A frase que dá nome a matéria já viralizou na Internet como símbolo de ‘empoderamento’ das mulheres. Mas, no assunto que vamos abordar hoje, cabe como uma luva também. O problema é antigo, mas talvez tenha se tornado pior de alguns anos para cá, com o culto às formas perfeitas que vimos todos os dias nas revistas, TV e mídias sociais. A cobrança pelo corpo magro é implacável, e, acreditem, não deixa nem as mulheres que acabaram de parir de fora.
E o fato é que isso incômoda e muito! A sociedade cobra de forma quase desumana que uma mulher normal saia da maternidade esbanjando boa forma, tal como as divas da TV. Eu não sei o que elas fazem para desfilar uma semana após o parto com barriguinha sarada e não vem ao caso por aqui, mas o fato é que a “pancinha” pós-parto é normal, faz parte da natureza do corpo humano e forçar o contrário, desesperadamente está longe de ser saudável.
É raro uma mulher que volte ao peso anterior da gravidez assim que tem um filho. Até acontece sim, faz parte do biótipo de algumas afortunadas. Entretanto, ainda que todos saibam que é um período de adaptações, a maioria das mulheres passa por um período maior para conquistar a forma de antes da gravidez e, muitas vezes, são questionadas sobre quando vão perder os quilos adquiridos no período da gestação. Algumas não ligam para o que os outros dizem e só pensam no que será melhor para elas e seus pequenos. Já outras sofrem a pressão social, inclusive do marido.
A publicitária Rafaela Maynart Arlotta, de 31 anos, mãe de Mel, de 3 anos, conta que, quando engravidou, estava acima do peso, com 70kg. Ela engordou muito durante a gravidez, chegando aos 87kg. “Demorei dois anos para ser mãe, tentando engravidar. Antes, eu tinha uma cabeça que, se a gente fizesse exercício e se alimentasse a base de dietas, era tudo para emagrecer e não pela saúde. Então, quando eu engravidei, depois de tanto sacrifício, depois de todos os enjôos do início, eu meio que me “libertei” dos exercícios físicos e não fui regrada com alimentação. Comia bastante doce. Fui assim até a metade da gestação. Depois, eu tive um pouco mais de foco e não engordei tanto porque entrei na hidro e musculação para grávidas, mas mais no sentido de melhorar minha estrutura para o parto, porque eu queria parto normal.”. Após o nascimento, Mel quase não mamou no peito, ficou exclusivamente no leite materno nos 15 primeiros dias. E, aí, como ela não ganhava peso, os pais começaram a introduzir a fórmula. “Se eu perdi algum peso com a amamentação, deve ter sido muito pouco. Eu entrei nas crenças das mães para produzir leite e comi canjicas e tudo o que me mandavam, então eu acho que mais engordei do que emagreci.”. No caso de Rafaela, a pressão para voltar ao corpo de antes não partiu do marido, mas de parte da sua família e amigos. “Eu sofria mais com um comentário do meu pai ou da minha mãe do que com um de um conhecido, amigo, que não sabe da minha rotina. Eu lidei bem com essa parte, até porque era uma estrada muito minha. Até o terceiro mês eu não tinha muito contato com as pessoas. Depois disso, quando eu comecei a me movimentar, eu também não sentia tanto essa cobrança. O que me afetava mais era a cobrança da perda de peso imediata, sabe? ‘Fulano, a mãe tal, perdeu x quilos amamentando’. Cada corpo é um corpo. Cada mãe é uma mãe. Esses exemplos das pessoas na intenção de ajudar eram os piores.”, complementa. Rafaela explica que, com o tempo, a maternidade deu a consciência de que precisava ser um exemplo pra minha filha, pra que ela não passasse pelos mesmos problemas com a balança e com a saúde que teve durante toda a vida. E, então, começou uma rotina de exercícios e controle da alimentação, mas não de uma maneira sacrificante, mas natural, ao seu tempo. Sobre o marido, conta, sempre deu apoio incondicional. “Por todas as decisões durante a gravidez, ele sempre me quis feliz. Depois também, quando começou a fase em que eu me percebia mais largada, ele sempre falava que eu estava linda, que estava ótimo, que tudo tinha seu tempo. Ele é fantástico. Foi o apoio que eu precisava até aqui onde cheguei, com 28kg perdidos e com o corpo que eu tenho hoje. Ele é o cara que me sustenta nesse sentido. Muito mais do que os meus pais ou qualquer outra pessoa. Eu tenho um suporte familiar bem bom, sabe? As pessoas acreditam em mim. Hoje, muito mais do que no começo. Mas é muito difícil mesmo acreditar no começo. No meu histórico, eu nunca fui uma pessoa magra, que lidasse muito bem com esse lance do peso. Era difícil acreditar que era possível eu chegar onde cheguei agora, mas o meu marido sempre acreditou. E isso é o que foi o mais importante pra mim, mais do que qualquer coisa. Eu acho que ele é a minha base mesmo.”, comenta.
A publicitária Andréa Samico, 49 anos, que foi mãe aos 19 de Yuri, hoje com 29 anos, conta que engordou 12 kg durante a gravidez. Mas, apesar desse peso total ser considerado bom pelo médico, só conseguiu o equilíbrio depois do quinto mês de gestação. “Até o quinto mês, comi de tudo loucamente e tive um aumento brusco de peso. Minha sobremesa preferida era goiabada com creme de leite e eu a comia todo santo dia, além de toda sorte de guloseimas. Meu médico, então, me disse bem sério: “olha só, se você continuar engordando assim mês a mês, você vai ter que arranjar outro médico, porque eu não vou fazer seu parto. Você vai estar uma bola imensa ao fim da gravidez e não quero ser responsável pelos riscos que irá correr!”. Eu tomei um susto com aquilo e isso funcionou pra mim, porque foi aí que comecei a segurar o ritmo e tudo fluiu muito melhor até o fim da gestação. Depois que Yuri nasceu, sentia muito sono e cansaço. Eu amamentava e toda hora que o bebê dormia, queria dormir também. Não queria nem comer. Lembro que minha mãe me dava mingau de aveia enquanto eu amamentava, porque sabia que se ela não fizesse isso, eu não comeria, de tanto cansaço que senti. Com isso, eu emagreci demais. E outra coisa incomum aconteceu: meu cabelo, que sempre foi crespo, alisou inacreditavelmente. Ficou de um jeito que eu não sabia nem o que fazer com ele, tal era a minha estranheza. Eu me olhava no espelho e não me reconhecia mais: magérrima, com seios enormes e de cabelos lisos.”, relembra. Andréa amamentou o filho até os dois anos de idade, mas a perda de peso, acredita, foi por ter perdido o apetite também. Entretanto, conta ela, nunca mais teve o mesmo corpo de antes de engravidar. “Ou fiquei muito magra ou engordei. Estou com 63kg hoje. Não posso dizer que esteja gorda, mas gostaria de estar com uns 10 kg a menos, pelo menos. Fazendo uma auto crítica bem sincera, faltou disciplina de minha parte. Sou muito ativa, sempre fui. Minhas práticas esportivas são eventuais, sempre foram também. Mas eu detesto fazer a mesma coisa todos os dias e a atividade física precisa de constância, os resultados e os benefícios dela vêm exatamente disso. E essa é minha dificuldade: aceitar isso. Então, não coloco a responsabilidade na questão da gravidez. Ser mãe tem sido a melhor experiência da minha vida e é possível voltar a ter um corpo satisfatório depois da gravidez. Basta persistir. Eu sigo tentando me adaptar a alguma atividade que me traga prazer, além da perda de peso. Nunca tive essa pressão no meu entorno e também não adiantaria pra mim. Acho que esse tipo de mudança tem a ver com uma vontade própria. Não adianta ninguém dizer a você o que é bom pra você, se você não enxergar que aquilo é bom pra você e quando é bom pra você.”.
Já a fisioterapeuta Bruna Ferreira, 38 anos, mãe de Pedro, de 5, e Laura, de 3 anos, conta que engordou menos de 10kg nas duas gestações. “Comi o que queria. Acho que não engordei mais porque enjoei muito. Então, vomitava demais. O tônus do abdômen mudou no primeiro dia depois do nascimento do Pedro. Ficou mais flácido. Como fiz cesárea, um pouco acima da cicatriz ficou uma bolsinha, que eu apelido de pochete. Amamentei pouco tempo, porque o leite acabou devido ao hipotireoidismo descontrolado e emagreci muito, mas ficou um restinho. Eu ainda estou acima do peso, mas não por culpa das gestações. Meu marido é personal, mas nunca tive cobranças, pois nem dava chances. Meu mantra é ‘my body, my choice’”, enfatiza. E ela está certa.
A advogada Flavia Lima Amorim Sales, 44 anos, é mãe de Antônio (23 anos), Isabel (22 anos) e Manuela (7 anos). As duas primeiras gestações foram mais tranquilas, pois era mais jovem e comia de tudo, embora respeitando os limites de uma gestação. “Como nunca fumei, apenas evitei o álcool (até socialmente) e doces em excesso, que são o meu maior pecado. Já na última, tendo 36 anos de idade, já estava mais madura e tinha uma dieta mais saudável. Não bebia refrigerantes há 15 anos e evitava os doces, mas senti mais cansaço, inchaço nas pernas, mesmo nadando três vezes por semana. Ainda assim, engordei bem mais nesta última gravidez, aproximadamente 15 kg. Nas duas primeiras não passei do 9 kg. Na verdade, ter filhos aos 20 anos é bem diferente do que aos 36 anos. O corpo não é o mesmo. A pele não responde da mesma forma e, por mais que eu não tenha tendência a engordar, senti na gravidez da caçula a mudança no meu corpo que necessitou de dieta e mais atividades físicas para voltar ao normal no pós-parto. Quando era jovem, após o nascimento, senti o meu corpo retornar ao normal mais rápido, em um mês eu já não tinha barriga alguma. Já na última gestação, efetivamente, tive que fazer um maior esforço para retornar ao meu corpo. Senti minha barriga mais flácida, aumento no culote, diferença de tamanho nas mamas, enfim, a gravidez na juventude traz, indiscutivelmente, menos dano ao corpo do que quando se tem mais 35 anos.”, comentou. Sobre as cobranças para voltar ao corpo de antes da gravidez, Flavia conta que, no seu caso, no nascimento dos dois mais velhos, as pessoas falavam que nem parecia que havia tido um bebê recentemente. “Quando tive a Manu, a mais nova, como sempre fui focada e determinada, a cobrança de voltar à minha melhor forma foi realmente minha. Quando a Manu tinha pouco mais de um ano, coloquei prótese mamária, pois a minha mama direita ficou menor do que a esquerda, que sofria com a mastite. A colocação da prótese devolveu minha autoestima, que ficou muito abalada nesta última gravidez. Fiz, ainda, hidrolipo no culote e flancos, apenas para retirar aquela gordura localizada difícil de perder na atividade física.”, complementa. Porém, diz, não acredita que retornar às pressas para uma academia ou iniciar uma dieta não necessária na amamentação seja benéfico para mãe e filho, física ou emocionalmente. “Nunca fiz atividade física antes dos seis primeiros meses após o parto. Dei esse tempo para o descanso do corpo e para curtir meus filhos, e foi maravilhoso. Preferi assim, mesmo sendo adepta as atividades físicas.”, finaliza.
A médica cirurgiã plástica, que é diretora da Clínica Beauté e do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, Brunna Salvarezza, explica que existem dois pontos que precisam ser considerados quando colocamos a expressão “voltar a forma” após a gravidez, pois, efetivamente, isso é humanamente impossível para a maioria das mulheres. “Voltar ao peso é o mais comum e possível de ser alcançado, apesar de difícil, pois a maioria dessas mulheres já passaram por processos de dieta para perda de 4 ou 5 kg, e nessa situação estaremos falando em geral de no mínimo 10kg, o que torna o caminho mais longo e árduo. Além disso, como a mulher está em processo de amamentação, não lhe é permitido adotar dietas extremamente restritivas para que não haja prejuízo para o bebê. A dieta da mulher em amamentação precisa garantir nutrientes e calorias mínimas, o que torna o processo mais lento. Soma-se a esse fato a impossibilidade de praticar exercícios devido a nova rotina; a privação de sono durante a noite, que é fundamental para o controle hormonal; a ansiedade gerada por todas as novidades e inseguranças desse período, associada as frustrações e preocupações inerentes ao cuidar de um recém-nascido. Aceitamos como ideal um ganho de peso de 9kg durante a gestação e, de preferência, a pratica de atividade física até o mais próximo possível do parto, para que o metabolismo e a capacidade cardio respiratória não tenham grande prejuízo e a mulher consiga retomar suas atividades precocemente.”. Sobre a amamentação, lembra a médica, de fato emagrece. E isso ocorre porque a produção de leite gasta muitas calorias. Mas, apesar disso, amamentar também gera muita sede e muita fome e, por isso, se a mulher não souber equilibrar a alimentação, ela poderá engordar. “Para que a mãe consiga emagrecer rápido amamentando, é necessário amamentar o bebê exclusivamente e comer refeições leves e nutritivas distribuídas ao longo do dia. O retorno ao peso ideal, em geral, leva cerca de seis meses nas mães comprometidas com o objetivo. Logo após o parto, a mulher perde cerca de 9 a 10 kg considerando bebê, placenta e líquido amniótico. Após 3 meses, pode perder até 5-6 quilos, se amamentar exclusivamente. E após 6 meses pode, também, perder até 5-6 quilos, se continuar amamentando.”, complementa.
Se o aumento do peso ocorreu apenas durante o período da gravidez, e não vier de antes, é importante que a mulher tenha a consciência de que o ganho de peso precisa ser controlado e que seguir uma dieta equilibrada é fundamental. “Aquela ideia que grávida precisa comer por dois e não deve praticar exercício está completamente ultrapassada.”, enfatiza a médica. Porém algumas mudanças que podem ocorrer com a gravidez, como flacidez e excesso de pele no abdômen, perda de tecido mamário, entre outras, somente poderão ser revertidos com procedimentos cirúrgicos. “É importante que um casal, quando toma a decisão da gravidez, compreenda que é um processo que trará grandes alegrias, mas que também resultará em grandes alterações físicas e psicológicas, e que o retorno das coisas ao normal será um processo longo, que demandará esforço, determinação, comprometimento e alguns procedimentos reparadores. Encarando dessa maneira, o marido também se compromete com a retomada da auto-estima de sua mulher e tudo flui com muito mais naturalidade e harmonia.”, complementa Brunna Salvarezza.
Sobre estar certo ou errado querer emagrecer logo após ter filhos, deixamos vocês com uma ponderação de Rafaela Arlotta: “A maternidade traz uma nova forma de ver o mundo. Nascemos novamente. É a oportunidade que temos de se achar, de olhar pra dentro e pra fora. Quando se olhar no espelho, o que a gente é? Somos felizes? No trabalho, na família, com o marido, com o corpo… E se tem alguma coisa que não te faz feliz, que mude. Não temos que nos espelhar em ninguém. Em nenhuma ditadura da beleza, em nenhum padrão. Tem que se espelhar na gente mesmo, entendeu? No que quer ser. Não por imposição de ninguém, mas porque aquilo faz ou te fará feliz.”. E concordamos! Se estar magra te faz feliz, corra atrás disso, mas de forma saudável. Se estar mais cheinha não é um problema, tudo bem também. O importante é estar em paz com você.