Por Sueli Conte, licenciada em Psicologia, com especialização em psicopedagogia, mestre em educação e em neurociência, e autora dos livros ‘Re-novações’, ‘Bastidores de uma escola’ e, mais recentemente, da obra ‘Educando para a vida no pós-pandemia’.
O Brasil tem, atualmente, cerca de 70,4 milhões de crianças e adolescentes, com idades entre 0 e 19 anos. Isso significa que aproximadamente 33% da população do país é composta por esses jovens. Apesar de ser um período de grandes descobertas e de experiências marcantes, a adolescência também costuma ser uma fase complicada, caracterizada por uma série de dualidades.
É bastante comum que nesse período da vida, compreendido entre os 12 e 18 anos, aconteça um turbilhão de transformações nas vidas de meninos e meninas. Os hormônios são responsáveis por grandes mudanças. O corpo, o comportamento, o humor, os sentimentos, tudo é afetado por essa transição pela qual o organismo passa. Além disso, eles deixam de ser considerados crianças em algumas situações, porém não são maduros o suficiente para tantas outras, o que normalmente cria uma certa confusão quanto a quem o adolescente é e que lugar ele ocupa na família e na sociedade.
Nessa fase, é comum que eles queiram passar muito tempo sozinhos. Alguns desejam se esconder mesmo. Ao mesmo tempo, anseiam por serem notados e reconhecidos. Também é durante essa época da vida em que apesar de não terem certeza de nada, possuem uma certa convicção sobre todas as coisas e, por diversas vezes, acabam debatendo de forma acalorada sobre determinados temas.
Os sentimentos ficam desencontrados, os adolescentes se sentem pressionados por si mesmos, por seus pais, pelos amigos, irmãos, professores e por tantas outras pessoas, mesmo que nenhuma palavra do gênero sejam direcionadas a eles. Também é normal que tudo gere um certo medo e ansiedade, que exista um grande receio quanto ao futuro, especialmente quando é preciso pensar a respeito da escolha profissional. Ao mesmo tempo, fervilham questões importantes ligadas à estética. A aceitação por um determinado grupo de amigos e os relacionamentos ganham uma importância absurda.
É claro que essa fase também não é simples para os pais e responsáveis por esses jovens. Lidar com todos os dilemas da adolescência certamente não foi algo simples para nenhum de nós. Afinal, boa parte dos adultos que se responsabilizam por um adolescente hoje em dia cresceu em uma época em que sequer se sonhava com a possibilidade de ter certas conversas com nossos pais, tios ou padrinhos.
Assim, não é de se estranhar que não saibamos como ajudar os nossos adolescentes, como abordar certos assuntos e comportamentos ou acompanhar novos costumes. Sem respostas concretas ou sem saber como agir, discussões importantes acabam acontecendo, mesmo que a qualidade do relacionamento entre pais e filhos seja boa.
Recomendo que voltemos às nossas experiências. Sabemos que essa fase da vida pode ser dolorida e conflituosa. Revisitar as nossas experiências, nossos dilemas e as dificuldades que nós enfrentamos pode ser uma forma interessante de entender como lidar com esses comportamentos típicos da adolescência. Acredito que é nosso papel enquanto adultos, sejamos nós pais ou responsáveis, estar constantemente atentos aos mínimos sinais de mudança de comportamento por parte dos nossos adolescentes para que possamos agir prontamente e evitar que determinadas situações tomem grandes proporções. Em diversas delas, a intervenção não precisa ser radical. Basta uma boa conversa e orientações dadas de maneira didática e carinhosa para que a compreensão aconteça. Que tal criar, por exemplo, um momento entre pai e filho na semana para o desenvolvimento de uma atividade em parceria? Esse tipo de situação pode ser muito eficaz para o estabelecimento de laços e vínculos mais fortes.
A partir daí, a orientação é supervisionar o que eles estão fazendo, com quem andam e, especialmente, com quem conversam na internet. Outro ponto importante: adolescentes precisam de limites e esperam isso dos pais. Novamente, reitero, é necessário que tudo seja feito com equilíbrio e diálogo, deixando claro qual é o objetivo final por trás dessas atitudes cuidadosas e protetoras, que é a maneira como muitos deles entendem os nossos comportamentos: formar cidadãos éticos, honestos, que possam ter um futuro promissor.
Informações: Assessoria de Imprensa.