Aventuras Maternas

Saiba quais são e como funcionam as cirurgias mais comuns da infância

cirurgia infantilPensar em um bebê passando por uma cirurgia não faz parte dos pensamentos das mães, nem nos piores pesadelos. Mas esse tipo de procedimento não é tão incomum, quanto se pensa. Por aqui, tanto o Theo quanto o Arthur tiveram que passar por cirurgias no primeiro ano de vida, um por conta de uma hérnia, aproveitando para fazer fimose e o outro, apenas para a fimose, como a Samantha contou aqui.

Vocês podem imaginar a nossa aflição, quando ambos entraram na sala de cirurgia e voltaram desacordados pela anestesia geral para os nossos braços. Nem gosto de lembrar, mas quando penso, vejo o quanto ambos os procedimentos foram simples, diante de operações mais sérias que crianças com tumores, por exemplo, enfrentam deixando suas mães de cabelos em pé.

Mas hoje, fizemos aqui um pequeno apanhado das cirurgias mais comuns na primeira infância, para que mães como nós que se chocam ao saber que seus filhos terão que passar por um procedimento cirúrgico entendam melhor o que está acontecendo com eles e como as cirurgias funcionam. Confiram!

Hérnias Inguinais

A hérnia inguinal é uma das patologias cirúrgicas mais comuns na infância. Ocorre devido a ausência de fechamento do conduto peritôneo vaginal, deixando com isso a presença de uma sobra, por onde órgãos da cavidade abdominal se insinuam, em geral uma alça intestinal. Nas meninas, também é possível a presença de um saco herniário do ovário e da trompa por deslizamento.

Elas podem aparecer já no nascimento, porém é mais comum nos primeiros anos de vida. Por volta de 60% da incidência é à direita, 20% à esquerda e os outros 20% dos dois lados.

O diagnóstico é clínico, através da visualização de um aumento na região inguinal com o esforço, além de um espessamento.

O tratamento é cirúrgico e deve ser realizado o mais breve possível após o diagnóstico, devido ao risco de haver uma retenção de um órgão dentro do saco herniário, ficando o mesmo impedido de retornar a cavidade abdominal) e tornar-se um procedimento de emergência, por vezes com risco de perda parcial do órgão em sofrimento.

Quando a cirurgia é realizada precocemente, o procedimento é tranqüilo, rápido e o tempo de internação curto, de apenas algumas horas. Porém, quando existe estrangulamento herniário, pode haver necrose de alça, tornando o procedimento complexo, demorado, com tempo de internação

prolongado e risco de vida para o paciente. Quanto mais jovem o paciente, maior é o risco de encarceramento e de complicações.

Quanto à anestesia, normalmente é a geral inalatória associada a infiltração local com marcaína, para proporcionar maior conforto no pós-operatório imediato e reduzir o consumo de anestésico geral pelo paciente.

A via de acesso é feita através de uma incisão transversa, com aproximadamente 1,5 a 2cm, na prega inguinal, o que torna a cicatriz o mais estética possível.

O conceito de cirurgia minimamente invasiva é definido como as cirurgias realizadas com trauma mínimo,sem grandes incisões, o que determina menos dor pós-operatória,menor tempo de hospitalização e um retorno mais precoce do paciente a suas atividades habituais.

hérnia umbilical

Hérnia Umbilical

A hérnia que aparece no umbigo pode desenvolver-se nos primeiros meses após o nascimento do bebê, por causa de uma fraqueza nos músculos do abdome. Já falamos mais sobre o problema aqui também!

Ela acontece, porque quando o feto está crescendo e se desenvolvendo durante a gravidez, há uma pequena abertura nos músculos abdominais para que o cordão umbilical passe, conectando a mãe e o bebê. Após o nascimento, a abertura dos músculos abdominais se fecha quando o bebê amadurece. Às vezes, esses músculos não crescem juntos completamente, deixam ainda presente uma pequena abertura. A alça de intestino pode mover-se para a abertura entre os músculos abdominais e ocasionar a hérnia.

Estas hérnias ocorrem em cerca de 10% das crianças, com maior frequência em negros, em meninas com mais frequência do que em meninos e em lactentes prematuros. 

As hérnias ocorrem normalmente em recém-nascidos, mas podem não ser perceptíveis por várias semanas ou meses após o nascimento.

A tensão e o choro não causam hérnias, no entanto, o aumento da pressão no abdome pode tornar a hérnia mais perceptível.

O inchaço pode ser mais perceptível quando o bebê chora, podendo diminuir ou desaparecer quando o bebê relaxa. Se o médico empurrar suavemente essa protuberância quando a criança está calma e deitada, ela geralmente diminui ou volta para o abdome.

Se a hérnia não puder ser reduzida, a alça de intestino pode ficar presa na área enfraquecida dos músculos abdominais. Os sintomas que podem ser observados nesses casos são: abdome cheio e redondo, vômitos, dor ou irritabilidade, vermelhidão ou manchas e febre.

O médico da criança pode pedir radiografias ou ultrassom de abdome para examinar o intestino mais de perto, especialmente se a hérnia não for mais redutível.

Quando a criança tem um ano de idade, muitas hérnias umbilicais podem ter fechado sozinhas, sem necessidade de cirurgia, já que a maioria delas fecha sem cirurgia aos 5 anos de idade.

Há muitas opiniões sobre a necessidade de reparo cirúrgico da hérnia umbilical. Em geral, quando a hérnia se torna maior com a idade, não é redutível, ou ainda está presente após 3 anos, o médico pode sugerir que o reparo cirúrgico. Sempre consulte o médico da criança para determinar o que é melhor para ela.

Durante a operação da hérnia, a criança é anestesiada. Uma pequena incisão é feita no umbigo. A alça de intestino é colocada de volta na cavidade abdominal. Os músculos são então suturados (costurados). Às vezes, um pedaço de material de malha é utilizado para ajudar a fortalecer a região onde os músculos são reparados.

A operação de hérnia é geralmente um processo bastante simples. As crianças que têm hérnia umbilical reparada cirurgicamente também podem ir para casa no mesmo dia.

Hidrocele

Cerca de 10% dos recém-nascidos do sexo masculino apresentam uma hidrocele, um inchaço da bolsa escrotal, que raramente causa sintomas e geralmente desaparece no primeiro ano de vida, apesar de sua aparência, que pode preocupar os pais.

O problema pode se desenvolver antes mesmo do nascimento. Nos fetos, os testículos ficam situados no abdômen, em uma região chamada de retroperitônio. Conforme o feto cresce, no entanto, os testículos migram para baixo em direção ao saco escrotal. Cada testículo, ao entrar no escroto, carrega algumas camadas de peritônio (membrana que reveste o abdômen). Essas camadas contém um líquido específico, que serve para lubrificar o testículo, permitindo que ele possa ser móvel dentro do escroto.

O trajeto percorrido pelos testículos, do retroperitônio até o saco escrotal, se fecha com o passar do tempo. Quando isso não ocorre, uma quantidade maior de fluido tende a ser formada ao redor do testículo, formando, assim, uma hidrocele.

A condição requer cirurgia caso cause sintomas, como aumento progressivo. Caso a varicocele não seja complicada, faz-se uma incisão na bolsa escrotal e os tecidos envolvidos na hidrocele são removidos. Se houver complicações, como uma hérnia inguinal associada, a incisão é feita na região inguinal. Essa abordagem permite a correção de hérnias e outras complicações ao mesmo tempo. Nas crianças é preferível a incisão na virilha sempre para evitar que se deixe de diagnosticar uma hérnia pequena que pode vir a aumentar depois.

Após a cirurgia, haverá um desconforto que exigirá o uso de analgésicos. Na maioria dos casos, a dor se reduz na primeira semana, quando os analgésicos não serão mais necessários. Pode-se ter que restringir algumas atividades por duas semanas. O testículo e a bolsa escrotal podem permanecer inchados por muitas semanas após a cirurgia, mas retornarão ao tamanho normal. Menos de 1% dos pacientes operados apresentam retornos da doença.

Fimose

A fimose infantil é uma condição relativamente comum que consiste na adesão da pele que cobre a ponta do órgão genital do menino ou no seu estreitamento, dificultando a exposição da glande, estando o pênis relaxado ou ereto.

A aderência da pele na ponta do pênis é normal e tende a desaparecer até cerca dos 3 anos de idade. Contudo, quando essa aderência é encontrada em crianças com mais de 3 anos, é importante consultar o pediatra para indicar o tratamento adequado que, em geral, é feito por cirurgia.

É importante tratar a fimose infantil, pois, quando não tratada, ela pode aumentar o risco de infecções da glande ou prepúcio e atrapalhar mais tarde no contato íntimo.

A fimose infantil feminina também é frequente em crianças até aos 3 anos de idade e consiste no fechamento da abertura vaginal devido à aderência entre os pequenos lábios da vagina.

A cirurgia é indicada nos casos em que a fimose já está avançada e consiste na retirada do prepúcio para facilitar a exposição da glande e a higiene do pênis, diminuindo assim o risco de infeções. A cirurgia normalmente é aconselhada entre os 7 e os 10 anos de idade, porém pode ser feita na adolescência, contudo a recuperação é mais lenta e dolorosa. No nosso caso, eles nem sentiram efeitos, porque eram bem pequenos. Não se sentiram operados.

A cirurgia para fimose geralmente dura cerca de 40 minutos, é feita com anestesia local e a criança tem alta no mesmo dia. Os pontos normalmente saem sozinhos e depois de 3 a 4 dias, a criança pode retomar as atividades normais e voltar à escola, porém devem evitar brincadeiras ou exercícios físicos que possam machucar a região íntima como jogar bola, andar de bicicleta, lutar ou correr, durante 3 a 4 semanas.

criptorquidia

Criptorquidia

Existem casos em que os testículos não descem do abdome e precisam ser empurrados até o saco escrotal. A criptorquidia é indolor, um ou dois por cento dos bebês do sexo masculino são afetados. Os bebês prematuros têm maior taxa de incidência de testículos não descidos. Quanto mais prematuro for o bebê, maior será a chance de que apresente o problema.
Os testículos que não descem para o escroto são mais propensos a lesões ou torção testicular (quando a irrigação sanguínea é interrompida), o que os torna inviáveis. Em cerca de 20% dos casos, o testículo não descido se resolve (ou “cai”) por si só nos primeiros três ou quatro meses de vida do bebê. Esses não precisam de cirurgia pediátrica.

Os testículos não descidos podem aumentar o risco de infertilidade, em especial se ambos foram afetados. No entanto, os meninos que têm só um testículo não descido tendem a, por fim, ter filhos na mesma proporção dos que não foram afetados pelo problema.
Os testículos não descidos são ligeiramente mais propensos ao desenvolvimento de câncer, mesmo depois de correção cirúrgica. No entanto, a cirurgia pode reduzir o risco de desenvolver câncer, especialmente se feita de forma precoce, no primeiro ano de vida. Os pais devem saber que os casos de câncer relacionados com testículos não descidos são raros.
O urologista pediátrico provavelmente recomendará um tipo de cirurgia laparoscópica, chamada orquiopexia para mover o testículo para o escroto. Se o testículo puder ser sentido na virilha, a orquiopexia provavelmente será realizada por uma pequena incisão (corte) nessa região. O cirurgião libera o testículo do local em que se encontra no abdome e faz uma manobra para levá-lo para o escroto. As crianças em geral vão para casa no mesmo dia ou na manhã seguinte.

Se o testículo não for sentido na virilha, ele pode estar no abdome ou, simplesmente, estar ausente. É preciso realizar mais explorações para ter certeza que o testículo não ficou no abdome — para permitir que ele funcione adequadamente e para reduzir o risco de câncer não-detectado nesse testículo.

Alguns testículos descem para o escroto, mas não crescem bem e não funcionais. Nesse caso, também é melhor removê-los.

Lábio Leporino / Fenda Palatina

A fissura labial e a fenda palatina, conhecidas popularmente como lábio leporino e goela de lobo, são malformações congênitas, de apresentação variável, que ocorrem durante o desenvolvimento do embrião. A incidência é maior na etnia amarela e menor na negra.

Fissura labial, ou lábio leporino, é uma abertura que começa sempre na lateral do lábio superior, dividindo-o em dois segmentos. Essa falha no fechamento das estruturas pode restringir-se ao lábio ou estender-se até o sulco entre os dentes incisivo lateral e canino, atingir a gengiva, o maxilar superior e alcançar o nariz.

Na fenda palatina, a abertura pode atingir todo o céu da boca e a base do nariz, estabelecendo comunicação direta entre um e outro. Pode, ainda, ser responsável pela ocorrência de úvula bífida (a úvula, ou campainha da garganta, aparece dividida). No entanto, às vezes, essa variação de tamanho é pequena, o que gera algum atraso no diagnóstico.

Estas últimas também são causa de problemas de saúde que incluem má nutrição, distúrbios respiratórios, de fala e audição, infecções crônicas, alterações na dentição. Da mesma forma, elas provocam problemas emocionais, de sociabilidade e de autoestima. Por isso, o tratamento requer abordagem multidisciplinar, isto é, a participação de especialistas na área de cirurgia plástica, otorrinolaringologia, odontologia, fonoaudiologia, por exemplo.

Hoje a recomendação é corrigir o lábio leporino cirurgicamente nas primeiras 24h a 72h depois do nascimento para reconstituir o lábio superior e reposicionar o nariz, pois quase sempre existe um desabamento da asa do nariz, por falta de apoio do músculo que está solto daquele lado.

Nos casos de fissura palatina, só por volta de um, dois anos, a criança deve iniciar a reconstituição cirúrgica do céu da boca. O fechamento completo é realizado em etapas, a fim de assegurar a integridade do arcabouço ósseo e a funcionalidade da musculatura de oclusão, assim como para evitar a deficiência de respiração e a voz anasalada.  Em geral, primeiro se fecha o palato ósseo anterior para alongá-lo, para depois dar continuidade ao tratamento. A conduta preconizada é realizar a cirurgia nem cedo demais para não afetar o crescimento do osso, nem tarde demais para não prejudicar a fala.

Enquanto esperam pelo final da reconstituição, as crianças usam um aparelho ortodôntico, que cobre a fenda palatina e permite que se alimentem.

Na verdade, o tratamento é o longo. Começa no recém-nascido e termina com a consolidação total dos ossos da face, aos dezessete, dezoito anos. Durante todo esse tempo, os portadores de fissuras oronasais devem ser acompanhados por especialistas em diferentes áreas, especialmente por cirurgiões plásticos, fonoaudiólogos e ortodontistas.

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Priscila Correia

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