No último sábado, 08 de setembro, foi o Dia Mundial da Alfabetização. Esse ano, a data caiu na mesma semana em que foram divulgados pelo MEC os resultados do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade da educação brasileira. Os números não são animadores: apenas os primeiros anos do ensino fundamental alcançaram a meta, pontuando 5,8, em uma escala que vai de 0 a 10 – levando em consideração apenas o Estado do Rio, todas as etapas ficaram abaixo do mínimo estipulado.
Conversamos com Deysiane Farias Pontes, coordenadora educacional da Província Marista Brasil Centro-Norte, para saber um pouco mais sobre esse quadro, o porquê desse resultados e como podemos mudar o futuro.
AM – Ainda que a meta de crescimento do Ideb para os anos iniciais do Ensino Fundamental tenha sido alcançada, o avanço foi, de fato, pequeno. Por qual razão você acha que esse crescimento foi tão pequeno?
Deysiane Farias Pontes – A questão da qualidade educacional é uma das mais complexas, pois perpassa por uma série de fatores desde a formação e valorização docente até ao uso de novas metodologias e tecnologias em sala de aula. O crescimento pode ter sido afetado, em especial, pela falta de prioridade da pauta educacional em termos de políticas públicas.
AM – Qual é a importância de um ensino de qualidade nesses primeiros anos em relação ao final do Ensino Fundamental e Ensino Médio?
Deysiane Farias Pontes – Os baixos índices atingidos no Ensino Médio são consequência de um ensino fundamental e educação infantil já com problemas sérios. No final da educação básica os problemas só tendem a serem agravados.
AM – Para que essa taxa de crescimento aumente, quais são as atitudes a serem tomadas pelos órgãos públicos responsáveis pela educação do estado?
Deysiane Farias Pontes – Sem dúvida, retomar a valorização da carreira docente é uma das principais ações. Hoje em dia poucos jovens se sentem incentivados a seguir a carreira docente pela evidente falta de reconhecimento, salários abaixo em comparação com outras profissões e difíceis condições que hoje os professores brasileiros enfrentam nas escolas. Mas além da questão da valorização docente, é preciso repensar a gestão educacional para garantir um processo de planejamento, monitoramento e avaliação das práticas pedagógicas.
AM – Infelizmente, não é possível comparar a qualidade de ensino da maioria dos colégios particulares aos públicos (exceto em alguns casos, como Pedro II, Colégio Militar, Aplicação e outros). Quais as diretrizes que você considera fundamentais para que esses colégios mal avaliados consigam alcançar a qualidade dos mais bem avaliados?
Deysiane Farias Pontes – Responsabilizar, primeiramente, todos pela questão educacional no Brasil. O baixo desempenho das escolas não pode ser interpretado como uma questão de responsabilização dos indivíduos e sim consequência de uma série de abandonos, cortes, reduções e falta de políticas públicas efetivas.
AM – O Rio de Janeiro foi um dos poucos estados a não alcançar as metas para 2017. Por que o ensino no Estado está assim? Por que é tão diferente de outros estados como MG, SP, ES e DF?
Deysiane Farias Pontes – O estado do Rio de Janeiro passa, atualmente, por uma situação complicada em termos de gestão pública e, sem dúvida, isso interfere na área educacional. Mas essa questão merece um aprofundamento para respostas mais efetivas.
AM – É possível “usar” a experiência de outros estados que tiveram metas alcançadas para ajudar a alavancar a educação no nosso estado? Como e o que aprender com eles?
Deysiane Farias Pontes – É possível sim conhecer e ver o que cada estado fez de bom para conseguir bons resultados como uma forma de iluminar a busca pelo melhor caminho. Educação se faz com muito estudo, formação, experiência, partilha de boas práticas e pessoas engajadas e políticas públicas efetivas.
AM – Além de investimento do estado e a experiência e capacitação dos professores, os pais certamente têm papel fundamental nesse processo de aprendizado, especialmente no início do Ensino Fundamental? Como os pais podem ajudar a melhorar o rendimento dos filhos?
Deysiane Farias Pontes – A parceria entre escola e família é fundamental para o aprendizado dos estudantes. No entanto, não podemos esquecer que a função social da escola é, primordialmente, ajudar a repassar o conhecimento humano como forma de emancipação, formação crítica, fortalecimento da cidadania, formação para o mundo do trabalho e, no nosso caso de escola confessional, ajudar a mudar a sociedade para um lugar mais justo e solidário. Assim, é função da escola formar integralmente os sujeitos, mas sempre resguardando a sua função de formação cognitiva e acadêmica.
AM – Você acredita que a Internet seja um importante aliado, já que crianças e adolescentes passam tanto tempo em frente a tablets, computadores e celulares? Fale sobre isso.
Deysiane Farias Pontes – Não vemos a tecnologia como um problema para a educação. O problema existe quando não sabemos usar as tecnologias a favor de uma educação mais global. Os jovens de hoje estão em um mundo cada vez mais conectado e internacionalizado, a escola e a família devem acompanhar o movimento de seu tempo. Se bem utilizadas, as tecnologias podem favorecer o trabalho pedagógico. Agora, sem orientação da família e da escola, a tecnologia pode virar inimiga do jovem sem acompanhamento.
AM – Em caso afirmativo para a pergunta anterior, você indicaria alguns canais ou programas?
Deysiane Farias Pontes – A educação tecnológica e a robótica são ótimos exemplos de utilização das tecnologias a serviço do conhecimento.