Aventuras Maternas

Como as redes sociais dão voz para mães pretas, solo e plus size?

No último mês de maio, a Ipanema convidou as influenciadoras Carol Santos, Gleyce Silva e Mari Lima para compartilharem nas redes sociais um momento “tal mãe, tal filha” com as sandálias Solar, disponível nos tamanhos adulto, infantil e baby, e Class Duo, disponível nos tamanhos adulto e infantil. A marca também propôs uma conversa com o trio para colocar em pauta a maternidade real, indo além das romantizações e mostrando todo corre que acompanha as alegrias de ser mãe.
 
Sendo mães de meninas e compartilhando conteúdos sobre a maternidade real na internet, cada criadora traz uma visão particular sobre a experiência de ser mãe. Enquanto Gleyce mostra seu dia a dia como mãe preta e solo, Carol e Mari dividem suas vivências como mães com diferentes corpos.
 
Segue a entrevista completa com cada influenciadora:
 
@preetagley – 𝐆𝐥𝐞𝐲𝐜𝐞 𝐒𝐢𝐥𝐯𝐚 – https://www.instagram.com/preetagley/ 
 
1. Você poderia falar um pouquinho sobre sua relação com a maternidade? Você sempre quis ser mãe?
Eu não imaginava e nem esperava ser mãe aos 21 anos, mas, em algum momento, desejava ser mãe, sim, e de menina. Foi tudo muito confuso, um turbilhão de sentimentos, ainda mais por ser mãe solo, eu me vi sem chão no primeiro momento. Mas quando caiu a ficha, quando eu ouvi o coraçãozinho de um ser dentro de mim, eu aceitei a ideia e tudo foi se transformando em um sentimento muito forte. Eu só sabia amar e esperar ansiosamente pela minha filha, e até hoje esse sentimento só cresce… Nossa relação é tão linda, uma conexão inexplicável que só quem é mãe pode imaginar. Apesar de todas as dificuldades que enfrento até hoje, eu amo ser a mãe da Eloah!
 
2. Qual a maior lição que sua figura materna te ensinou sobre maternidade?
A maternidade é uma experiência única e transformadora na vida de uma mulher, e pode ensinar muitas lições valiosas. Entre elas, a maior lição que a maternidade me ensinou é a importância do amor incondicional, que nos ajuda a transcender nossas próprias limitações e a nos tornar seres humanos mais compassivos, generosos e pacientes. Quando uma mulher se torna mãe, ela experimenta um amor profundo e incondicional pelo seu filho, independentemente das suas características, comportamentos ou escolhas. A maternidade é uma jornada de aprendizado constante, mas a maior lição é, sem dúvida, a do amor incondicional.
 
3. Para você, o que é a maternidade real?
Maternidade real é a experiência de ser mãe na vida real, com todas as suas alegrias, desafios e realidades. É uma jornada que envolve amor, sacrifícios, aprendizado constante e muitas vezes, uma dose de cansaço físico e emocional. Ser mãe na vida real significa lidar com a realidade de que nem tudo é perfeito ou fácil. É passar noites sem dormir para cuidar da criança doente, é enfrentar a ansiedade e o medo de não estar fazendo o suficiente pelos filhos, é lidar com o caos e a desordem que, às vezes, acompanham a rotina de cuidar de crianças pequenas e, no meu caso, sozinha. Em resumo, a maternidade real é uma mistura de alegrias e desafios, de altos e baixos, de emoções intensas e momentos que nunca serão esquecidos. É uma experiência única e transformadora que só pode ser verdadeiramente compreendida por quem viveu ou vive.
 
4. Qual é a importância de falar sobre maternidade real? Você acha que a maternidade real ainda é algo que incomoda? Por quê?
Falar sobre maternidade real é importante porque isso nos permite abordar os desafios e as experiências reais que as mães enfrentam na criação de seus filhos. A maternidade é muitas vezes romantizada e idealizada na mídia, nas redes sociais e na cultura popular em geral, o que pode levar a expectativas irreais e pressão desnecessária sobre as mães. Ao discutir a maternidade real, podemos abordar questões importantes, como a sobrecarga emocional e física que as mães podem sentir, principalmente mães solo, as dificuldades na amamentação, os altos custos da criação dos filhos, a pressão para ser uma mãe perfeita, o equilíbrio entre carreira e maternidade, a solidão e o isolamento social, entre outros desafios. Essas conversas podem levar a uma maior empatia, compreensão e apoio para as mães, bem como mudanças na política e nas práticas culturais para tornar a maternidade uma experiência mais saudável e positiva. A maternidade real ainda pode incomodar algumas pessoas, pois há expectativas culturais em relação às mães, especialmente quando se trata de mulheres em posições de poder e visibilidade. Algumas pessoas podem esperar que as mães reais sejam perfeitas em seus papéis, sem falhas ou problemas pessoais, o que pode ser irrealista e injusto. Além disso, a mídia e o público muitas vezes fazem comentários e críticas invasivas sobre a aparência, comportamento e decisões das mães reais, o que pode causar desconforto e pressão adicional. No entanto, há um crescente reconhecimento de que a maternidade é um trabalho difícil e valioso, independentemente da posição social ou profissional das mães.
 
5. Você sente que a maternidade é uma forma de quebrar tabus enraizados na sociedade? Já levou um choque de realidade e precisou desconstruir algum tabu que carregava dentro de si? 
A maternidade pode, de fato, ser vista como uma forma de quebrar tabus enraizados na sociedade, especialmente no que diz respeito ao papel das mulheres na família e na sociedade em geral. Ao se tornarem mães, as mulheres são frequentemente confrontadas com expectativas culturais e sociais sobre como devem agir e se comportar. No entanto, à medida que a sociedade se torna mais diversa e inclusiva, as expectativas em torno da maternidade também estão mudando. Por exemplo, muitas mulheres agora optam por ter filhos mais tarde na vida, ou escolhem não ter filhos. Além disso, muitas mulheres que são mães agora também estão quebrando estereótipos tradicionais de gênero, mantendo carreiras bem-sucedidas e assumindo papéis de liderança em suas comunidades. Isso demonstra que a maternidade não precisa ser vista como uma limitação ou um obstáculo para as mulheres, mas sim como uma parte importante de suas vidas que pode ser combinada com outras realizações pessoais e profissionais.
 
6. Qual conselho você gostaria de ter escutado sobre a maternidade real antes de ter sua filha? 
Eu gostaria de ter escutado: Esteja preparada para uma montanha-russa emocional, a maternidade pode ser emocionalmente desafiadora, com altos e baixos. É normal sentir-se exausta, sobrecarregada, culpada ou triste em alguns momentos. E também: Não se compare com outras mães, pois cada mãe e filho são únicos e têm necessidades diferentes. Comparar-se com outras mães só vai aumentar a pressão e o estresse, aprenda a confiar em seus instintos e a fazer o que é melhor para você e seu bebê.
 
7. Para você, quais momentos mais representam a maternidade real? 
Pra mim os momentos que considero significativos na maternidade real é o parto, amamentação, a privação do sono e o cansaço extremo dos primeiros meses após o nascimento. É lidar com a culpa e a pressão social,  as alegrias e os desafios de cada fase do desenvolvimento infantil, mas também os momentos de conexão, amor e afeto.
 
@marilimaplus – Mari Lima – https://www.instagram.com/marilimaplus/ 
 
1. Você poderia falar um pouquinho sobre sua relação com a maternidade? Você sempre quis ser mãe?
Eu sempre quis ser mãe. O sonho da minha vida sempre foi ser mãe, só que a Valentina veio numa fase que eu não planejei. Eu tinha praticamente acabado de conhecer o pai dela, meu marido, e foi bem complexo e difícil porque eu não estava pronta para exercer a maternidade. Eu digo que existe uma Mariana antes e uma Mariana depois da maternidade. A Mariana hoje pensa três mil vezes antes de fazer qualquer coisa e tem muito mais responsabilidade. É um amadurecimento e crescimento que não dá para mensurar. Eu costumo olhar para trás e falar:  Como que eu vivia sem minha filha? Claro, uma  criança toma muito tempo e exige muita atenção, mas ela meio que também dá um sentido para nossa vida, sabe? Dá um sentido a mais para nossa vida. Assim, eu sou a Mariana e tenho os meus desejos, meus propósitos, minha missão aqui na vida. Mas a principal missão da minha vida é ser mãe da Valentina, educar e orientar minha filha, ver o crescimento e felicidade dela.
 
2. Qual a maior lição que sua figura materna te ensinou sobre maternidade?
Com certeza a maior lição que minha mãe, que é minha figura materna junto com minha avó, me ensinou foi a independência. Ela sempre me incentivou a ser independente, a caminhar com as próprias pernas e a correr atrás dos meus sonhos. Ela sempre me apoiou e incentivou a fazer aquilo que eu queria, então sempre tive muito apoio. Até hoje minha mãe é minha fã número um. Todo o conteúdo que eu posto, ela vê, curte, engaja e compartilha. Isso é muito importante para mim. Ver que ela realmente torce por mim e que realmente ela acredita em mim… é isso que eu tento que passar para minha filha: acreditar nela para que ela acredite nela mesma, e incentivar o que ela quer e gosta de fazer. Engraçado, esses dias a minha mãe perguntou para ela: Valentina, o que você quer ser? Ela ficou pensando e aí falou: “Ah, vovó, eu posso ser o que eu quiser!” [risos] Eu achei super bonitinho. É isso mesmo. Eu aprendi isso com a minha mãe, que eu poderia fazer as minhas próprias escolhas.
 
3. Para você, o que é a maternidade real?
Para mim, maternidade real é mostrar todas as vertentes, é falar sobre todos os lados, não é só o romântico. Claro, tem a parte do cuidado, da conexão, do carinho, do afeto e do amor, porém, é muito responsabilidade e muita, muita carga. A criança exige uma atenção que, às vezes, é sobrenatural. [risos] Quanto mais atenção você dá, mais atenção eles querem. E quanto maiores eles são, exigem ainda mais da gente. As preocupações só aumentam. A maternidade real para mim é isso. Como tudo na vida, tem ônus e bônus. Você vai ter que abrir mão de muita coisa e repensar atitudes que você tomaria e que agora você não vai poder mais tomar porque tem uma criança te olhando e você é exemplo dela, querendo ou não. Você é a referência dela. É como se fosse um espelho. A criança reflete o que ela vive em casa, dos pais ou de quem a cria. Então, para mim, essa é a maternidade real: mostrar o ônus e o bônus sempre.
 
Qual é a importância de falar sobre maternidade real? Você acha que a maternidade real ainda é algo que incomoda? Por quê?
Olha, eu acho muito importante falar da maternidade real e de como realmente as coisas acontecem porque a gente não vive em uma sociedade onde tudo são flores. As pessoas precisam saber dos conflitos e dos problemas que acontecem dentro das famílias, que tem seres individuais e diferentes. Quando [essas pessoas] se juntam, vai haver conflito, não adianta. Acho muito importante a gente falar sobre isso, porém é algo muito singular e particular. Cada mãe exerce seu maternar de uma forma, então eu não posso julgar,  não posso apontar, não posso comparar. Cada uma vai fazer do seu jeito, como foi ensinado, fazer aquilo que recebeu… umas querendo fazer diferente do que passaram quando eram crianças, outras fazendo exatamente igual, segundo as tradições da família. Eu acho que [a maternidade real] incomoda por conta disso, porque a gente sempre vai achar que o nosso jeito é o melhor jeito, que nosso jeito é o jeito certo, então a gente precisa aprender a olhar para o outro de uma forma empática e sabendo respeitar. Eu me coloco no lugar dessa mãe, porque eu também sou mãe, apesar de não concordar com a forma com a qual ela cria a filha ou o filho dela, eu respeito. É claro que dentro do contexto onde a criança é respeitada e tem seus direitos respeitados, enfim, onde ela tem segurança. Claro, se você ver uma situação onde a criança está correndo risco, aí não é questão de respeito, de você respeitar o maternar, e sim de você denunciar mesmo. Existe uma linha muito tênue quando a gente fala sobre maternar. Cada mãe exerce de uma forma bem singular. 
 
Você sente que a maternidade é uma forma de quebrar tabus enraizados na sociedade? Já levou um choque de realidade e precisou desconstruir algum tabu que carregava dentro de si? 
A maternidade é onde tudo pode começar. A gente faz a nossa parte com as crianças, porque através da gente elas começam a distinguir o que é certo e o que é errado. É  através da nossa vivência que elas vão ter base para tirar suas próprias conclusões e formar o caráter delas. Então elas são um livrinho em branco e a gente vai ajudar a escrever a história delas. Um dos tabus que eu acho que a gente quebrou foi, primeiro, minha questão pessoal, né, de ver uma mulher gorda engravidar com 133 kg e de ter sua filha com 155 kg em uma gestação saudável, com um bebê saudável. Acho que esse já foi um tabu que eu quebrei, porque antes de mim, eu não via outras mulheres gordas… não gordas como eu. As mães gordas que eu conhecia eram as mães dos meus amigos, senhoras. Lembro que um dos posts que eu fiz e deu mais visualização foi como fica a barriga de uma grávida plus size. As pessoas tinham curiosidade de saber como é que fica e eu também tinha, porque não conhecia mulheres que tivessem o mesmo biotipo que o meu e tivessem engravidado. Então era tudo muito misterioso e sem muita informação, isso também foi uma das coisas que me fizeram criar um grupo para gente reunir essas mães, porque a gente existe e somos muitas. As pessoas só não prestam atenção na gente, principalmente se essa mulher for gorda, preta e periférica. Eu sou uma mulher gorda da periferia, que mora em São Mateus, na Zona Leste, e eu não me sentia vista e eu também não via. Além de não me sentir vista, eu também não via outras mulheres gordas. Eu só comecei a reparar quando eu fiquei grávida. Aí eu comecei a procurar mesmo. Hoje em dia eu já consigo ver mais. A Valentina tem cinco anos e eu vejo assim direto mães com com seus filhos, eu consigo identificar melhor. Pode ser também seja a minha ótica, né. Enfim, acho que esse com certeza foi um dos tabus que a gente quebrou. A gente pode engravidar mesmo sendo gorda. A gente pode ter uma vida amorosa, se sentir bem, ser mãe. Com a chegada da Valentina, eu acho que quebramos alguns tabus de que uma mulher gorda não pode ter uma família, não pode ser ser um exemplo de família. Sabe aquela família de comercial de margarina, aquele estereótipo de família? Até então o que foi vendido para a gente foi uma mãe magra, um pai magro e uma criança magra, todos brancos e de olhos azuis, de preferência. Então a gente é uma família fora do padrão que quebrou esse tabu. E uma das coisas que foi um choque de realidade foi quando a Valentina ganhou uma roupa azul e ela falou: “Mas azul é de menino, mamãe!” E aí eu falei a verdade. Ela tem muita roupa rosa e eu comecei a comprar roupas de outras cores para ela, porque não queria que ela ficasse com esse tabu, que ela só pode dar rosa e que menino só usa azul. Então, eu comecei a comprar outras cores, verde e amarelo. O guarda-roupa dela é bem colorido, do jeitinho que ela gosta, cheio de bichinho. Tem bastante rosa ainda, porque a cor favorita dela, mas hoje ela não tem mais isso e ela usa todas as cores sem ficar fazendo essa associação que rosa é de menina e azul é de menino. 
 
Qual conselho você gostaria de ter escutado sobre a maternidade real antes de ter sua filha? 
Acho que o principal conselho que eu gostaria de ter ouvido é: Não deixe ninguém nunca validar o seu maternar, se ele é certo ou errado. Assim, de pessoas que não te conhecem e não sabe quem você – e até as pessoas que te conhecem mesmo – virem interferir na forma que você educa seu filho. “Ah, mas não pode dar doce”. “Ah, mas por que você não tá refrigerante?”… As escolhas e as consequências são suas. Então é [preciso] selecionar bem as pessoas de quem você vai receber conselhos. Acho que uma outra questão é: antes de você pensar em ter filho… sua vida vai mudar muito. Vai ser bom, mas você tem que ter ciência de que você vai abrir mão de boa parte do seu tempo. Se você realmente quiser exercer a maternidade, acompanhar a evolução e o crescimento do seu filho, você vai precisar de muita estrutura emocional. Muita, muita, muita. E de uma rede de apoio. Acho que  a rede de apoio talvez seja um dos principais conselhos. Muitas mães não conseguem ter essa rede de apoio e essa rede de apoio não precisa ser necessariamente os avós ou os parentes. Pode ser uma boa escola, com pessoas que você confia, uma vizinha ou uma amiga. O pai a gente fala que não é rede de apoio, porque o pai faz parte do combo. Mas muitas mães também não tem nem o apoio do pai, né? Não tem a presença do pai, então é muito importante criar uma rede de apoio, conversar com as pessoas que se identificam com você e que tem histórias parecidas. Não precisa necessariamente morar perto, mas principalmente ter empatia pelo que você passa. A tua realidade é diferente da realidade da outra, então não adianta eu querer ter uma rede de apoio com pessoas que não fazem ideia do que eu vivo. Por isso que eu criei o grupo, porque são mães que tem um peso parecido com meu, a vivência parecida com a minha, o passado parecido, referente a encontrar roupa… enfim são mulheres que são gordas há um bom tempo. Então a gente conhece as vivências e as dificuldades de ser uma pessoa gorda. Isso também facilita muito a gente se identificar e se apoiar. Acho que essa seria a principal dica.
 
Para você, quais momentos mais representam a maternidade real? 
Acho que o momento que representa a maternidade real é a rotina, né? É o dia a dia. A maternidade real é isso: você todo dia tá na correria e, dentro dessa correria, a gente tem que ter tempo e dedicação com os nossos filhos. Tem mãe que não consegue ter tempo de qualidade com os filhos, mas elas estão ali sempre diretamente envolvidas: deixando na escola, buscando na escola, fazendo lancheira, arrumando para ir para escola, aprendendo um cabelo, fazendo um penteado diferente, saindo para comprar material, fazendo comida, dando comida, cobrando a lição de casa. A maternidade real é isso. É o dia a dia. É dar um acolhimento se chegou da escola triste. É perguntar como é que foi o dia. Os momentos de parquinho, de abraço, de pegar no colo, de afeto são diários, mas eles acontecem muito rápido durante esse dia. Eu criei para mim a decisão de todos os dias, desde que a Valentina era bebê, desde os 6 meses, eu leio uma historinha para ela antes dela dormir. Li com ela no berço e eu sentada na cadeira. Depois, a gente trocou a caminha e eu passei a deitar com ela e ler. Eu leio para ela, oro com ela e canto uma música antes dela dormir. E de manhã, eu tenho esse privilégio, que eu sei que é um privilégio, de se está ruim para ir para escola, eu faço um penteadinho que ela quer. Faço coisas que eu não tinha quando eu era criança. Eu mal via a minha mãe quando era criança, então eu tenho poucas lembranças da minha mãe nesse começo. Minha mãe trabalha muito. Quando ela saia, eu estava dormindo, e quando ela chegava eu basicamente estava dormindo também. Tenho alguns momentos com ela que ficaram marcados, mas essa é a maternidade real. Era a maternidade que a gente vivia há 30 anos atrás e me fez quem eu sou hoje. Eu sou muito grata a ela também e amo muito minha mãe. Mas eu tento, dentro das minhas condições e minhas possibilidades, fazer diferente com a Valentina. É o meu maternar real que faz parte da minha realidade.
 
@soucarolsantos – Carol Santos – https://www.instagram.com/soucarolsantos/ 
Você poderia falar um pouquinho sobre sua relação com a maternidade? Você sempre quis ser mãe?                                                  
Minha relação com a maternidade é de redescoberta como uma mulher que pode ser e ter tudo. Não me imaginava ainda capaz de ser mãe e educar alguém. A maternidade é só vivendo para sentir-se do que somos capaz.         
 
Qual a maior lição que sua figura materna te ensinou sobre maternidade? 
Ensinar a sonhar e correr atrás de tudo que te acham incapaz.
 
Para você, o que é a maternidade real? 
É você lidar com toda a rotina que envolve ser mãe. É educar mesmo se sentindo despreparada. É aprender a nutrir o corpo e alma de alguém que só depende literalmente de você.
 
Qual é a importância de falar sobre maternidade real? Você acha que a maternidade real ainda é algo que incomoda? Por quê? 
Você mostrar-se vulnerável é algo que as pessoas não querem ver. As pessoas nos querem super poderosas e perfeitas o tempo todo. Mostrar o cansaço, o cabelo despenteado e a falta de tempo para se cuidar ainda incomoda muita gente. Falta empatia no mercado e na vida.
 
A importância da maternidade real hoje é muito grande, porque… Eu lembro que quando eu me tornei mãe – foi 7 anos atrás – eu sentia uma falta e uma distância muito grande de… assim, o que a gente sabia sobre maternidade em mídia? Eram mulheres e celebridades que eram mães, que mostravam todo aquele glamour, que saiam da maternidade já magras com a filha perfeita, a vida perfeita e tudo fluindo tão bem. “Ah, ela voltou a trabalhar tão rápido, o corpo dela voltou tão rápido”. Tudo muito instantâneo, né? Quando você se torna mãe, você vê que a história é muito outra. Tudo tem o seu tempo, tudo tem a sua fase. Hoje, poder compartilhar dentro do meu Instagram sendo tipo um ombro amigo… eu recebo muitas mensagens de seguidoras minhas que são mães que quando eu mostro e quando eu choro “Ai, gente, hoje minha filha foi passar o fim de semana na primeira viagem com o pai”, porque nós estamos separados. Ou “Hoje eu estou chorando, porque com a minha agenda e com todas as habilidades que eu tenho, eu esqueci da data da apresentação dela do colégio”. São coisas que acontecem e eu divido essa realidade, que é tão importante e tão válida na vida de muitas mães. A recompensa de falar sobre isso sem muitos tabus é eu ter mulheres que me param e que enviam mensagens. O reconhecimento por você ser verdadeiro e real não tem preço. Hoje a gente vive num mundo tão digital onde tudo é tão perfeito que quando você traz ali para sua rede a sua realidade e mesmo assim abraçada por marcas e pessoas isso é de um valor imensurável. É realmente o meu combustível para eu continuar trazendo para dentro das minhas redes toda essa realidade.
 
Você sente que a maternidade é uma forma de quebrar tabus enraizados na sociedade? Já levou um choque de realidade e precisou desconstruir algum tabu que carregava dentro de si? 
Hoje eu crio minha filha com uma visão mais livre, procuro me livrar de preconceitos que minha criação me gerou. Ensinar que ser diferente dos padrões pode ser lindo e o caminho para tudo que ela queira alcançar. Tive que lidar com um tabu esses dias, quando minha filha brincava de estar tendo um filho e ele não veio de cegonha, não, como eu acreditei um dia quando criança. Ela gerava o filho em uma simulação de parto. E eu tive que respirar e não julgá-la, apenas ensinar alguns cuidados.
 
Qual conselho você gostaria de ter escutado sobre a maternidade real antes de ter sua filha?  
Entenda você só come depois do seu filho, por mais que esteja morrendo de fome [risos].
 
Para você, quais momentos mais representam a maternidade real?
Todo o meu corre, todas as lágrimas que derrubo de madrugada ao ouvir ‘nãos’ do mercado, todos os meus medos, que envolvem pensar apenas em dar e ser o melhor para minha filha. O medo de não estar preparando ela o suficiente para lidar com o racismo e preconceito que o mundo ainda tem perante a nossa existência e persistência em fazer e estar em todos os lugares.
 
O primeiro choque foi em relação à amamentação. Vejo que a amamentação hoje e sempre é bem romantizada onde a gente tem uma ilusão de toda mãe vai ter muito leite e que aquele momento vai ser tão lindo e tão tranquilo. Acho que o maior choque foi eu não conseguir produzir leite suficiente para o tamanho da fome que minha filha tinha. Desde muito cedo fui indicada pelo pediatra e pela obstetra a introduzir o leite fórmula, né?  Isso eu acho que foi meu primeiro choque de tipo: Isso aqui é maternidade real? Como eu sou a irmã mais velha, eu vi minha mãe amamentando os meus irmãos e para mim aquilo era lindo, como menina, adolescente e criança. Mas quando chegou a minha vez não foi bem assim. Poxa, ninguém me avisou que não são todas as mães que super produzem leite e podem amamentar seu filho por tanto tempo. Então acho que esse foi um dos primeiros momentos que eu notei.
 
Qual foi a lição de vida mais recente que a maternidade te ensinou? 
Olha, eu posso te dizer que todo dia é uma lição diferente em relação a minha filha. Já tô até com os olhos cheios de lágrimas [risos]. É muito incrível, porque toda vez que eu vou falar sobre a maternidade e sobre ser mãe da Maria Flor… olha, foi uma dos maiores missões que a vida e que Deus me deu foi de criar essa menina. Ela é tão incrível. Eu falo até que ela não é só minha filha, é minha mentora [risos]. Parece que ela me treina todos os dias para ser a mulher que eu sou hoje e a mulher que eu ainda imagino ser no futuro. É tudo tão por ela que eu faço. Bom, recentemente, a Maria Flor me motivou a  dirigir. Ela falou: “Mamãe, por que só a gente fica andando de carro por aplicativo? A gente ia ser tão feliz andando de carro. A gente ia poder cantar e ir para onde quiser”. E eu parei, pensei e falei: “Gente, só por medo que eu não dirijo”. Eu já tinha minha casa desde os 19, então isso me motivou a dirigir, não só por ela, mas por mim mesmo. Ela falou: “Mamãe, você é nossa produtora, então você anda com muita coisa e acaba esquecendo”. Hoje, a gente coloca o nosso mundo dentro do nosso carro e a gente vai aonde a gente quiser, ouvindo a música que a gente quer. E isso para mim é muito importante. Além de todas as outras coisas. Não é recente, mas assim que eu tive a Maria Flor, eu tomei coragem de dar o play em um projeto que eu tinha e que eu tentei fazer com várias pessoas, porque eu me achava incapaz de fazer sozinha. Quando eu tive a Maria Flor, dois dias depois que eu estava em casa, eu falei: “Eu quero fazer esse projeto acontecer”. Na verdade, eu estava com nove meses, foi um pouco antes de ir para o hospital. Eu falei: “Gente, eu vou parir. Vou dar luz a uma pessoa. Eu vou criar uma pessoa. Como eu não posso criar um evento que eu sempre sonhei se eu sou capaz de gerar um ser humano?” É uma coisa muito louca que passa na nossa cabeça, sabe? Tipo, se eu gerei um ser humano, cara, eu sou capaz de gerar, de gestacionar, de gerenciar qualquer coisa e qualquer situação na minha vida. Então eu dei o play nesse sonho, que é um workshop que eu tenho, chamado workshop Stand Out, e agora a gente já vai para a 11ª edição. E ela também é a grande responsável por isso. Com 25 dias de vida, ela já estava lá comigo na primeira edição. Eu estava lá, forte, acreditando que eu podia, porque se eu gerei uma criança, eu posso tudo na minha vida. São várias emoções e eu estou resumindo, tá?

Informações: Assessoria de Imprensa.

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Priscila Correia

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