Após uma marca de cosméticos divulgar um ator transexual para a campanha de Dia dos Pais e ser alvo de ataques transfóbicos em redes sociais, o questionamento sobre a pluralidade de modelos familiares veio à tona.
Há tempos que o modelo patriarcal deixou de ser o único caminho, e hoje
vemos que novas possibilidades foram abertas para que a diversidade seja também
um viés nas famílias. Essas, são formadas com pai ou mãe solo, crianças
adotadas por casais homoafetivos e outras formas divergentes do modelo de
triangulação (pai, mãe e filho) que já foi comumente esperado pela sociedade.
A psicóloga Adriana Cabana, do Grupo Prontobaby, acredita que casais
homoafetivos que adotaram filhos ou usaram meios como inseminação artificial e
barriga de aluguel ainda enfrentam muito preconceito no Brasil, sendo alvos de
frequentes de comentários carregados de julgamentos.
“Em geral, quem questiona os novos formatos de família ainda está preso ao
modelo propaganda de margarina que, na realidade, é um dos formatos existentes
na sociedade, mas não o único”, pontua.
Para a psicóloga Laysa Barreto Alves, onde há amor, também haverá diálogo e
transparência na criação dos filhos, independentemente do modelo de família.
“A paternagem implica em ensinar aos filhos a amarem e aceitarem os pais, independentemente destes serem homossexuais ou não”, diz.
Mas existe alguma forma de “proteger” os filhos de famílias não convencionais do preconceito ou sofrimento? Essa e outras dúvidas sobre o tema as psicólogas Adriana Cabana e Laysa Barreto Alves esclarecem a seguir. Confira:
Como a separação dos pais pode afetar a criança?
Toda separação deve ser cuidadosamente tratada de modo ético e responsável pelos pais. As crianças devem entender que o fato de os pais se separarem, nada tem a ver com a falta de amor em relação a ela e muito menos por culpa dela. Deve-se deixar claro para os pequenos que a decisão da separação é dos pais, e o diálogo sempre será o melhor caminho.
Como ficar atento ao emocional da criança quando a decisão de criação é a de seguir um caminho solo?
Primeiramente, pais e mães devem ter o desejo de assumir essa responsabilidade sozinhos, não direcionando o cuidado para terceiros com a função materna, como avós, irmãs e tias. Essas pessoas podem até auxiliar nos cuidados, mas a responsabilidade após a decisão de assumir o filho deve ser somente do pai ou da mãe. Após ter esta clareza, é preciso sensibilidade para trabalhar a ausência do outro com muita transparência e diálogo, sempre colocando os motivos reais da separação, dentro da realidade psíquica da faixa etária de cada criança para que ela tenha o entendimento.
Uma pesquisa publicada no periódico “The Journal of Developmental and Behavioural Paediatrics” e realizada na Universidade de Roma apontou que filhos de casais homoafetivos crescem tão bem quanto os criados por heterossexuais e até têm mais “estabilidade emocional”. Em casos de adoções de crianças mais velhas, qual é a melhor maneira de explicar esse modelo familiar para que a criança se desprenda de qualquer preconceito que possa existir?
A adoção não pode ser vista como um papel social ou como uma qualidade. Ser pai adotivo é estar pronto para amar uma criança incondicionalmente, independentemente da forma que ela é, da cultura, dos problemas que ela vai trazer de carga genética, de comportamento. A partir deste entendimento, pode-se ter uma ideia do lugar simbólico que as crianças são chamadas a ocupar na família. O lugar de sujeito ativo que pode seguir caminhos próprios, pois sempre terá a garantia do amor dos pais. Os pais, em geral, não escolhem um momento específico para revelar a condição homoafetiva, acreditam que a verdade pode ser dita aos poucos, de acordo com as perguntas que são feitas pelos filhos, bem como levando em consideração a idade e capacidade de compreensão destes.
Existe idade certa para explicar para a criança o porquê de ela ter dois pais ou duas mães, ou ainda por que tem uma criação de pai ou mãe solo?
A paternagem implica em ensinar aos filhos a amarem e aceitarem os pais, independentemente destes serem homossexuais ou não. Por outro lado, os filhos começam a desenvolver o sentido de filiação indagando aos pais sobre as diferenças existentes entre a família deles e as outras famílias. À medida que estas indagações são respondidas pelos pais adotivos, são produzidos novos sentidos que prepararão os filhos para enfrentarem o estranhamento social causado pela família homoafetiva. O acompanhamento psicológico é importante nesse processo de desenvolvimento de relações afetivas. O psicólogo vai saber lidar de forma lúdica e utilizar contos da literatura infanto-juvenil de acordo com às idades das crianças ou adolescentes. Histórias com modelos diferentes de família são um bom exemplo a fim de desenvolver um processo de superação para lidar com as múltiplas situações que possam vir a surgir.
Como trabalhar emocional das crianças para situações de preconceito ?
A terapia é importante para o processo de desenvolvimento das relações afetivas na infância. É importante o terapeuta conduzir as situações de forma lúdica, utilizando histórias com modelos diferentes de família, por exemplo, a fim de desenvolver um processo de superação para lidar com as múltiplas situações que possam vir a surgir, inclusive o preconceito. Casais homoafetivos que optam por ter um filho terão, além da função de educar, a condição de constante superação. Em geral, as crianças quando amadas, respeitadas, protegidas e criadas em um ambiente no qual elas se sentem seguras, geralmente se saem muito bem na defesa de seus núcleos, seja em qual for a constituição de gêneros conjugais.
Informações: Assessoria de Imprensa.