Aventuras Maternas

Por uma vida sem rótulos

Hoje nos emocionamos com o depoimento incrível da mãe do Andrej, de 3 anos. A fotógrafa Ana Kacurin que relata o desenrolar de uma situação que nossos filhos passam desde o nascimento.

Um menino tem seis meses e ri mais quando a Minnie aparece e alguém já fala: “Ihhh… Que estranho”, ou a menina gosta mais de brincar com os carrinhos do irmão e já leva um rótulo.  A vida é feita de pessoas diferentes, com sexos, cores, idades, credos, narizes, bocas, cabelos bem variados, felizmente! E o mais bacana disso tudo são os gostos e preferências serem também variados. Como se diz por aí: “O que seria do rosa se todos gostassem do azul?” Enfim, segue abaixo o depoimento dela. Vale a leitura e a reflexão!

anakacurin

É muito difícil… Como mãe de menino, digo que essa questão do sexismo é uma luta contra a correnteza. O mundo constrói o sexismo na cabeça deles e a gente desconstrói, o mundo constrói de novo, a gente desconstrói mais uma vez. Por aqui eu tenho um menino que gosta, entre diversas outras coisas, de Barbie. Eu deixo ele assistir o desenho quando ele pede, e faço roupinhas pra barbie dele que ele me pediu pra dar de presente e eu dei.

Assim como dei carrinhos, massinha, boneca, dedoches e o que mais ele me pediu, quando achei que cabia. Essa Barbie já foi pra escola algumas vezes. No caminho e na escola eu ouvi falarem pra ele “mas isso não é de menina?”, “não acredito! Andrej brincando de barbie?”, “uá, virou menina, por acaso?”… Enquanto isso eu ouvi “você não tem medo do que as pessoas vão falar pra ele?”, “meu primo teve uma barbie, hoje ele é gay”.

Na própria família teve gente falando “você vai dar/deu uma Barbie pra ele? =O Porque?!?!”, “ah, dá outra coisa pra ele, Barbie não”. Ontem ele chegou em casa querendo brincar de corrida de carrinho. Na noite anterior ele chegou pedindo pra eu pegar a Felícia, uma boneca que ele tem, porque ele queria trocar a fralda dela. Na escola tem uma sala cheia de fantasias.

Tem dias que ele gosta de se vestir de homem aranha, dias que ele bota o vestido da Branca de Neve. Ele é feliz brincando do que gosta, quando gosta. Eu embarco feliz em todas as brincadeiras dele. E eu não tenho a menor pretensão de estragar isso com conceitos esdrúxulos como “isso é de menino, isso é de menina”, “isso pode, isso não”. Eu não incentivo que ele goste de Barbie, como não incentivo que ele goste de carrinho, ou se vista de determinada cor. Ele sempre foi e sempre vai ser livre pra fazer/gostar/brincar/ser o que quiser. Não tenho medo que ele se torne gay porque não vejo problema em ele ser gay, se assim ele se descobrir. É muito, muito difícil criar uma criança sem sexismo. Criar uma criança pra ser feliz e ponto. O mundo lá fora te desmente o tempo todo. Mas a gente por aqui não esmorece, segue em frente desconstruindo, desconstruindo, desconstruindo…

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Priscila Correia

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