casos é leve, e se trata em casa. Mas também pode ser potencialmente grave.
A bronquiolite pode ser causada por diversos tipos diferentes de vírus. Esse vírus é espalhado através da tosse ou espirros por pessoas infectadas, em secreções ou saliva. São vírus comuns que, em adultos e crianças maiores, causam um resfriado, mas, nos bebês, pode causar a bronquiolite. Um dos vírus mais frequente é o vírus sincicial respiratório (VSR), responsável por 50 a 80% dos casos.
O quadro clínico inicial é o mesmo de um resfriado comum: coriza, um pouco de tosse, espirros, podendo ter febre ou não. Com o tempo, a tosse vai piorando e a respiração pode ficar mais rápida e mais difícil. A criança parece estar sempre “cansada”. Pode-se ouvir sibilos (chiado no peito), dito popularmente que parece “um gatinho” no pulmão.
Deve-se estar alerta para os sinais de esforço respiratório: batimento de asa nasal (as abas do nariz abrindo e fechando), um afundamento da barriga e da região na base do pescoço, assim como o aparecimento das costelas, decorrente da tentativa de ajudar na respiração. Em casos mais graves, a criança pode ficar com os lábios e extremidades roxas, gemente, sonolenta e até apresentar pausas respiratórias.
Nos casos leves, a doença pode durar poucos dias. Em outros casos, pode ocorrer piora progressiva, com pico entre o 3º e 5º dia da doença, quando só então começa a melhorar. A tosse e o chiado podem persistir por até 3 a 4 semanas, no total.
A bronquiolite pode ser especialmente grave em crianças com doenças crônicas, como cardiopatias ou doenças pulmonares, prematuros e imunodeficientes. Entre as complicações que podem ocorrer nos casos mais graves podemos citar desidratação (pela perda de líquidos e baixa ingestão), pneumonias, atelectasias (obstrução dos brônquios por secreções) e oxigenação deficiente do sangue, levando a uma insuficiência respiratória.
O diagnóstico é clínico. Exames subsidiários como raio X e hemograma, em geral, servem apenas para afastar complicações. Pode ser feita pesquisa para alguns dos vírus causadores nas secreções do paciente. Outros exames raramente são necessários.
O tratamento é feito principalmente com inalações com soro fisiológico 0,9%, para umidificar as vias aéreas e fluidificar as secreções. Nenhuma outra medicação tem seu efeito comprovado e não é usada rotineiramente. A criança deve ficar em repouso e sentada ou deitada em berço inclinado (ângulo de 30-40º), mantendo o pescoço levemente estendido para facilitar a respiração.
Deve-se garantir que a criança esteja muito bem hidratada, para ajudar também na fluidificação e eliminação das secreções. Pode ser indicada fisioterapia respiratória em alguns casos. Antibióticos não têm efeito contra o vírus. Só são usados em caso de complicações bacterianas secundárias. Em caso de insuficiência respiratória, a criança deve ser hospitalizada e oferecido oxigênio.
E qual o segredo para se evitar a bronquiolite? Como outras doenças virais de alta transmissibilidade, a melhor prevenção é evitar o contato das crianças pequenas com indivíduos com sintomas gripais. Na medida do possível, deve evitar também ambientes fechados com aglomerados de pessoas, áreas muito poluídas e fumaça de cigarro, que é um grande irritante das vias aéreas, e a lavagem das mãos, que é primordial. Não esquecer que a amamentação com leite materno exclusivo também diminui formas graves da doença. Não há vacina específica contra a bronquiolite. Existe uma vacina contra o VSR, mas suas indicações são bem restritas. Fique atento aos sintomas.
Andressa Tannure é pediatra, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e especialista em Suporte de Vida em Pediatria pelo Instituto Sírio-Libanês e pelo HCOR.
Informações: Assessoria de Imprensa.