Aventuras Maternas

Decisão do STF é apenas o primeiro passo contra a influência de personagens na alimentação saudável

Prato-LeaozinhoA Organização Mundial da Saúde classificou a obesidade infantil como um dos problemas de saúde pública mais graves do século XXI, e, neste cenário, inúmeros projetos e ações promovidas por mães, nutricionistas, pediatras e escolas surgem para mostrar que a alimentação infantil pode ser saudável e divertida. Ou seja, é possível comer bem se divertindo, usando personagens a favor dos bons hábitos alimentares. Mas quantos desenhos ou personagens aparecem comendo brócolis no lugar de um bolo de chocolate?

Todos sabem que a família exerce uma grande influência na rotina da criança desde pequena e não dá para imaginar que ela venha a ter uma alimentação saudável se o restante da casa não tiver também. Mas esse é apenas o primeiro passo para evitar que doenças como obesidade, diabetes, hipertensão, entre outras, sejam desenvolvidas ao longo da vida.

Isso porque independente da nossa rotina e exemplos, é fato também que a partir dos 2 anos de idade, a propaganda impõe um grande potencial nos pedidos e vontades que as crianças passam a apresentar. Está provado através de estudos científicos que as crianças se apaixonam pelos personagens de que gostam, e eles por sua vez, se colocados nos alimentos, tem a capacidade de influenciar não só na escolha dos produtos, mas tão ou mais importante do que isso, influenciar o gosto das crianças, ou seja, comendo alimentos iguais, as crianças vão “sentir” que o alimento com o personagem é mais gostoso, conforme os estudos publicados pela Universidade de Yale nos Estados Unidos, por exemplo.

Eles estudaram 40 crianças com idades entre 4 e 6 anos, que provaram tipos de alimentos (biscoito e jujuba), que eram-lhes apresentados em pares idênticos, sendo um deles com embalagem de um personagem popular de cartoon (Shrek, Scooby Doo, Dora) e o outro sem qualquer personagem. Após experimentarem cada um dos alimentos, com e sem embalagem dos cartoons, as crianças eram interrogadas: “Você acha que esses dois alimentos têm o mesmo gosto? “ No caso de acharem diferentes, perguntava-se às crianças: “Qual dos dois é o mais gostoso? Qual dos dois você escolheria?” Para 50-55% das crianças,  o produto da embalagem com cartoon era mais gostoso, 25-37.5% não declararam preferência e 7-25% indicaram que o produto sem o apelo do cartoon era  melhor.

Quem nunca comprou a maçã com embalagem de personagens porque era mais atraente do que a maçã comum? Ou quem nunca fez um prato colorido com carinha para os filhos terem vontade de comer?

O raciocínio da indústria alimentícia, infelizmente é embasado nessas referências e, portanto a decisão tomada pela 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) proibindo na tarde desta quinta-feira (10) a publicidade dirigida às crianças é tão importante. A deliberação ocorreu por conta da campanha “É Hora de Shrek”, de 2007, da empresa Pandurata, detentora da marca Bauducco. Nela, as crianças precisavam juntar cinco embalagens de qualquer produto da linha ‘Gulosos Bauducco’ e pagar mais R$5,00 para ganhar um relógio exclusivo do filme.

A Ação Civil Pública do Ministério Público de São Paulo teve origem na atuação do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, que alegou a abusividade da campanha por se dirigir ao público infantil e o fato de se tratar de venda casada. Em 4 de julho de 2007, a empresa foi notificada pelo Criança e Consumo sobre os abusos da promoção. Na sequência, o caso foi denunciado ao Ministério Público de São Paulo com o relato das ilegalidades cometidas. O Ministério Público propôs Ação Civil Pública. Em 2013, o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou a Pandurata a pagamento de R$ 300 mil de indenização pelos danos causados à sociedade pela campanha publicitária de 2007.

Segundo dados do Ministério da Saúde, hoje, uma a cada três crianças brasileiras são classificadas como obesas. Há pouco mais de 25 anos não era assim. Em 1989, apenas 13% dos brasileiros de cinco a nove anos tinham mais gordura no corpo do que deveriam. A quantidade de crianças acima do peso mais que dobrou nas últimas duas décadas.

Então, vale ficar de olho no que seu filho pede. Independente de promoções e propagandas, a embalagem colorida e divertida pode ser muito atraente, mas o que vale a pena não vem em embalagem no supermercado, geralmente é comprado fresco e sendo pesado.

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Priscila Correia

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