Aventuras Maternas

“Quem seu filho quer ser?” – é hora de compreender o significado desta pergunta

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Imagine comigo: sua filha pede de aniversário o kit médico da Dra. Brinquedos e começa a brincar de medir a temperatura das bonecas, fazer curativos e escutar as batidas do coração. Alguém da família ou até você já arrisca: “acho que ela vai ser médica”. Meu filho, ama construir tudo com Lego e já fala desde criança que seu sonho é ser construtor. Resumindo, quando perguntam o que ele quer ser no futuro, eu mesma já cansei de traduzir: “ah, acho que ele vai ser engenheiro!”.

Ele me corrige: “não, mamãe! Meu sonho é ser construtor! Quero construir carros movidos a energia solar e robôs submarinos que catem o lixo do mar. Também quero construir um robô que extraia o vírus da dengue, sem matar o mosquito, desenhar brinquedos e construir uma cidade inteira só com árvores”. Bem, acho que a tradução de construtor para ele é bem mais abrangente do que estamos acostumados e bem metafórica também. Afinal, tudo isto que ele disse que quer construir não se aprende em nenhuma área da Engenharia específica. Para ele realizar este sonho vai precisar estudar, pesquisa, vencer obstáculos, criar, inovar… Empreender. Não bastará passar no vestibular e tirar o diploma no final.

É claro que o sonho de hoje pode mudar com o passar do tempo, mas o que aprendi com ele e tive certeza após participar da palestra promovida pela Canguru e ministrada pelo autor do best-seller “O Segredo de Luísa” e um dos mais respeitados estudiosos de empreendedorismo no Brasil, Fernando Dolabela, é que o mais importante em relação ao que nossos filhos sonham é não sermos o primeiro obstáculo para eles se tornarem realidade. Já que, quando nos limitamos a definir uma carreira para suas vidas, criamos uma caixa selada para o que eles podem desenvolver no futuro.

A questão não é “o que eles farão quando crescerem”, mas sim “quem eles serão?” e o “que sonham para o futuro?”, não apenas para si mesmos, mas para transformar o mundo a sua volta. Dolabela ressalta que toda criança nasce com potencial empreendedor — não o de ser dono do próprio negócio, mas, o mais importante, de criar. Ser um empreendedor não significa abrir uma empresa necessariamente, mas ter a capacidade de criar soluções, lidar com problemas e enxergar oportunidades.

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Ivana Moreira, da Canguru, ao lado de Fernando Dolabela, autor de “O Segredo de Luisa”, na palestra sobre o potencial empreendedor das crianças.

E, no Brasil, a cultura empreendedora ainda não é cultivada pelas escolas desde a infância, e nem com a família. Recebi inclusive algumas mensagens, mencionando o fato de que crianças não podem ser ouvidas demais e que precisam apenas brincar e serem “crianças”. Mas o bacana, é que a criatividade e o empreendedorismo surgem exatamente daí, de ações em casa, com a família, em momentos de lazer, com oportunidades onde a liberdade de pensar e experimentar ao ar livre ou em casa, desenvolvem naturalmente essas habilidades. “O empreendedor busca transformar o sonho em realidade e é ele que define os caminhos para chegar até lá”, define Fernando Dolabela.

É isso que nossos pequenos fazem quando estão desenhando, por exemplo, ou criando cidades com Lego, ou ainda em uma boa conversa, analisando como resolver problemas do dia a dia. São as soluções para o problema, os primeiros passos para inovar, ou seja, para empreender. Esta proatividade é uma habilidade indispensável para quem quer criar algo novo, mesmo que o resultado não seja a abertura de uma empresa. E o grande segredo está em não entregar tudo pronto para a criança, mas fazê-la concluir, trazer respostas.

Nossa sociedade ainda possui uma resistência cultural na qual as pessoas acham que a única forma de inserção no mundo do trabalho é o emprego, mas ele acaba se tornando uma fábrica de infelicidade. “Há desequilíbrios de poder entre empregador e empregado. Quando isso ocorre, deixa de existir uma relação humana. Então, o empregado é um cara infeliz. Por que ele aceita? Porque a ausência do emprego é a maior tragédia que existe na nossa era. Se você não tem emprego, é um desastre familiar e social”, comenta o também autor de “Quero construir a minha história”, um romance indicado para pais que querem entender a importância de incentivar o sonho de uma criança.

Além disso, o sistema educacional não considera a criatividade, a emoção, a inovação, não aborda a tolerância à incerteza, não trata dos pontos fundamentais. “Se a criatividade da criança começa com 64 cores da caixa de lápis, ela sai da universidade apenas com 1 cor de caneta. O que importa para o sistema, é você saber operar coisas. Já a criatividade é a rebeldia, o principal instrumento do empreendedor”, finaliza.

Vale lembrar ainda que em tempos de reforma da previdência e aposentadoria, a criança empreendedora de hoje é aquela que não vai se importa em se aposentar com 30 ou 60 anos de trabalho. Mas não falo de política por aqui, o importante nesse caso, é saber que podemos criar apaixonados pelo trabalho no futuro e não operários. Quem descobre seus talentos, não se cansa, não quer fugir do trabalho, pois não o vê como o sanguessuga da energia vital, mas sim como a engrenagem que o estimula a viver. Meu avô, português empreendedor, faleceu aos 92 anos, apaixonado pelo trabalho e foi exatamente o fato de ter que parar de fazer o que amava, que o fez definhar e partir. Como disse Dolabela muito bem “o empreendedor se dedica 24 horas por dia a seu trabalho, porque está lidando com prazer”. Paixão, sonho e talento: essas são as palavras-chave.

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Priscila Correia

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