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Poesia indígena e resistência feminina ganham livro e ações sociais no Rio

Poemas escritos por uma mulher indígena se tornam acolhimento e escuta ativa. Assim nasce o projeto Piracema diVersos, idealizado pela professora Lucia Tucuju, do povo Galibi Marworno, propondo um mergulho poético nas experiências femininas e suas camadas de dor, resistência e ancestralidade. Um projeto que vai além da publicação de um livro, mas também um gesto coletivo de afeto, memória e resistência. Ao longo de agosto, ações culturais serão realizadas em instituições que acolhem mulheres em situação de rua e em abrigos, todas localizadas no município do Rio, como a ONG Meninas e Mulheres do Morro, na Mangueira e no Instituto Casa das Pretas. Nessas atividades, estão previstos saraus literários, oficinas de escrita poética e rodas de conversa em que a palavra escrita se torna ponto de partida para trocas sensíveis, escuta e reconstrução simbólica. O projeto também irá atuar com mulheres em situação de vulnerabilidade social do Centro do Rio.

Piracema diVersos se apresenta como um conjunto de versos que ecoam sabores, odores e saberes. A poeta traça narrativas que revelam a mulher indígena em suas múltiplas faces: a que sonha, a que luta, a que resiste, a que renasce. Cada poema é descrito como um rito de passagem, um canto de resistência entrelaçado à ancestralidade e ao território. Escrito em formato de poemas livres, o livro tem linguagem intensa, imagética e profundamente sensorial. As metáforas se conectam com os elementos da natureza para falar de temas como conflitos internos, violência, feminicídio e silenciamentos históricos, sempre sob a perspectiva do feminino indígena.

A obra será lançada em 01 de agosto, no Vegan Vegan, Rua Hans Staden, 30, Botafogo, a partir das 19h, com ações paralelas voltadas a mulheres em situação de vulnerabilidade social. Vencedor do edital Pró-Carioca (Linguagens) – Programa de Fomento à Cultura Carioca, edição PNAB – Política Nacional Aldir Blanc (Regulamento SMC Nº 07, de 14 de dezembro de 2023).

“Eu escrevo porque o meu corpo fala. E quando o meu corpo fala, ele lembra das minhas avós, das mulheres que vieram antes de mim, das que ainda resistem e das que precisam ser ouvidas. A poesia é o meu modo de gritar e também de oferecer abrigo”, afirma Lucia Tucuju, autora da obra.

A ilustração do livro aconteceu em parceria com Luciana Grether, artista visual e professora da PUC-Rio, e foram desenvolvidas em um processo artesanal que partiu de folhas, sementes, galhos e outros elementos naturais, combinados com tinta, canetinha e papel, resultando em colagens, desenhos e monotipias. As imagens não apenas acompanham os poemas como ajudam a construir a atmosfera sensorial proposta pela autora. “São desenhos que nascem da terra, da água e do tempo. Eles não explicam os poemas, mas caminham com eles”, explica Grether.

Lucia Tucuju é professora, atriz, narradora de histórias e roteirista. É especialista em Literatura Infantil e Juvenil pela Universidade Candido Mendes (UCAM), membro da Academia Internacional de Letras do Brasil e integrante de coletivos como o Mulherio das Letras Indígenas e o Movimento Plurinacional Wayrakunas. Ganhadora do prêmio Jabuti, juntamente com o grupo Mulherio das Letras Indígenas, Lucia leciona Literaturas Indígenas em cursos de pós-graduação voltados às relações étnico-raciais e tem trajetória consolidada na cena cultural brasileira. Participou de iniciativas como o Infâncias Plurais, do Itaú Cultural, e o Fomenta Festival. No teatro, é conhecida pelo monólogo Arandu – Lendas Amazônicas, apresentado nos CCBBs, e pela performance EU SOU VOCÊ, exibida em Madrid e no Rio de Janeiro. Também atuou no filme Ricos de Amor 2, da Netflix.

Já a ilustradora Luciana Grether é mestre em Artes e Design pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), com mais de 40 livros ilustrados e reconhecimento em prêmios como o Jabuti, AEILIJ e Biblioteca Nacional. Recebeu o Selo Distinção da Cátedra UNESCO de Leitura da PUC-Rio e teve obras selecionadas para eventos como a Bienal Internacional de Ilustração de Bratislava, o Salão do Livro de Paris, a Feira do Livro de Porto Alegre e o Clube de Leitura dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. No Brasil, também criou para jornal, carnaval, teatro e televisão, sendo responsável pelas ilustrações da abertura da novela Joia Rara, da TV Globo.

O projeto Piracema diVersos tem como missão não apenas lançar um livro, mas levar literatura a lugares onde ela raramente chega, promovendo escuta, identidade e cura simbólica. “Eu escrevi esse livro para que mulheres em situação de vulnerabilidade se reconheçam, sintam-se acolhidas e saibam que suas vozes importam. A palavra pode ser uma canoa. E às vezes, tudo que a gente precisa é de alguém que ofereça uma”, conclui Lucia. —

Informações: Assessoria de Imprensa.

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Priscila Correia

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