A chegada do bebê, tão esperada, é carregada de expectativas, alegrias e momentos de puro encantamento. Mas também é um período de adequações, dedicação e, sim, alguma frustração, especialmente quando se trata de amamentação. Afinal, temos o sonho romântico de que nossos filhos vão sentir fome e nossos seios se encaixarão perfeitamente em suas bocas, para que possamos alimenta-los com tudo que precisam. Porém, na prática, esse momento, principalmente nos primeiros dias, não é tão perfeito quanto imaginamos.
Conversamos com Eveline Duarte, nutricionista materno-infantil, que pontuou como amamentar é um ato de doação e de entrega absoluta. “A amamentação é informação e cuidado! Aprender as técnicas, pega, posições, ganho de peso, rotina do bebê, dificuldades e, principalmente, buscar ajuda quando necessário. Toda lactante precisa de apoio. Amamentar não é fácil e não é instintivo. Amamentar é técnica de mãe e bebê e envolve cansaço, sentimentos de frustração, de ansiedade e de preocupação”. A seguir, ela esclarece algumas dúvidas e dá algumas dicas para esse momento ser mais tranquilo para mães e filhos.
1. Golden Hour:
Eveline Duarte – “A ‘hora de ouro’ é o momento mágico para que o vínculo mãe e bebê comece. Apenas em colocar o bebê no colo da mãe e ele sentir seus batimentos, sua temperatura e sua respiração imediatamente após o nascimento já aumentam as chances do bebê mamar melhor e estreitar o vínculo maternal. Independentemente do tipo de parto, peça pro seu obstetra fazer o Golden Hour”.
2. Apojadura e importância do colostro:
Eveline Duarte – “A apojadura ocorre por volta do 5° ao 7° dia após o parto. Antes desse período existe o colostro, um líquido as vezes amarelado, outras esbranquiçado. E para entendermos a importância do colostro, ele é a primeira vacina do seu bebê por conter muitos anticorpos e ainda inúmeros benefícios para quem acaba de nascer”.
3. Perda de peso logo após o nascimento:
Eveline Duarte – “É aceitável a perda de peso nos primeiros dias de vida do bebê, de até 10% do peso do nascimento. Isso se deve por conta da perda de líquidos pela urina e suor, e até mesmo pelas mamadas. Chamamos de ‘perda de peso de maternidade’. Mesmo com essa perda, o bebê necessariamente precisa fazer xixi. Esse é um sinal de que ele não está desidratando e que está mamando o suficiente. Vale lembrar que um bebê nasce com uma capacidade gástrica muito pequena, de aproximadamente 3ml. Isso mesmo, apenas 3ml, e a cada dia esse volume vai aumentando. Por isso, não se assuste com a quantidade de colostro sendo produzido. Seu organismo é sábio, confie nele. A partir do 15° dia de vida do bebê, precisamos avaliar o ganho, se essa criança recuperou o peso perdido de maternidade e se está evoluindo bem. Caso contrário, o pediatra ou o nutricionista infantil irá tomar alguma decisão para que esse bebê não continue perdendo peso”.
4. Estimulação na amamentação:
Eveline Duarte – “Os bebês precisam do tempo deles. Vamos avaliar uma coisa: pensem em um trabalho de parto para a mãe. Cansativo, certo? Alguém já pensou no bebê? Ele também cansa bastante ao nascer. E agora vamos pensar nas mamadas. A ordenha não é fácil, muito esforço para um serzinho tão pequeno e com uma musculatura tão imatura. Por isso, com o passar do tempo, esse bebê vai adquirindo força facial, mamando mais forte e mais rápido, além de ter mais conhecimento da técnica da ordenha. O ideal é que esse bebê mais ‘preguiçoso’ não durma imediatamente na mamada. Acorde-o pegando no pezinho, nas bochechas. Tire um pouco do conforto do quentinho, tirando algumas peças de roupas”.
5. Alimentação suficiente e troca de fraldas:
Eveline Duarte – “Fralda cheia de xixi! Essa é a primeira técnica para avaliar se o seu bebê está mamando direitinho. Podemos também avaliar o espaçamento das mamadas. Um bebê que mama de hora em hora pode não estar mamando o leite posterior, o leite mais gorduroso, e, assim, poderá não ganhar peso. Outra avaliação é por meio do ganho de peso com as pesagens no pediatra e/ou no nutricionista infantil”.
6. Dificuldade para se alimentar:
Eveline Duarte – “Pode ser por várias questões. Que o leite não está abundante e ele precisa fazer muita força pra sugar; que ele mesmo não tem uma musculatura muito forte e tem dificuldade; que sente algum desconforto gastro intestinal que precisa ser avaliado. E só o pediatra ou o nutricionista infantil podem avaliar cada caso isoladamente”.
7. Sensação de redução de leite:
Eveline Duarte – “A partir do 2° mês de vida do bebê, ele já está mais adaptado com a rotina e com a frequência das mamadas. Por conta disso, o organismo da mãe sofre um reajuste de volume. Esse corpo já entendeu qual quantidade esse bebê mama, e que não precisa produzir em excesso para que não fique estocado nos ductos, podendo gerar uma inflamação, a mastite. É o momento em que os bebês mais choram no peito, reclamam dessa diminuição do volume. O que fazer? Esperar umas duas semanas, que aos pouquinhos ele se conforma em fazer mais força”.
8. Bicos invertidos:
Eveline Duarte – “Bicos invertidos têm mais dificuldades para a pega. Quando o bico não fica muito aparente, bem definido, esse bebê pode ter dificuldade em fazer uma pega correta. Normalmente, os bicos de silicone resolvem. Porém, o melhor é que o profissional avalie, tente mostrar para a mãe algumas técnicas da boa pega para que o bebê não precise do bico artificial, porque o mais comum é que esse bico fique por todo o aleitamento. E vamos combinar? Não é tão prático levar pra cima e pra baixo os bicos, esterilizá-los, e até mesmo evitar que eles caiam no chão e contaminem”.
9. Proliferação de fungos:
Eveline Duarte – “Para evitar a proliferação de fungos, não deixe essa mama muito úmida e abafada”.
10. Fissuras:
Eveline Duarte – “O melhor é que as fissuras não apareçam. Evitar é o melhor remédio. E para que isso ocorra, o ideal é que a mãe saiba das técnicas de uma pega correta antes mesmo do bebê nascer. Se infelizmente elas surgirem, o ideal é passar o próprio leite nos bicos e pegar sol. E continuar amamentando”.
11. Dor nos bicos dos seios:
Eveline Duarte – “É normal, sim! O atrito acontece em cada mamada. É desconfortável a sucção de tantas mamadas porque essa mãe ainda não se adaptou a nova rotina. O desconforto costuma passar em uma semana. Uma dica preciosa é levar uma pomadinha de lanolina para maternidade”.
12. Tempo certo da mamada:
Eveline Duarte – “É o tempo de cada bebê. Tem bebê que descansa mais quando mama, outros mamam rápido e ficam saciados. Depende da força de sucção e a personalidade de cada bebê”.
13. Fraldas sujas X bebê hidratado e nutrido:
Eveline Duarte – “Isso é muito relativo de cada bebê e de cada fase também. Mas, o mais comum, são de 8 a 10 por dia”.
14. Alimentação da mãe na amamentação:
Eveline Duarte – “A alimentação da mãe precisa ser saudável. A lactante não pode esquecer que ela ainda é a responsável pelo crescimento e desenvolvimento do filho. Por isso, quanto mais variedade e nutritiva for essa alimentação, melhor será a qualidade do seu leite. Vale diminuir um pouco a lactose da alimentação da mãe, mas só diminuir mesmo, ok? A mãe produz lactose no seu próprio leite, independentemente do seu consumo. A lactose é o carboidrato do leite dos mamíferos. Nenhum alimento é proibido para a mãe lactante, independentemente das cólicas que normalmente são fisiológicas”.