Aventuras Maternas

A doce lembrança do aleitamento

theo mamandoAmamentar foi a sensação máxima de plenitude que tive na vida, mas em boa parte do tempo mantive esse segredo só para mim. Só depois que parei de amamentar é que deixei explícito que o ato sempre foi uma sensação maravilhosa e muito compensadora.

Parece louco isso que estou dizendo, mas quando as coisas funcionam bem para você, parece que socialmente ou você não é merecedora ou está idealizando uma situação diferente para se sobrepor às outras pessoas.

Digo isso, porque uma coisa que se aprende quando se é mãe, é que nunca estamos agindo corretamente. Não importa o tipo de parto que escolhemos, as ações que temos após o nascimento do bebê, se trabalhamos ou não, se saímos para namorar ou não, se amamentamos até 4 meses ou até 2 anos ou mais. O que importa é que diante da sociedade há sempre algo errado no que fazemos.

Pois bem, quando se trata de amamentação existem sempre dois lados. A defesa do aleitamento materno até os 2 anos, o que de fato é ótimo para a saúde do bebê, e as mães que enfrentam dificuldades durante o aleitamento: seios que racham, bebês preguiçosos que não conseguem mamar até a descida do leite mais gorduroso e que não pegam peso, mães que têm que voltar a trabalhar cedo para colocar sustento dentro de casa, mas infelizmente têm que inserir a mamadeira precocemente na vida do bebê.

Enfim, cada caso é um caso. Mas quando você dá seu depoimento dizendo que amamentar é uma delícia, a oitava maravilha do mundo de tão perfeito, tem-se a impressão de que também estamos agredindo as mães que por algum motivo não conseguiram isso. Os olhares são fulminantes. Por conta disso, mantive meu momento sagrado em segredo. Um segredo muito especial entre mim e meu bebê que trocava olhares ternos comigo e me fazia sentir a mulher mais especial do mundo.

Só de ouvir aquele gritinho baixinho que se transformava em um mega choro de fome, meu coração já acelerava de alegria, meu mundo congelava e eu só conseguia pensar em pegar o bebê no colo, com todo amor, e alimentá-lo, sem nem ao menos lembrar onde estávamos e quem estava por perto.

Eu não tive rachaduras, nem nunca senti dor ao amamentar. Muito pelo contrário, a sensação é que havia um ímã entre mim e meu filho e o leite jorrava toda vez que eu o amamentava.

Antes de ter meu bebê, me sentia constrangida ao pensar  em coocar o seio à mostra publicamente, sem me preocupar com a exposição de um ato tão íntimo. Ao pegá-lo pela primeira vez nos braços percebi que isso seria inevitável. O pensamento era: “Ele precisa mamar e eu preciso alimentá-lo”.

Mas me preparei ativamente para este momento desde o início da gravidez. A partir do sexto mês de gestação eu usava a bucha vegetal toda vez que eu tomava banho para preparar o bico do seio e engrossá-lo para a futura pega. Na mesma fase também comecei a usar umas conchas da NUK, que durante o aleitamento servem para segurar o leite que escorre quando está chegando a hora de amamentar. Elas ajudavam a fazer o formato do bico. Muitos dizem que não é preciso, mas funcionou para mim.

Meus únicos inimigos nessa fase eram o sono e a preguiça. Como meu filho era faminto desde a primeira mamada, ele demorava quase 1 hora a cada vez que eu amamentava. Às vezes ele dormia no peito, mas bastava eu fazer o movimento para tirar o peito e colocá-lo no berço que ele voltava ao movimento como um bezerro. E não! ele não estava usando o peito como chupeta, como muitos me disseram! Ele realmente mamava por todo aquele tempo, afinal chegava a respingar pelo canto da boca o leite que saía.

Resultado: ele mamava 1 hora e duas horas depois queria leite por mais 1 hora. Pensei várias vezes em desistir quando ele fizesse seis meses por conta do cansaço, mas o prazer em alimentá-lo e em ter aquela interação tão intensa, me faziam ter cada vez mais vontade de não interrompermos a amamentação nunca.

Não sei se foram essas atitudes que ajudaram ou se foi a crença real e a enorme vontade para que tudo desse certo quanto ao aleitamento do meu bebê. Mas deu! Pelo menos até ele querer.

O Desmame:

Aos seis meses inseri a primeira papinha de frutas ao cardápio dele. E por duas semanas, fiz isso apenas no lanche da manhã e meus seios sentiram o incômodo pelo excesso de leite acumulado e não utilizado naquele momento. Mas o Theo estava adorando experimentar os novos sabores. Depois veio o primeiro almoço, refeição salgada e foram mais dois meses, mantendo o lanche da tarde e o jantar no meu seio. Eu não conseguia desgrudar. Levava meu filho para todas as reuniões de trabalho e isso era uma forma de mantermos o vínculo.

Mas ele queria comer, ficava feliz da vida quando sentia o cheiro da comida. Então coloquei o jantar em seu cardápio. Mantive lanche da tarde, mamada matinal e noturna em nossa rotina.Também nessa fase a energia dele transbordava. Ele queria pular do berço a todo custo, tirava minhas blusas ou vestidos sempre que podia.

Com muita pena de mim, tirei o lanche da tarde e fiquei com as mamadas nas horas extremas. 

Mas aos poucos, a amamentação se tornou realmente chupeta para ele. O peito o fazia dormir, então eram 5 minutos para fazê-lo desmaiar e pronto. Não era mais um momento de alimento, apenas de conforto. Para mim, era uma alegria e um cordão umbilical inquebrável.

Um dia pela manhã, ele não quis mamar. Só me procurou na hora que o sono bateu. Então comecei a ver que ele estava desmamando naturalmente. Eu forçava, não queria terminar com aquilo.

Foi então que meu marido sugeriu uma viagem de uma noite sozinhos. Para comemorarmos o aniversário de casamento e testarmos o Theo. Como ele se comportaria sem a mamada da noite? Ele tinha exatos 10 meses e 15 dias. Íamos viajar às 9h da manhã, mas tive uma crise de choro, um desespero sem fim. Não queria fazer aquilo! Peguei o Theo e o coloquei no peito para dar a mamada do lanche da manhã de novo. Ele mamou como há muito não fazia. Parecia que sabia o que estava acontecendo.

Quando ele adormeceu, meu marido me chamou para sairmos, mas eu surtei, cheguei a desmaiar de tanto desespero, não conseguia suportar aquela ruptura, não queria quebrar aquela sensação maravilhosa. Mas ele me convenceu de que precisávamos de um tempo para nós, uma noite apenas! E tínhamos que saber como o Theo se comportaria. Se faria falta ou não.

Fomos apenas no fim do dia e o deixamos com minha mãe. Liguei duzentas vezes e fui informada de que ele nem notou minha ausência. Sofri! Claro que deve ter notado, mas não chorou, não resmungou, tomou a mamadeira feliz da vida.

Não acreditei em nada disso e no dia seguinte estava cedo em casa para ver se ele realmente estava bem. E sim, ele não só estava ótimo, como simplesmente olhou para mim como se aquele nosso momento fosse parte do passado. Ele nunca mais quis o peito. À noite peguei ele no colo e a única coisa que ele quis de mim foi se aconchegar para sentir meus batimentos cardíacos. Ainda o amamentei mais duas vezes durante o dia. Mas ele realmente não queria mais, tinha descoberto os deliciosos sabores da maçã, do brócolis e do aipim. Quanto a mim, amor, carinho, cumplicidade e afagos eram os melhores nutrientes que eu poderia passar dali por diante.

Esponja vegetal

Esponja vegetal

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Concha de Amamentação

                        

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Priscila Correia

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