Com um toque político ao melhor estilo George Orwell, “Animatrópole” é mais que uma narrativa para divertir as crianças, ela estimula o pensamento crítico desde a infância. Inspirado no clássico A revolução dos bichos, a escritora e empreendedora baiana Liu Oubiña ensina aos jovens leitores sobre alteridade, tomada de decisões, diversidade e a importância da figura feminina na sociedade.
“Animatrópole” conta a história de uma cidade formada apenas por animais, onde tudo ia bem até que um desastre atinge o prefeito Teobald Tatu e o pânico se espalha entre a bicharada. Apesar das desavenças, os personagens assumem o verdadeiro valor da união e sabedoria, ao trabalhar o coletivo sem perder o respeito sobre as individualidades. Abaixo você confere uma entrevista inédita com a escritora Oubiña, em que ela revela a importância das obras lúdicas para formar cidadãos conscientes e questionadores:
Para você, qual foi a importância de ler A Revolução dos Bichos para compor “Animatrópole”? Por que desejou se inspirar em George Orwell?
L: Um dos pontos relevantes d’A revolução dos bichos é a ambição pelo poder e, em Animatrópole, pode-se ver essa temática. Após a morte do líder, um espaço foi deixado e percebemos o quanto a ambição pelo poder, o egoísmo e a vaidade tomou conta de muitos cidadãos para ocupar esse posto. Desejei com essa história levar a discussão e trabalhar junto às crianças questões inerentes ao ser humano, as relações sociais para alimentar nosso melhor lado, afinal esses sentimentos fazem parte de cada um e precisamos fortalecer a formação da consciência social, das habilidades individuais e cooperação para trabalharmos através da coletividade.
Qual a importância de apresentar livros mais críticos às crianças? E de que forma Animatrópole acende esse senso questionador?
L: A literatura traz lições de vida de forma imaginária, contribuindo para a formação da criança no processo de construção de sua personalidade. Por isso, as histórias servem de alimento para a imaginação, permitem a auto identificação, a aceitação, ajudam a resolver conflitos, a lidar e entender as emoções, além de fazer com que os pequenos estimulem o senso crítico através da história. São pontos muito importantes para o desenvolvimento infantil. Ainda, Animatrópole apresenta trechos em que podemos observar o papel da mulher na sociedade, pois uma fêmea pequena torna-se líder e mostra sua sabedoria nata ao ver cada cidadão como alguém especial e único. Ela lidera incentivando e estimulando individualmente todos para trabalharem em prol da coletividade. Ela é um exemplo de como construir esse olhar na infância é imprescindível para desconstruir o preconceito e estereótipos. Essa história abre espaço para o diálogo e reflexão!
Qual é a principal mensagem que a obra traz aos pequenos leitores?
L: A principal lição é sobre a construção de uma sociedade com cidadãos emancipados e comprometidos em auxiliar o próximo, sem distinções. Trabalhar as habilidades individuais, que ajudarão o coletivo, faz com que fortaleça suas potencialidades através da cooperação, do respeito às individualidades, para podermos construir uma sociedade melhor e igualitária.
Como Animatrópole pode fazer a criança entender sobre diversidade e individualidade?
L: Para termos um desenvolvimento sustentável, precisamos ter políticas de inclusão de qualidade e excelência, em que todo cidadão faz parte sem distinção. Em Animatrópole, a escola de Bicho Feliz, ninguém ficava de fora e todos precisavam estudar lá. Seus cidadãos possuem características e habilidades distintas, mas que são importantes para ampliar as possibilidades de aprendizados e de evolução. Um bom líder reconhece e valoriza todos em suas individualidades, capacitando as habilidades e potencializando-as para construir uma sociedade baseada na formação humana, na cooperação, no respeito e bem comum, onde todos possuem o direito à voz. A criança tem a facilidade de absorver as histórias de forma espontânea, ampliando a criatividade e conhecimento e, quando associadas a atividades pedagógicas, podemos fortalecer e ampliar o aprendizado.
A obra tem um toque político. Como você construiu essa narrativa para ser de fácil entendimento para as crianças?
L: Ativando a criança interna, dialogando com o universo infantil e se livrando de crenças limitantes que engessam e paralisam o ser adulto. O processo de escrita me transporta para o lugar do brincar, da ludicidade, onde posso explorar a imaginação para divertir e inspirar. Então, foi desta forma que trouxe a visão política, explorando o lado divertido e criativo na história, mas sem deixar de mostrar a importância das coisas em níveis social e político.
Como livros infantis podem moldar adultos conscientes? Qual a importância desse tipo de literatura que instiga o senso crítico na infância?
L: Ler desde criança proporciona conhecimentos emocionais, cognitivos e sociais, desenvolvem capacidades importantes como a atenção, a oralidade, a interação social, criatividade, conhecimento e aprendizados, além de gerar vínculos afetivos, aumento do repertório cultural, entre outros, o que contribui para a formação de um adulto mais potente e consciente, com uma postura crítica e reflexiva.
Dominar a modalidade da escrita de uma língua é a chave para abrir a mente e permitir se libertar do desconhecimento e da desinformação. É o que permite sermos sujeitos críticos, com liberdade para escrevermos nossa própria história. Por meio do conhecimento, e histórias como Animatrópole, podemos ter mais esperança de que é possível acabar com as desigualdades sociais.
Quando e como surgiu sua paixão pela literatura infantil?
L: Na infância me divertia e vivia sonhando com as histórias de Monteiro Lobato, da Coleção Vaga-lume, de Alice no País das Maravilhas, O mágico de Oz, Poliana, entre tantas outras obras maravilhosas, que permitiam soltar a imaginação e criar meu mundo de fantasias. Meu diário foi a entrada para escrever sobre tudo que pensava e vivenciava.
Quais são os desafios de ser escritora no Brasil?
L: Precisamos buscar novos caminhos para incentivar a cultura da leitura em nosso país, possibilitando a formação de cidadãos com maior capacidade critica e interpretativa. Geralmente, o brasileiro não tem o hábito de leitura, o que nos leva a diminuirmos nossa capacidade crítica e de discernimento e formar leitores ativos que é uma responsabilidade de todos. Este cenário leva a uma realidade de mercado difícil para as pessoas que vivem da literatura, trazendo a necessidade de termos, na maioria das vezes, ocupações paralelas.
Outro desafio é se organizar para dar tempo de escrever e desenvolver as etapas necessárias para publicar o livro, pois nem sempre contamos com o apoio de uma editora ou temos incentivos mais amplos para escritores nacionais iniciantes. Fundei a Pé de Pitanga por acreditar que podemos transformar e apoiar escritores que desejam o suporte e parceria. E, claro, é preciso apostar no Marketing para divulgar e fazer circular o livro para todo o país.
Informações: Assessoria de Imprensa.