Nos últimos anos, um dado alarmante tem chamado a atenção da sociedade: o aumento de crianças com sobrepeso e obesidade.
A Organização Mundial da Saúde classificou a obesidade infantil como um dos problemas de saúde pública mais graves do século XXI. Segundo dados da Iniciativa de Vigilância da Obesidade Infantil, cerca de um terço das crianças entre 6 e 9 anos está acima do peso ou obesa no mundo. Ainda sobre dados mundiais, uma estimativa do International Obesity Task Force (IOTF) informa que pelo menos 300 milhões de crianças estão com mais peso do que deveriam. Se tratando de Brasil, de acordo com dados do IBGE, uma de cada três crianças já apresentam excesso de peso ou obesidade.
E pensando em como os pais podem ajudar seus filhos na manutenção do peso, conversamos com Ana Paula Santos, nutricionista ortomolecular e coach com oito anos de experiência em Nutrição, Bem-Estar e Desenvolvimento Humano. Ela falou sobre as diferentes fases das crianças e a importância de cada grupo de alimentos.
A seguir, ela fala sobre o controle de peso, o que pode e o que não pode faltar na alimentação dos pequenos.
1. Sabemos que uma alimentação deve ser balanceada e contar todos os grupos de alimentos, mas, na pratica, como deve ser a alimentação ideal para uma criança?
– Na prática, o primeiro passo é o aleitamento exclusivo até o 6º mês de vida, pois o leite materno é essencial para boa formação do sistema imunológico intestinal e para a prevenção de diversas condições como a Obesidade, o Diabetes e Alergias. Ao serem introduzidos os alimentos, deve-se priorizar os naturais, orgânicos e evitar produtos alimentícios industrializados. Essa introdução precisa ser cautelosa, no tempo certo, e não mais do que 1 alimento novo a cada 2 dias, sempre em pequenas quantidades e variando bem os tipos.
Dos 6 aos 9 meses, alguns cereais como o arroz, o painço, os feijões e a quinoa devem fazer parte. O vegetais mais indicados seriam os cozidos como inhame, mandioquinha, abóbora, couve, repolho, chuchu, acelga, a cenoura e a vagem. De preferência, frutas menos ácidas como a lima, a pêra, banana, damasco, pêssego e melancia. Boas proteínas seriam o frango orgânico, o cordeiro, a gema de ovo e o peru (não vale embutidos). Azeite , óleo de linhaça e de chia também devem constar. O leite materno e as fórmulas com leite hidrolisado, se necessário.
Após completar 9 meses, outros cereais podem ser incluídos, como a cevada, o centeio e aveia. Nesta fase, os aspargos, a batata inglesa, brócolis e couve-flor são indicados. Entram na alimentação também, abacate, ameixa, abacaxi, uva, cramberries e passas orgânicas. Frango, vitela e carne bovina bem picadinha também farão parte. Mantém-se os óleos citados e os leites mencionados. A partir do primeiro ano, o milho e o trigo podem ser ingeridos, bem como os outros vegetais: ervilha, espinafre, tomate, aipo, pepino, alface, cebola, alho e as hortaliças cruas. Libera-se a laranja, limão, lima, grapefruit, morango, framboesa, melão, manga e cereja. O porco, peixe e ovo com a clara começam a fazer parte. Um boa opção nesta fase também são os leites fermentados.
Do segundo ano em diante, liberam-se todos os cereais, hortaliças cruas e cozidas, os frutos-do-mar e laticíneos (iogurte ou queijo, preferencialmente, orgânicos). As nozes, macadâmias, chocolate e demais castanhas também são recomendadas. Para uma alimentação mais saudável, recomenda-se alternar o leite de vaca com os leites vegetais (amêndoas, quinoa, arroz ou aveia);
2. Quais alimentos não podem faltar diariamente?
No geral, os orgânicos. O leite materno, ao menos, nos primeiros 6 meses. E, de acordo com a faixa etária, carne branca e vermelha, frutas, hortaliças variadas, óleos ricos em ômega 3 (linhaça ou chia), castanhas, feijões, azeite e cereais (arroz, painço, quinoa, etc). Leite vaca, leites vegetais e o sal marinho, em pequeninas quantidades;
3. E pelo menos uma vez por semana?
Um maravilhoso suco, bem coado para evitar desconforto gastrointestinal, com frutas e hortaliças orgânicas (cruas).
4. Atualmente, a obesidade é um grande problema para crianças do mundo inteiro. Como os pais podem mudar a rotina de crianças que habitualmente comem na rua e na escola?
A grande dica é planejar a rotina das compras de alimentação saudável, incluindo visitas frequentes às feiras e lojas de produtos naturais. Com a agenda apertada por causa do trabalho e os horários corridos, muitos pais optam por trocar a alimentação nutritiva (a que sai da terra), por produtos industrializados de prateleira. Normalmente, uma combinação explosiva de muito sal, açúcar e gorduras ruins! Cabe então, estimular na criança uma consciência mais natural e livre de aditivos químicos (saborizantes, corantes, conservantes e adoçantes). Existem, atualmente, excelentes alternativas: Snacks de milho, tapioca, quinoa ou soja assados e com baixo teor de sódio; iogurte natural; sanduichinhos incluindo vegetais bem picadinhos; muffins salgados integrais, caseiros, com mix de hortaliças raladas ou picadas; bolo integral com picadinho de frutas e castanhas; pipoca de quinoa; sorvete a base de frutas naturais e sucos de frutas in natura; achocolatado caseiro feito com cacau orgânico e açúcar de coco ou melado. Ao saírem para as festinhas, incentivar a alimentação em casa antes da ida e levar petiscos saudáveis em caso de cinema ou teatro.
5. Para uma criança obesa, qual é a perda ideal de peso sem prejudicar o pequeno?
Considerando as recomendações internacionais, deve-se ter muito cuidado com o emagrecimento de crianças abaixo de 7 anos, pois, como estão em fase de crescimento, não é recomendada uma grande redução do peso corporal, tanto que o Comitê somente recomenda perda de peso para aquelas que apresentem alguma complicação associada à obesidade. Para àquela criança que precisa de um tratamento, a perda de peso não precisa ser tão rígida; pode-se dizer que, se esta criança mantiver o peso atual por um determinado período e apresentar ganho em estatura, já terá algum benefício, mas uma perda leve de 1 kg a 2 kg, para aquelas com o peso muito elevado para a estatura, ou com complicações mais graves, pode ser recomendado.
6. É possível a criança comer um doce diariamente sem afetar sua saúde?
Sim, especialmente, as preparações adoçadas naturalmente com frutas. Sobremesas cremosas podem levar leite de coco ou iogurte natural, no lugar do leite condensado ou creme de leite. O chocolate pode ser trocado pela alfarroba, que contém mais fibras e versões sem açúcar. No caso de bolos, usar farinhas especiais (trigo integral, linhaça, quinoa, amaranto, coco ou aveia). Os sorvetes podem ser trocados pelos picolés de fruta. Cabe ressaltar, que a criança bem nutrida não sente a necessidade de sobremesas. Mas, caso haja , pode-se começar oferecendo salada de frutas, bananadas sem açúcar ou frutas secas.
7. Hoje em dia é muito comum famílias que têm uma alimentação vegetariana ou vegana. Crianças podem seguir uma dieta assim? Fale sobre isso.
Sim, porém, deve ser acompanhada, estritamente por médico ou nutricionista para que as combinações sejam feitas, adequadamente, de modo a prevenir deficiências nutricionais.
Sugere-se, de 1 a 4 anos: 2 a 4 cols (sopa) de cereais, 2 a 4 cols (sopa) de hortaliças verde-escuras, ¼ a 1/2 xícara das demais hortaliças, ¼ a ½ xícara de leguminosas (feijões), ¾ a 1 ½ xícara de frutas ao dia. Dependendo da faixa etária (após 2 anos), as castanhas e sementes são bem vindas (1/2 xícara ao dia).
De 5 a 6 anos: 6 porções de cereais, ¼ xícara de hortaliças verde-escuras e ½ xícara das demais (bem variadas), ½ a 1 xícara de leguminosas, 1 a 2 xícaras de frutas e até 3 xícaras de leites vegetais, sendo uma delas, enriquecida com 1 col (café) de cálcio de ostras. Já entre 7 e 12 anos: 7 porções de cereais, 1 xícara de hortaliças verde-escuras e 1 xícara das demais (bem variadas), 2 xícaras de leguminosas, 3 xícaras de frutas e até 3 xícaras de leites vegetais, sendo uma delas, enriquecida com 1 col (café) de cálcio de ostras. Neste momento, a suplementação com vitamina B12 é indicada.
Cabe ressaltar, que 1 porção de cereais equivale a: 1 fatia de pão integral, 1/2 xícara de massa integral (ou de quinoa), arroz, milho ou aveia.
8. Muitos dizem que o consumo de carne e leite deve ser moderado. Essa é uma “regra” para adultos somente ou crianças também devem seguir esse caminho?
Sim. Primeiramente, por uma questão de consciência ecológica. A indústria agro-pecuária é uma das que mais geram danos ao planeta. Segundo, porque, normalmente, são alimentos que carreiam maiores quantidades de pesticidas, antibióticos e promotores de crescimento que podem influenciar no aparecimento de doenças como a Obesidade e o Câncer. Uma dieta bem balanceada e com vários grupos alimentares que se complementam, dispensam o consumo frequente de leite e carne.
9. Ao fazer compras em mercados, o que os pais devem evitar realmente? Quais os maiores “perigos”das prateleiras?
Refrigerantes, sucos em caixa, gelatina, batatas fritas, embutidos- mesmo os de peru ou frango (salsichas, mortadela, presunto e etc), biscoitos recheados, jujubas e alimentos coloridos artificialmente, hambúrguer pronto e nuggets.
10. Mais alguma informação que gostaria de passar para os pais que querem seus pequenos sempre fortes e saudáveis?
Sim! O hábito de dormirem até às 23h ; banho de sol diário, pela manhã cedo ou no final da tarde; além da prática rotineira de atividade física prazerosa são indispensáveis para garantir um crescimento e desenvolvimento saudável.