Quatro de fevereiro é o Dia Mundial do Câncer. A data é uma iniciativa da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), principal entidade não-governamental que contribui com discussões, encontros científicos e programas internacionais de formação de profissionais, visando estabelecer políticas de prevenção e de combate da doença.
Com sede em Genebra, na Suíça, a UICC conta com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta que, nas duas últimas décadas, o número de pessoas diagnosticadas com câncer dobrou, passando de cerca de 10 milhões, em 2000, para 19,3 milhões, em 2020. Se não houver mudança no quadro, isso significa que uma em cada cinco pessoas em todo o mundo desenvolverá um tipo de câncer em algum momento da vida. Não sem motivo, trata-se da segunda doença que mais mata, perdendo apenas para as cardíacas.
Entre os fatores relacionados a esse aumento estão a falta de alimentação saudável e da prática regular de alguma atividade física, assim como o uso abusivo de tabaco e álcool. Sem contar que o risco de câncer aumenta com o avanço da idade. Como as pessoas estão vivendo cada vez mais, há uma relação da longevidade com esse crescimento de casos.
No que se refere especificamente à atividade física, é fácil entender porque ela é um alicerce importante na prevenção de inúmeras doenças, inclusive do câncer. “Não é de hoje que vários estudos afins apontam nesse sentido. Isso passa por todos os benefícios que um programa regular de exercícios físicos promove, tais como o fortalecimento do sistema imunológico e cardiorrespiratório, além do aumento da massa muscular que garante, inclusive, mais resistência óssea, Afinal, os ossos precisam criar essa base, digamos, mais sólida, para sustentarem o volume muscular adquirido”, explica Luiza Fellet, profissional de educação física, diretora técnica do Studio Personalizzare Vip Training, de Piracicaba (SP).
Câncer de mama e atividade física
Em relação especificamente ao câncer, a atividade física regular é uma das armas mais poderosas no combate da obesidade e do sedentarismo. Para se ter ideia, esses dois fatores estão relacionados a 20% dos casos de câncer de mama. Pesquisadores da Universidade de Estetino, na Polônia, mostraram que mulheres que praticam exercícios físicos, por pelo menos seis horas na semana, possuem menos probabilidade de desenvolverem nódulos malignos nos seios.
Outro estudo, divulgado em 2004, comandado pela pesquisadora e médica americana Anne MacTiernan, uma das maiores autoridades em pesquisas da relação câncer e estilo de vida, mostrou que o risco do de mama cai 18% com atividade física. Já a pesquisadora e médica Oxana Palesh, da Universidade de Stanford (EUA), apontou, em 2018, em um estudo sobre atividade vida e sobrevivência em mulheres com câncer de mama avançado, que um programa de exercícios físicos regulares reduz o risco de morte por essa doença em até 25%.
De fato, evidências de que a atividade física regular tem impacto positivo na prevenção e redução do risco de morte do câncer existem desde a década de 1990. E os números são cada vez mais animadores, segundo mostram os mais novos estudos a respeito. No caso do de mama, o de maior incidência entre as mulheres, a redução pode chegar a 40%.
Um estudo da Universidade Charles, na República Checa, divulgado em 2022, envolvendo 170 mil mulheres, sendo 70 mil com metástase (quando as células cancerígenas se espalham para outros órgãos além do de origem), concluiu que, além de combater doenças cardiovasculares, a atividade física reduz em 38% o risco de câncer de mama em mulheres que se exercitam três vezes na semana. Essa redução bate nos 40% entre aquelas que fazem exercícios físicos regularmente, em quatro ou mais dias semanais.
Há, ainda, pesquisas que colocam as atividades aeróbicas, como é o caso de bike e corrida, como as estrelas nesse processo de prevenção. Motivo: a redução da glicemia (concentração da glicose no sangue), que esses exercícios promovem, ajudam a conter a multiplicação de células cancerígenas.
De qualquer forma, não dá para descartar a colaboração de outros tipos de exercícios na prevenção do câncer em geral. “A musculação, por exemplo, também pode ser uma peça-chave no combate à gordura, que leva à obesidade, fator de risco para o câncer, pois o ganho de massa muscular provoca maior demanda energética, mesmo em estado de repouso. Ou seja, hoje em dia, não dá para falarmos em controle do peso sem levarmos em consideração o ganho muscular”, diz Luiza.