Quem gosta de dizer “Não”o tempo todo? Ninguém, né? Na verdade, se pudéssemos ser positivos e afirmativos o tempo todo a vida pareceria bem mais leve e fácil. Mas infelizmente não funciona assim. Ao contrário, ironicamente, a palavra que mais repetimos para nossos filhos nos primeiros anos de vida é exatamente essa. A monossílaba é de fácil compreensão e com poucos meses, os bebês já entendem por instinto o poder da negação e do movimento do dedo indicador, quando queremos demonstrar que algo não deve ser feito.
Ao longo do tempo, repetir a palavra se torna cansativo e muitas vezes implica até mesmo em culpa. Afinal, negar inúmeras vezes a tantas coisas, por mais que estejamos certíssimos e seja necessário, acaba se tornando um grande incômodo, como se nós, fossemos extremamente chatos e intransigentes. É preciso entender a importância do uso da palavra e dos limites que vem com ela, mesmo que isso implique até mesmo em situações complicadas, publicamente. Que mãe nunca se retirou de uma loja constrangida, porque a criança estava gritando, puxando, mexendo em tudo ou se jogando no chão?
Diante disso, parece mais simples deixar os pequenos um pouco mais livres e dizer sim para algo, como forma de evitar o conflito. O problema nesse caso é que o conflito é fundamental na criação. Sem obstáculos e freios, a criança pensa que está livre para fazer o que quer. Mas, vale ressaltar que é preciso estar preparado para dizer “Não” e levar a palavra até o final. Se no primeiro choro ou birra, você ceder, a criança vence as pequenas batalhas e acaba comandado a relação.
Em uma viagem que fiz com meu filho durante as férias escolares, ele que tem 3 anos, me perguntou ao fim do dia por que eu era a única mãe que o repreendia quando ele fazia algo errado e o retirava do brinquedo ou do momento de diversão. Por exemplo, eu o retirei porque ele estava em pé no escorrega, enquanto um bebê também estava escorregando e aquilo era perigoso tanto para ele, quanto para o pequenino. Mas um outro menino de 7 anos, estava jogando bolinhas com força do alto da casinha de onde saia o escorrega e a mãe do menino nada disse.
Diante do questionamento, dei duas respostas: “O seu nome é Theo e não fulano”. E expliquei que cada um tem uma regra, uma criação e não sabemos o que a mãe do menino disse ou fez quando eles foram para o quarto. Em segundo lugar, ressaltei que eu o repreendo porque o amo e quero ensinar os melhores comportamentos possíveis. No caso em questão: segurança e cuidado com o bebê. Em seguida, eu disse mais: todos os bebês nascem sem saber o que é certo ou errado. E é a educação que recebem que vai ajudar a definir quem eles serão no futuro. Ele entendeu! Pois em seguida respondeu: Você está me ajudando a me tornar um herói e não um vilão. A comparação é dramática, mas é mais ou menos assim mesmo, né?
Saber dizer “não” é, segundo os especialistas, e a experiência coletiva, um dos aspectos mais importantes e saudáveis da educação de crianças e adolescentes. Saber dosar amor e liberdade com limite e autoridade é exatamente o que equilibra o desenvolvimento dos pequenos.
Fomos analisar psicologicamente, como funciona a cabeça de uma criança. E o primeiro ponto importante a entender é como a noção do proibido vai se constituindo ao longo do desenvolvimento infantil. E descobrimos que todo esse comportamento difícil de lidar que toma conta das crianças pequenas é normal e saudável.
Freud explica: Dar limites às crianças é a melhor forma de fazê-los sentir seguros
Resumimos abaixo 6 curiosidades sobre o desenvolvimento psicológico da sua criança que podem te ajudar a lidar com eles.
Bebês agem por instinto
Até o fim do primeiro ano de vida, os bebês obedecem ao princípio primordial da vida humana: o princípio do prazer. Por isso, eles procuram apenas fazer o que causa satisfação e tentam fugir do que é vivido como algo incômodo, agindo dessa forma por instinto. Esse é o primeiro sistema de funcionamento mental, denominado pela psicologia de ID.
Resultado, a criança quer fazer tudo o que vem à mente: deseja o que vê, imita o que fazem ao seu redor e tem uma curiosidade insaciável que, costuma, aborrecer, preocupar e constranger as pessoas. Ao mesmo tempo, essa impulsividade é uma das necessidades fundamentais em seu crescimento, que, quando reprimida, gera crianças que consideramos sem graça, apáticas, desinteressadas e extremamente bem comportadas. A necessidade de tocar, apalpar, mexer, demonstrar, destruir, desfazer e tentar reconstruir objetos são atividades importantíssimas e fazem parte de sua forma de entrar em contato com o mundo externo.
Terrible Two é necessário para o aprendizado
Já, a partir dos 18 meses, a criança começa a se opor para afirmar-se e ter uma personalidade própria. São os famosos terrible two, tão temidos pelos pais, e que terminam, na melhor das hipóteses, por volta dos três ou quatro anos. Isso quer dizer, que apesar de exaustivo para nós, esse período é extremamente importante para o desenvolvimento da criança. Eles testam seus limites e suas possibilidades e cabe aos responsáveis responder o que a criança procura. “Até onde posso ir?”, “O que é tolerável?” “O que é certo ou errado?”
Crianças não nascem sabendo, o aprendizado é diário, acontece a cada novo passo, a cada limite gerado, a cada “Não” respondido. Para uma criança, dizer “não” significa apenas: “Será que eu posso?” Ela quer simplesmente uma resposta dos pais que, favorável ou não, representará novos limites. A partir dos três ou quatro anos, a criança passa, pouco a pouco, do “não de teste” para o “não” que afirma seus gostos e escolhas .
Crianças pequenas fazem o certo para satisfazer os pais
E, como, o mais importante para a criança é o apoio e a aprovação dos adultos, especialmente do pai e da mãe, aos poucos, de “Não” em “Não”, ela começa a entender que precisa controlar melhor suas vontades e crises. É essa compreensão, que gradualmente, vai estruturar seu sistema moderador, o EGO. Quando isso acontece, nossos filhos trocam o princípio do prazer, que orientava suas atividades instintivas, pelo princípio da realidade, diante do qual consegue adiar ou anular os impulsos que não são adequados ao meio em que vivem. E eles ficam entre as exigências impulsivas e as restrições do meio.
Para resumir, até dois ou três anos, a noção do proibido não faz tanto sentido quanto gostaríamos. Por isso é preciso repetir muitas vezes o que a criança pode ou não pode fazer, explicando em poucas palavras a razão dessa proibição. “Sendo assim , a criança age instintivamente e impulsivamente, com o decorrer dos anos e com a estruturação da personalidade o ID o EGO e o SUPEREGO ela consegue ter atitudes menos impulsivas”, explica a psicóloga Érika de Morais Gonçalves, do CHN – Complexo Hospitalar de Niterói.
Quando a auto censura aparece, fazer o certo faz a criança se sentir bem
Somente depois dos quatro anos, ela passa a compreender, cada vez melhor, as ordens dadas, começando a entender as noções de certo e de errado. E, a princípio, ela procurará obedecer aos pais somente para satisfazê-los. É nessa fase que surge o Superego, a censura, quando a própria criança passa a ter a noção de que não pode agir de tal forma e se sente mal diante disso e confortável quando faz algo certo.
Regras fazem as crianças se sentirem seguras
As crianças, ao contrário do que se pensa, são muito preocupadas com regras, em satisfazer para se sentirem seguras. Agir dentro de limites, cuidadosamente estabelecidos, oferece uma estrutura para lidar com cada situação nova e desconhecida. Portanto, é fundamental que nossas atitudes demonstrem com coerência os modelos vivos que os pequenos usarão como referência. “O ‘não’, com explicação é fundamental para a estrutura da personalidade, para que os três mecanismos caminhem juntos ou seja, de forma equilibrada: Impulso, mediação e censura”, explica a psicóloga.
Uma criança sem limites se frustra com muito mais facilidade
Quem cresce sem limites, se desenvolve com uma deformação na percepção do outro. As conseqüências são muitas e, freqüentemente, bem graves como, por exemplo, desinteresse pelos estudos, falta de concentração, dificuldade de suportar frustrações, falta de persistência, desrespeito pelos outros. E essas crianças são confundidas com aquelas que têm a síndrome da hiperatividade verdadeira, porque, de fato, iniciam um processo que pode assemelhar-se a esse distúrbio neurológico.
Afinal, quem poder fazer tudo, de tanto ampliar seu espaço sem aprender a reconhecer o espaço do outro, fica sem limites, se sente insegura e perdida socialmente, tendendo assim, a desenvolver características de irritabilidade, instabilidade emocional, redução da capacidade de concentração e atenção.
Concluindo, diga “Não” sem medo. Sua família tem valores e a sociedade tem regras a serem seguidas e somos nós, pais, que temos o poder de transmitir um caminho seguro para nossos filhos seguirem.