“Quebra crânio”, “desafio da rasteira”, “roleta humana”. Nem de longe isso deve ser chamado de brincadeira, mas sim de uma agressão que está sendo retratada em vídeo e divulgada nas redes sociais por centenas de adolescentes.
Denise Lellis, PHD em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), explica que é uma atitude que ultrapassa os limites do bullying e passa ser uma agressão física, que denota em uma total falta de empatia e de preocupação, tanto com o bem-estar emocional como com o bem-estar físico um do outro. E alerta que isso pode ser uma consequência do estilo tóxico de vida ao qual as crianças têm sido inseridas. “Não é falta de palmada, mas falta de presença”, alerta Denise.
Quando crianças e adolescentes assistem a esse tipo de vídeo e saem repetindo a atitude, é porque não tem um adulto para dividir e trocar ideia, e é aí que nasce e mora o perigo.
“No momento, o foco está nas vítimas, com os que são machucados fisicamente, mas é preciso olhar para os adolescentes que estão fazendo isso, pois o futuro deles está em jogo. Quem serão esses adultos que agridem sem se preocupar com o outro? A adolescência é consequência da infância”, comenta.
Lellis conta que há muitos comentários culpando a geração, que não é resiliente, que não tem desenvolvimento emocional. Mas, segundo ela, isso começa na infância e pelos pais. “Os pais têm a oportunidade de impedir que esse tipo de comportamento agressivo aconteça por meio da presença. Pais que assistem a esse tipo de vídeo junto com seus filhos e trocam ideias com a criança e criticam esse tipo de atitude estão agindo de maneira preventiva”, explica a especialista.
Para famílias que já têm filhos adolescentes e que viram esses vídeos, o conselho é chamar para uma conversa e tentar ajudá-los a se colocar no lugar de quem pode se machucar. Os pais devem também orientar e alertar o filho, já que ele também pode ser a vítima. Nesse caso, é importante que se converse de forma clara e verdadeira para que não se crie um pânico em relação aos amigos.
“Essa geração não é culpada, mas sim vítima, porque está sozinha. A internet tem conversado muito mais com crianças e adolescentes porque estamos permitindo que isso aconteça. Porém, muita atenção, porque a internet também não é a vilã. O vilão é o estilo de vida. Estamos deixando os nossos filhos a mercê de quem quiser falar com eles. Um bom indicador é: se a criança não pode andar na rua sozinha, então ela também não pode ficar na internet sozinha”, enfatiza Denise.
Também é uma oportunidade para as escolas, a partir desses fatos, alertar e trabalhar o cuidado com o outro e a empatia, já que a criança que passou pela situação se machucou não só fisicamente, mas emocionalmente, podendo se sentir humilhada e constrangida. É uma violência infinita.
“Meu último recado é: pais, aproveitem essa oportunidade para dialogar com seus filhos. Não se deve procurar culpados, mas se abrir ao diálogo, independentemente da idade da criança. Coloque-a dos dois lados, do agressor e da vítima. Vamos trabalhar a empatia, que está em falta no mundo”, conclui Lellis.
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Informações: Assessoria de Imprensa.