Um ano após o início da pandemia da Covid-19, as medidas de prevenção da doença, como o uso de máscaras, distanciamento social e álcool em gel, estão cristalizadas na mente da população. Mas a nova realidade não mudou apenas hábitos de higiene. Junto com o novo coronavírus vieram novas dinâmicas de estudo, trabalho e relacionamento, que afetaram a saúde mental de adultos e também das crianças1.
Irritabilidade, mudanças de humor, insônia, dificuldade de concentração1. Tais sintomas podem ser fáceis de serem identificados em adultos, mas apresentam diversas nuances quando se trata de crianças e adolescentes. Como identificar essas características e enxergá-las como resultado das restrições impostas pela pandemia?
“A pandemia – e todo o contexto que a acompanha – tem gerado situação de estresse em crianças, adolescentes e adultos. Como as crianças e adolescentes são menos infectados e como muitas vezes o sofrimento deles fica mais desapercebido, eles tendem a ser mais negligenciados”, explica o professor de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), Guilherme Polanczyk.
Segundo o médico, a idade da criança também interfere na forma como ela reage à pandemia. “As crianças menores, que são mais dependentes dos pais, que têm menos acesso de uma forma autônoma a informações, vão lidar com a pandemia muito em função de como os pais estão lidando e como o ambiente está organizado. Já as crianças maiores sentem falta dos amigos. Elas já têm capacidade maior de compreensão de uma forma autônoma, muitas vezes não completamente adequada, ou de uma forma não completamente realista, e podem interpretar de forma mais catastrófica algumas situações”, explica.
Polanczyk esclarece que o nível de estresse dessas crianças tende a ser ainda maior no caso de pais que trabalharam na área de saúde, pois além de ser um grupo de pessoas com maior risco de contaminação, esses profissionais enfrentam uma carga de trabalho maior, afastando-os ainda mais dos filhos.
A possibilidade de retomada das aulas presenciais ou híbridas, desde que garantidas as medidas de segurança aos alunos e profissionais da educação, é vista como positiva pelo médico, pois representa uma nova fase de desenvolvimento para os pequenos. “É preciso sensibilidade para poder explicar para as crianças o que está acontecendo, mostrar a importância de enfrentar, eventualmente, o desconforto social ou o medo da contaminação, e que esse cenário é combatido com os cuidados de higiene, por exemplo”.
No entanto, o processo pode não ser tão fácil no começo, pontua Polanczyk. “Muitas crianças podem se recusar a ir para a escola, podem ficar com medo, podem ficar desconfortáveis em voltar ao convívio social. Realmente é um período de transição, pois assim como ocorreu no isolamento, a saída dele pode gerar estresse”, pondera o psiquiatra.
Crianças que apresentam sintomas como dificuldade para dormir, relatos de preocupação, alterações de comportamento e até queixas de dor física merecem atenção especial. É importante que os pais fiquem atentos e que busquem a ajuda de um profissional de saúde se perceberem alguma mudança.
Para orientar a população em relação à saúde mental de adultos, crianças e adolescentes, o Instituto de Ciências Integradas lançou, em parceria com a Upjohn, uma divisão Pfizer, o Guia de Saúde Mental Pós-Pandemia no Brasil. Disponível gratuitamente no site www.guiasaudemental.com.br, o guia foi desenvolvido por um time de especialistas renomados com o objetivo de trazer informações úteis para profissionais de saúde que não são especialistas em saúde mental e para a comunidade leiga em geral.
Informações: Assessoria de Imprensa.