Explicar como funciona o coração, o pulmão ou os intestinos e bexiga para uma criança, não requer tanta ciência. Basta um pouquinho de paciência para fazê-los entender, como nossas necessidades básicas funcionam no nosso corpo.
No entanto, falar sobre como trabalha o cérebro humano é difícil até mesmo para nós, adultos. Muito se lê sobre sinapses, neutransmissores, memória, neurônios… A questão é entender como tudo isso funciona num único lugar que faz todo o corpo humano funcionar com plenitude e ainda guardando milhares de informações até nossa velhice.
Mas a Pixar, voltando aos seus melhores tempos, conseguiu transmitir de que forma nossas emoções se desenrolam de um jeito leve e que até um menino de 3 anos consegue perceber (Sim, o filho chorou numa das cenas tristes do filme). A construção do cérebro feita pelos mesmos estúdios de Toy Story pode até não ser precisa cientificamente, mas sem dúvida ficou ótima.
No filme, a protagonista humana é Riley, uma garota divertida de 11 anos de idade, que deve enfrentar mudanças importantes em sua vida quando seus pais decidem deixar a sua cidade natal, no centro dos Estados Unidos, para viver em São Francisco. Dentro do cérebro de Riley, convivem várias emoções diferentes, como a Alegria, o Medo, a Raiva, o Nojo e a Tristeza. Mas, embora esses grupos sejam normalmente organizados, a chegada de Riley a uma nova escola faz com que todas as emoções se misturem.
Tudo que a menina faz é monitorado por um grupo de “pessoinhas” que vivem dentro de sua cabeça. O grupo se reveza no controle de uma espécie de computador, que determina a emoção que a menina expressará em cada situação vista por eles, através dos olhos da humana. O time de hóquei ganhou e todos estão comemorando? A Alegria comanda. Perdeu? É a vez da Tristeza. Escola nova? Entra o Medo. Um rato morto? Nojinho. O pai a manda pro castigo? Raiva dá um show.
E dessa forma eles mostram de que forma funcionam nossas memórias base e assim se criam ilhas de personalidade, que definem um traço característico de cada ser humano. Inicialmente, por exemplo, temos cinco na cabeça de Riley: a da Família, a dos Amigos, a da Diversão, a da Honestidade e a do Hóquei.
Mas no momento em que a Alegria é dragada juntamente com a Tristeza da sala de comando, da mesma forma que sai da vida da menina, ela tem um apagão. O trio que passa a controlá-la não consegue dar conta do trabalho, e basicamente estraga o “computador”, deixando-a completamente inexpressiva e fazendo suas memórias fundamentais apagarem. Em resumo, as ilhas de personalidade, tão essenciais para a menina, começam a ruir. É a depressão.
A dupla Alegria e Tristeza começa a partir daí a fazer um passeio pelo interior do cérebro e conhecem os mais diferentes espaços: a prisão dos medos, a criatividade e a imaginação, amigos imaginários e até músicas chiclete têm casas definidas dentro do cérebro. E tudo de uma forma divertida e criativa para as crianças entenderem como expressar as emoções é fundamental e como tudo está interligado dentro da gente.
E para todos os seres humanos fica uma importante lição. Por mais que a gente tente apagar certos sentimentos e seguir caminhos que parecem mais simples, só funcionamos plenamente quando tudo trabalha em comum acordo dentro da gente. É importante deixar a raiva se dissipar, sentir nojo para restringir e afastar o que não te faz bem, sentir medo para evitar riscos e perigos no dia a dia e acima de tudo entender que “é melhor ser alegre do que ser triste”, sim, como diria Vinícius de Moraes, mas onde não houver tristeza não existe alegria e vice-versa.
Afinal, só valorizamos a felicidade depois que enfrentamos provações tristes. E as alegrias passadas acabam se tornando pequenas tristezas em nosso coração. A isso damos o nome de saudade, mas é isso que nos torna vivos e completos.
Para quem procura a felicidade a todo momento, vale a lição de que experimentar as mais diferentes emoções é o maior aprendizado que a vida pode nos dar e são os erros e acertos, dificuldades e soluções, travas e vitórias é que vão formar quem nós seremos, como viveremos e que memórias farão parte de nossa base. Vale assistir e pensar!