Cerca de 30% das crianças brasileiras respiram pela boca e apresentam a chamada “síndrome da respiração bucal”. O problema é que o ar que entra pela boca é mais agressivo ao organismo, pois chega ao pulmão com as impurezas do ambiente. “O ser humano nasceu para respirar pelo nariz, e não pela boca, pois o nariz funciona como uma barreira: filtra, umedece e aquece o ar”, explica Kamila Godoy, dentista, membro da Associação Brasileira de Ortodontia e pesquisadora da Faculdade de Odontologia da USP.
Segundo a dentista, quem tem uma respiração oral por mais de quatro meses apresenta narinas entupidas, desconforto na garganta e voz anasalada. “A boca não precisa estar escancarada, bastam os lábios e dentes ficarem entreabertos. Pode-se tornar um problema sério, prejudicando a saúde, a qualidade de vida e o desenvolvimento das crianças”, frisa Kamila Godoy.
Principais causas e consequências
O diagnóstico nem sempre é fácil. As causas mais comuns são as rinites alérgicas e o aumento das amígdalas (localizadas na garganta) e adenoides (também conhecidas como “carne esponjosa”). De acordo com a especialista, quando estas últimas ficam grandes demais, o ar não passa. Outras causas são as inflamatórias (sinusite), infecciosas (rinofaringites) e alterações anatômicas (desvio de septo).
Ao longo do tempo, o hábito de respirar pela boca provoca flacidez dos músculos faciais, dos lábios e língua, alterações na postura corporal, deformidades faciais, insuficiência respiratória, má oclusão dentária, cansaço frequente, boca seca, mau hálito, falta de apetite e noites mal dormidas.
“Por causa da flacidez na boca e na língua, o processo de mastigação e deglutição também fica comprometido. Resultado: a criança não tem uma alimentação adequada, já que é impossível triturar a comida e respirar ao mesmo tempo. Ela acaba comendo rápido, mastigando pouco e utiliza líquidos para auxiliar na hora de engolir. Com isso, passa a preferir alimentos pastosos”, afirma a dentista.
Da mesma forma, a fala, o sono e a concentração sofrem danos. Pode ainda ocorrer uma menor oxigenação cerebral quando se respira pela boca, o que prejudica o aprendizado e faz com que a criança acorde cansada. Também apresenta episódios de apneias noturnas, que irão causar diversos despertares, atrapalhando o sono.
“Pelo fato da respiração bucal ocasionar diferentes patologias, o ideal é buscar, inicialmente, ajuda pediátrica. Dependendo da complexidade do quadro, a criança será orientada a um tratamento que pode envolver várias especialidades médicas, como otorrino, dentista, fonoaudiólogo, nutricionista e até apoio psicopedagógico”, finaliza Kamila Godoy.
Informações: Assessoria de Imprensa.