Hoje, 02 de abril, é comemorado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Por isso, durante toda a semana, teremos matérias sobre o assunto, inclusive com depoimentos de mães que venceram desafios com seus filhos diagnosticados com Transtorno de Espectro Autista (TEA) e contarão um pouco de suas histórias.
Para começar, conversamos com a fonoaudióloga Danielle Damasceno, que também é terapeuta DIR Floortime e Certificada em Integração Sensorial, sobre alguns mitos e verdades sobre o TEA.
1. Como os pais podem ajudar no desenvolvimento da criança?
Os pais ajudam muito quando participam de todo o processo. Eles podem se tornar os melhores terapeutas dos filhos, pois são as pessoas que possuem a maior relação de afeto que a criança pode ter. Quando aprendem a reproduzir no dia a dia as ”estratégias terapêuticas”, eles ajudam o desenvolvimento do filho mais do que qualquer outro terapeuta.
2. A fala pode ser prejudicada? Fale sobre isso.
Sim. Uma das características do diagnóstico de Transtorno do Espectro do autismo é o prejuízo no desenvolvimento da linguagem.
3. E a mobilidade? Fale sobre isso.
Não existe algo que relacione a dificuldade motora para que haja o diagnóstico, porém, muitos deles possuem apraxia, ou dispraxia (dificuldade no planejamento da ação) o que pode ocasionar algum prejuízo motor como consequência. Entretanto, na maioria dos casos, isso atrapalha mais a fala (porque é um ato motor) e não a locomoção em si. Ele pode ter mais dificuldade em processar o passo a passo de subir uma escada diferente da que ele está acostumado a ver, por exemplo.
4. O autismo é classificado em níveis? Fale sobre isso.
O diagnóstico hoje é feito como Transtorno do Espectro do Autismo por possuir uma série de fatores muito diferentes que podem ser enquadrado no diagnóstico de uma pessoa. Então, ele pode ter diversos fatores diferentes, ou apenas poucos. Porém, será classificado com o mesmo diagnóstico de acordo com DSM V (Manual Diagnóstico Estatístico).
5. Animais de estimação são indicados para o desenvolvimento de crianças com TEA? Por que?
Sim. Animais são sempre bem vindos para qualquer criança. existem profissionais especializados em treinar cães para brincarem de forma terapêutica com crianças com autismo. Mesmo que não sejam esses animais treinados, eles sempre serão indicados, porque demonstram afeto à essas crianças de forma que elas poderiam não aceitar de outras pessoas. Porém, vindo dos animais, elas tendem a aceitar (não em todos os casos, este é apenas um exemplo).
6. Embora não exista a cura, podem se tornar adultos que interagem facilmente com outras pessoas?
Sim. O autista é totalmente capaz de aprender regras sociais. A diferença é que as vezes ele pode interagir com os outros de forma um pouco estranha, e aí cabe também ao outro compreender e aceitar o “diferente” numa relação.
7. Indicaria terapia para os pais de crianças autistas? Por que?
Sim. É muito importante que a família tenha um suporte emocional, principalmente no momento do diagnóstico.
8. Quais as terapias que devem ser incluídas no dia a dia da criança com TEA? Fono? Fisio? Mais alguma?
Dependendo das particularidades de cada caso, pode ser incluído o profissional psicopedagogo, psicólogo, terapeuta ocupacional, o psicomotricista, o educador físico. Cada criança com autismo tem uma demanda diferente, e por isso é necessário fazer uma avaliação para indicar os melhores profissionais dependendo das demandas das criança.
9. Quais são os ambientes que normalmente causam mal estar nos autistas? Por que?
Depende das desordens sensoriais que ele possui. Um ambiente muito ruidoso pode ser muito desconfortável para alguns e ao mesmo tempo prazeroso pra outros. Mas, em geral, os shoppings costumam ser mais desconfortáveis, por reunirem muitos estímulos sensoriais ao mesmo tempo, causando dificuldade em processar tudo ao mesmo tempo (ruídos, muitas pessoas, a velocidade das pessoas, muitos cheiros diferentes, muitas cores…).
10. Nos estudos, eles podem se desenvolver da mesma forma que qualquer outra criança?
Vai depender do nível de comprometimento que essa criança possui, e da forma que lhe é ensinado na escola. O autista é completamente capaz de aprender. Porém, é necessário muitas vezes estar disposto a adaptar a forma de ensiná-lo para que ele compreenda e consiga ultrapassar suas dificuldades.
11. Embora os sinais para identificar o TEA sejam mais frequentes a partir dos 2/3 anos, os pais podem ficar alertas a algum outro sinal quando a criança é ainda menor? Quais?
Os pais precisam ficar alertas ao menor sinal de inadequação no brincar (utilizar os brinquedos de forma estranha, diferente do que seria esperado com aquele objeto), a falta de expressão de afeto, e o atraso de linguagem.
12. Existe algum exame que possa ser feito para identificar a TEA?
Não. O diagnóstico é clínico; por isso é necessário que a família leve a criança para um neurologista especialista em desenvolvimento infantil.
13. Se tivesse que passar alguma mensagem para os pais que descobriram que seu filho tem TEA, qual seria?
Invistam seu tempo junto com seu filho, e façam o possível para aprender a ser mais interessantes para ele do que qualquer brinquedo ou vídeo de desenhos.