Passamos por essas fases de desenvolvimento por aqui. E além de gramas a mais, o sono e a fome do bebê mudam drasticamente!
Nesse período de crescimento acelerado, um dos ‘efeitos colaterais’ do estica e puxa é a necessidade de leite materno. Tipo o dobro de antes. E a gente tem a plena sensação de que não está dando conta e não tem alimento suficiente. O fato é que simplesmente eles precisam de mais para se desenvolver e, por isso, acabam dormindo com mais dificuldade e cobrando mais atenção. E o nosso corpo entende a necessidade do bebê e começa a produzir mais leite também.
O primeiro grande pico é de 2 a 3 semanas, e sentimos bem isso por aqui, porque ele começou dormindo muito bem e, se deixasse, era a noite todinha hibernando. De repente, de hora em hora, tudo que ele quer é colo e mamá. Nos primeiros dias, é claro, eu fiquei tensa demais com os dois seios murchos e ele querendo mais. Mas nos adaptamos!
E para tirar as dúvidas desse período que deixa a nós, mães, tão nervosas e meio perdidas, conversamos com o pediatra e neuropediatra Clay Brites.
AM – O que seria o pico de crescimento e o salto de desenvolvimento exatamente?
Clay Brites – O pico de crescimento é aquele momento de maior velocidade de ganho de estatura pela criança e na fase da adolescência. O salto de desenvolvimento é aquele que ocorre em momentos sequenciais da vida da criança e do adolescente onde estes passam por aquisições de novas habilidades e ficam mais sensíveis a novas percepções e maiores facilidades em agir, pensar e processar determinadas informações. Chamam-se estes saltos de “touch points”.
AM – Dentro desse crescimento, o que é considerado dentro do padrão ou não?
Clay Brites – Considera-se dentro do padrão aqueles que se encontram dentro dos intervalos das chamadas curvas pondo-estaturais de crescimento. Estas curvas se baseiam em grandes pesquisas populacionais com crianças nas mais variadas idades.
AM – Quais os sintomas dessa fase? Mais fome? Mais sono? Menos atenção? Alteração na temperatura do corpo?
Clay Brites – Estas fases em si não costumam alterar de forma tão significativa o ritmo de sono, alimentação, temperatura e atenção, exceto na fase da adolescência onde ocorrem aumento do apetite, mais sono (especialmente durante o dia), e menos atenção.
AM – Os bebês acabam sentindo mais fome e, consequentemente, querendo mais leite. E as mães, muitas vezes, acham que não estão dando conta dessa nova demanda. O que acontece realmente? A criança, de alguma forma, acaba consumindo menos do que deveria? Ou o corpo da mulher se adapta a essa nova necessidade?
Clay Brites – É importante não valorizar tanto a quantidade sugada pela criança, mas, sim, se ela está ganhando peso dentro da curva pondo-estatural, pois o volume mamado varia de criança para criança. Mas a resposta a esta quantidade é que importa.
AM – Como saber se é preciso entrar com complemento ou não?
Clay Brites – Basta observar três tipos de comportamento: 1) se a criança não está ganhando peso de acordo com a curva; 2) se ela está mais irritada e chorosa e sono instável, o que pode ser sinal de fome; e 3) poucas evacuações e menos xixi. Nestas três ocasiões torna-se necessário a utilização do complemento.
AM – A alimentação da mãe precisa mudar para essa nova fase? Fale sobre isso.
Clay Brites – Não necessariamente, mas normalmente recomenda-se uma alimentação mais saudável, natural.
AM – Esses picos acontecem em todos os bebês? Caso os pais percebam que esses picos não estão acontecendo, por que isso acontece? O que devem fazer?
Clay Brites – Naturalmente, sim. Os pais percebem quando a criança começa a ficar sentada, perceber visualmente detalhes do ambiente, emitir sons com sentido.
AM – Esses picos acontecem de quanto em quanto tempo? Em todas as crianças acontece na mesma época?
Clay Brites – Ocorrem mais ou menos a cada 6 meses inicialmente e, depois, a cada 2-3 anos.
AM – Para as mães e pais que ficam assustados com esse momento, o que você diria?
Clay Brites – Não devem se assustar. Devem, sim, ficar preocupados se a criança não atingir estes picos ou estas etapas; ou se, porventura, atrasarem. Portanto, é essencial que os pais levem a criança regularmente ao pediatra nos primeiros meses e anos de vida para que, nos atendimentos de puericultura, seja sistematicamente acompanhada no seu crescimento e desenvolvimento.
AM – Quando, de fato, esses picos ‘acabam’?
Clay Brites – Acabam na adolescência.