Por Joana Viana, professora de ciências na prefeitura do Rio de Janeiro, bióloga e pedagoga. Com mestrado em Botânica e doutorado em Memória Social, além de atuar como técnica em assuntos educacionais na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, coordena projetos de extensão e cultura relacionados à sustentabilidade ambiental e à saúde. Sua expertise em yoga, ayurveda e ginecologia natural fornecem ferramentas valiosas que resultaram no seu recente livro “Em paz com os ciclos – Uma jornada de autocuidado da menina à mulher”. A obra, que alia o conhecimento sobre saúde e natureza aos estudos védicos e yoga, também está relacionada com o projeto Educar Para Paz que promove ações que beneficiem professores e alunos nas escolas públicas.
O yoga popularizado no Ocidente hoje é praticado majoritariamente por mulheres. Em geral, elas são fortes e flexíveis e demonstram a sua performance nos asanas, como chamamos as posturas físicas. Essa ênfase é diferente da tradição, acessada no estudo dos textos clássicos. No Hathayoga pradikta, as orientações de práticas eram formuladas por homens para outros homens. De acordo com Yogasutra, o estado de yoga é o estado sem conflitos, confusões e distrações mentais. Krishnamacharya, que viveu no século passado, foi um importante nome para a disseminação do yoga no Ocidente e afirmou que o yoga deve ser individualizado e adaptado à necessidade de cada pessoa.
Pelo momento histórico presente, acredito que daqui em diante vamos ouvir falar, cada vez mais, do corpo da mulher e das suas necessidades. Nesse sentido, seremos convidadas a considerar a menstruação e as sensações relacionadas como uma percepção importante. Em suma: reconhecer que somos cíclicas e que o ciclo menstrual é um dos ciclos que vivenciamos.
Então, primeiro, devemos reconhecer que não estamos sempre iguais. Segundo, aceitar que não precisamos estar sempre iguais, ainda que cientes de que o ambiente onde vivemos não considera as particularidades dos nossos estados. Afinal, negociar uma data de prova ou desmarcar compromissos agendados são difíceis de imaginar no mundo que espera de nós a melhor performance sempre, o que faz com que nós, também, nos cobremos uma linearidade irreal.
Mesmo que ainda tenhamos que cumprir agenda, podemos criar uma agenda interna. Acordar para si antes de acordar para o mundo. E sempre que tivermos como opção o descanso, durante a menstruação principalmente, respeitar o tempo de pausa.
Para entender um aspecto básico da menstruação, devemos considerar a menstruação como parte de um movimento descendente de conteúdo dos órgãos da cavidade pélvica (em ayurveda chamamos este movimento de apana vayu). Os músculos do assoalho pélvico contribuem para a manutenção da continência e ajudam a prevenir que os órgãos da cavidade pélvica (bexiga, intestino grosso e útero) se desloquem para baixo. Ao mesmo tempo, os conteúdos internos (urina, fezes e menstruação) devem ser eliminados.
Desde criança aprendemos a contrair alguns músculos do assoalho pélvico ao prender excretas porque nem sempre estamos próximas de um banheiro. O ayurveda ensina que isso seria desaconselhável, pelos vários desequilíbrios que podem causar no corpo.
Como fomos ensinadas a prender xixi e coco, devemos desaprender parcialmente e, com isso, saber relaxar algumas partes da musculatura e ativar outras. Para explorar a musculatura do assoalho pélvico aconselha-se levar a atenção à região. Não se trata apenas de contrair, mas também de relaxar. Mais importante, saber relaxar aos poucos e contrair aos poucos. Com a prática, sentir as diferentes regiões ativadas.
Ao longo da vida da mulher, a pelve será uma região de atenção central porque lá está o útero, onde a menstruação é produzida e o bebê vai crescer, se for o caso. Mas o que acontece no útero interfere e é interferido pelo que se passa nos outros órgãos da cavidade pélvica. O funcionamento do intestino é fundamental para a saúde de todo o corpo. Então, casos de constipação, mais comuns em mulheres, devem ser tratados com uma dieta adequada.
Dicas baseadas em técnicas de Yoga para adolescentes durante a menstruação:
- Acorde cedo para ter tempo de despertar com calma antes de iniciar as atividades. “Acordar para si mesma antes de acordar para o mundo”. Esta dica pode ser incorporada na sua rotina, e não apenas durante a menstruação. É muito importante não usar as mídias sociais nos primeiros minutos do dia.
- De preferência pela manhã, crie o hábito de permanecer pelo menos cinco minutos imóvel deitada no chão ou com as costas na almofada e o quadril no chão, dobrando os joelhos e os direcionando para o chão e unindo as solas dos pés. Fique imóvel na postura e observe apenas a respiração. Então sinta a região do períneo (entre a vulva e o ânus) mais ativa principalmente na expiração. Ao longo das respirações lentas, de olhos fechados, permita que o corpo relaxe cada vez mais. Aliar essa postura com a prática de respiração consciente pode aliviar as dores da cólica menstrual.
- Evite completamente alimentos ultraprocessados, principalmente se tiver sintomas de cólica.
- Se hidrate com água, chás ou água de coco. Escolha o líquido de sua preferência sem açúcar adicionado e beba em quantidade suficiente. A medida ideal varia de pessoa a pessoa, do local em que se vive e da estação do ano que esteja. No verão quando suamos mais, devemos ingerir mais líquido.
- Aqueça os pés com meias ou faça escalda-pés.
- Descanse, sempre que possível. Durante o tempo de descanso, não olhe a mídia social.