Pesquisadora Lara Marin, autora de “A Cultura nos Livros Didáticos”, revela que currículo escolar sempre pretendeu influenciar nos costumes do estudante, às vezes com direcionamentos moralistas – e até racistas
Aquela cantiga que você cantava na escola, aquele livro que sua professora lia e aquela brincadeira no pátio com seus colegas foram escolhas pedagógicas para que você aprendesse a viver nessa sociedade. Da mesma forma, a cultura que você consome hoje ainda é voltada para uma formação que o influencie para seguir as normas e os padrões de comportamento social. É o que chamamos de currículo cultural.
Cada contexto social tem uma demanda, um desejo de como os sujeitos devem ser e o que as crianças devem aprender para viverem neste mundo e se tornarem adultos. Aquilo que os estudantes aprendem nas escolas muda com o tempo para que os futuros cidadãos possam desenvolver a humanidade da forma mais adequada ao seu contexto. O currículo escolar daquilo que devem aprender não é composto apenas de Matemática, Ciências e Línguas, mas também da cultura. A das artes e a dos costumes.
Quando a professora lia uma história para você, ela lhe ensinava sobre os aspectos da literatura e da língua, mas também sobre os valores contidos naquela narrativa. Há sempre um ensinamento dos comportamentos sociais aprendidos em uma história, em uma música, em um filme, ou mesmo no processo de produção e análise dessas artes, seja ele moralista ou não.
Essa tarefa de construção curricular e escolha do que faz parte do dia a dia escolar é uma atribuição da Pedagogia, e os especialistas que constroem os currículos não fazem isso de um jeito aleatório ou ideológico, mas operam esse poder de escolha com muito conhecimento, responsabilidade e seriedade, proferindo e se pautando no próprio discurso pedagógico, que é formado tanto por professoras e pesquisadores quanto por leis e parâmetros governamentais, além da própria sociedade.
Peguemos o livro didático como exemplo: antigamente, no meio do século 20, textos desse material mostravam o desejo da sociedade e o discurso pedagógico de que as crianças fossem polidas com os adultos. E era normal o ensino moral religioso ou, até mesmo, exemplos linguísticos de obras racistas em suas páginas.
Atualmente, consideramos absurdo o fato de que tais conteúdos um dia já estiveram em um material de ensino aos estudantes. O que será, então, considerado absurdo no futuro sobre a cultura que consumimos e os comportamentos que desejamos para a sociedade?
Hoje, as escolas debatem com seus estudantes sobre obras de arte e seus conteúdos. O tão almejado ensino crítico também faz parte desse currículo que representa uma demanda social atual do que entendemos como fundamental para o ser humano.
Certamente, os padrões e expectativas sociais mudarão, mas a cultura ainda será objeto curricular e recurso do ensino para dar exemplos, inspirar, padronizar e questionar os comportamentos humanos, retratando aquilo considerado normal ou desejado na sociedade.
Informações: Assessoria de Imprensa.