Aventuras Maternas

Vida de mãe como ela é

mulhermaravilhaEm nome de muitas mães que conhecemos, hoje vamos fazer um desabafo. Já lemos muitos sobre mães que optaram por largar o trabalho e focar nos filhos durante a primeira infância, outras que se dividem entre o emprego e as tarefas de mãe/dona de casa. Nós vamos falar sobre nossa vida de mães autônomas.

Acho que já cheguei a mencionar em um dos meus textos a questão da culpa, que toda mãe sente, mas, desta vez, vamos falar sobre os casos de mães que trabalham sem garantias trabalhistas e são donas do próprio, onde é pressão por vezes é maior. Dizemos isso, porque a culpa não vem só do lado dos filhos, mas do trabalho também. O que vamos falar aqui não é só um relato de duas sócias que engravidaram juntas e não puderam parar nem por uma semana com licença maternidade, mas um resumo de várias histórias que escuto por aí.

Para começar: somos mães, esposas, profissionais e empreendedoras. Quando se tem o próprio negócio, a responsabilidade dobra. Nem sempre o salário é fixo, portanto se você ficar doente e não trabalhar, também não ganha. Outras vezes, a renda mensal pode até ser a mesma, mas oscila por conta de atrasos de pagamento e outros probleminhas. Algumas mulheres contam com a ajuda do marido e outras têm que se virar sozinhas – o que é ainda pior! Mas o fato é que temos que trabalhar, e muito, para ganhar o pão nosso de cada dia e darmos tudo que achamos que nossos filhos precisam (boa educação, alimentação saudável e um bom planejamento para o futuro deles).

A questão é que quando se é mãe autônoma, as cobranças chegam de todos os lados. Sempre existem pessoas (que podem ser parentes, amigos ou alguém nada a ver) querendo dar um “conselho” de como fazer algo ou de como criar seu filho ou para lembrar o quanto você está ausente. Para mães que trabalham em casa, então, o estigma de que “ela não faz nada” é gritante. No entanto, já vi mães que trabalham diariamente na rua chegarem à casa e receberem críticas também.

Em primeiro lugar, queremos ressaltar a questão do home office (já que foi esse o modelo que escolhemos no primeiro ano de vida das crianças). Como assim, por Deus, nós não trabalhamos? Na verdade, muito pelo contrário! Nossa rotina de trabalho começava às 5h, quando eles acordavam e, entre mamadas, emails de clientes, reuniões e muita criatividade em meio ao cansaço enorme do que é ter um bebê acordando de duas em duas horas, como cólicas, desconfortos e outras coisas mais, em casa, acabávamos dormindo meia noite, com a sensação de que o dever sempre estava 80% cumprido, afinal sempre estamos devendo a alguém, ou melhor – a nós mesmas.

Hoje, eles estão com quase três anos e voltamos para o escritório há dois anos. Mas a questão do tempo não mudou muito. A minha manhã continua começando às 5h. Não tenho empregada e nem babá. Só uma faxineira. O Arthur entra na escola pela manhã e fica em período integral, de lá vou escrever para o blog e resolver questões burocráticas e pessoais – bancos, mercado, médico etc. Outras vezes, não raro, vou acompanhar alguma matéria ou fazer alguma reunião. Nesse período, estou enviando pautas ou falando com jornalistas pelo celular e/ou tablet (sim, às vezes pelos dois ao mesmo tempo). E, às vezes sem almoçar vou para o escritório, onde foco em mil e uma coisas de trabalho e onde não posso ficar até a hora que gostaria, pois tenho que sair para buscar meu filho na escola.

Vou para a casa da minha mãe esperar meu marido sair do trabalho, dou lanche para o Arthur, banho e brinco um pouco com ele. Às vezes aparecem pautas para serem trabalhadas e, se forem urgentes, dou prosseguimento. Chego em casa por volta de 22h ou 23h e vou arrumar tudo para o dia seguinte. Quando me dedico à minha casa? No final de semana, que também é dedicado ao lazer com meu marido e filhos.

Esse é o meu relato. A Priscila, minha sócia, também acorda às 5h ou 6h da manhã, não tem empregada, só faxina semanal, mas conta com a ajuda da mãe e avó para ficarem com o Theo pela manhã, para ele só ir para a escola à tarde e fazer outras atividades nesse turno, como natação, por exemplo. Então, duas vezes por semana, ela se esforça para apertar o horário e conseguir entrar com ele na piscina, fazer a aula, tomar uma ducha rápida e correr para o escritório. E, claro, organiza a agenda e lanche da escola, faz o café da manhã, tem que convencer o filho a ir para a piscina (afinal eles nem sempre querem facilitar), passa as informações para a mãe dela antes de sair, posta algo no blog e nas mídias sociais, vai ao banco e por aí vai. Ela, como eu, tenta brincar e conversar com o filho o máximo que pode, nos intervalos em que o telefone não toca ou não chega algum email importante.

Mesmo com ajuda, a carga é pesada. Fora que tem o fator saúde. Sempre tem uma virose ou alergia bagunçando o nosso cronograma. Isso eu estou resumindo, porque cada dia é um dia. Pautas pra sugerir, para acompanhar, pepinos pra resolver, orientação de funcionários, problemas burocráticos, evento para promover, trânsito que nos prende no meio do caminho, cliente que atrasa para a reunião. Enfim, 1001 coisas que nos fazem esquecer algo ou atrasar para buscá-los na escola, levando pedradas em consequência, porque “não somos boas mães, porque deixamos nossos filhos esperando 10 minutos”. Da mesma forma que nossos pequenos vomitam ou têm uma febre repentina justo na hora daquele evento mais importante do cliente e qualquer atraso, gera a impressão de antiprofissionalismo. Não é fácil.

Então vem um fulano ou uma fulana e fala “tá cansada porque? Você fica o dia todo em casa!” ou “você tem uma rotina fácil, porque é sua própria chefe”. Cara, isso me deixa furiosa! Ninguém sabe o dia a dia das pessoas! Mesmo a mãe que tem empregada, babá e trabalha em casa tem uma vida agitada. Ela tem que cuidar da rotina da casa, das coisas dos filhos e marido, se cuidar e ainda trabalhar. É um absurdo ser julgado ou criticado.

E olha que vejo gente que acompanha o nosso dia a dia e ainda dificulta! Ouço piadas, sarcasmos, ou um simplesmente “faz isso pra mim…porque eu tenho que trabalhar!?” Oi??

Nessa vida ninguém vive sozinho. Precisamos de ajuda o tempo todo para fazer as coisas darem certo. Não dá pra ser autosuficiente, principalmente na dupla jornada de mãe e profissional. Eu moro longe de tudo e não dirijo. Então minha vida é uma logística diária. Se não fosse pela ajuda do meu marido (padrasto do Arthur), mãe, meu padrasto e minhas irmãs eu estaria lascada. Hoje eles reconhecem o meu esforço.

Com a Pri é a mesma coisa. Ela mora longe do escritório, mas é o suporte familiar que a salva. Já que mãe, avó e o marido estão dispostos a ajudá-la quando o calo aperta. A questão, no entanto, é que por mais que tenhamos ajuda seja da família, da babá ou de uma creche, existem coisas que só a mãe pode fazer para o filho e que não queremos que ninguém faça por nós. Se eles se machucam, se estão doentes, se ganharam uma medalha, se fizeram um desenho lindo, queremos estar ali para ver. É muito difícil estar presente em tudo.

No final, quem realmente sofre com a ausência da gente, somos nós mesmas. Massagens, atividades físicas, um café da manhã de rainha, uma tarde no salão de beleza ou um dia de compras no shopping são coisas que ficaram no passado e parecem não voltar mais. Afinal, nem se o dia ganhasse mais horas seria possível dar conta de tudo, com tantas cobranças vindas de nós ou do mundo para sermos mães e profissionais perfeitas. Ah! E mulheres perfeitas, claro! Afinal, quando o filho finalmente dorme e o email para de apitar lá pelas 22h30, temos que estar sorridentes para bater aquele papo saudável com o marido.

Quando é hora de parar?

Confesso que somos workaholics, viciadas em internet. O cliente liga a hora que for que paramos tudo pra dar atenção e resolver o problema. Então, você imagina como ficam felizes nossos filhos, maridos, parentes e amigos. Alguém sempre fica de fora. Arthur e Theo diferente de 90% das crianças de hoje em dia detestam notebooks, Ipads e companhia. Afinal, para eles essas tecnologias são “ladras” de mães.

Não deixar que o trabalho prejudique o meu relacionamento com o meu marido e filho é um exercício diário. Mas sempre aparece a culpa. Com tantas coisas pra fazer, sempre fica faltando alguma coisa. Se eu paro tudo pra dar atenção pro meu filho deixo algo importante de trabalho escapar e isso pode ser muito prejudicial. E se fico focada direto no trabalho tenho que escutar do meu filho dizer: “que eu prefiro o laptop a ele”. Delícia, né?

Eu sei, eu sei…tem que haver um equilíbrio. Por isso digo que é um trabalho de conscientização diário. E não é fácil.

Somos boas no que fazemos justamente porque nos dedicamos de corpo e alma, mas até que ponto vale a pena? O reconhecimento nem sempre vem. Seja do lado familiar ou profissional. Por isso, fazemos um trabalho de auxílio mútuo diário. Fazemos com que nós duas nos perdoemos sobre nossas culpas e neuras. Respondemos a nós mesmas: Quem somos, o que conseguimos e onde queremos chegar. Procuramos escutar as críticas construtivas e bloquear o que nos puxa pra baixo. É difícil, porque a pressão às vezes vem de quem menos queremos ou esperamos.

Hoje, pelo menos eu, acredito que fazemos o melhor pelos nossos filhos. Dedicamos sempre um tempo no dia para contar histórias, deitar e rolar no chão, brincar de bonecos, de carrinho, pintar ou desenhar. Sempre arranjamos no mínimo uma hora durante a manhã ou durante a noite. Tivemos filhos por opção e queremos dar o nosso melhor para eles. Brincadeira de qualidade, alimentação de qualidade, educação de qualidade, esforço contínuo para conseguir isso tudo e fazer com que se sintam amados. É difícil conseguir isso tudo? Muito! Mas nos esforçamos para conquistar sempre mais. Afinal, eles querem 24 horas de atenção especial única e exclusiva e se nos sentirmos culpadas por não darmos, não viveremos. Afinal, nenhuma mãe faz isso. Trabalhando dentro ou fora de casa, cuidando de serviços domésticos ou dirigindo uma multinacional, sempre teremos múltiplas funções e temos que colocar em nossas mentes que é assim que funciona a vida. Seja varrendo a casa ou acompanhando um cliente numa reunião, o resultado final é sempre o mesmo: conquistar o melhor para a nossa família.

Trabalhamos sim, porque amamos o que fazemos e porque precisamos dar o melhor pra eles. Nos equilibramos nessa corda bamba da vida e procuramos sempre olhar o lado positivo, mesmo dentro de uma situação ruim. Reclamamos? Sim, e muito! Mas faz parte da nossa personalidade. O que temos que perceber e acreditar é que ninguém vive a nossa vida, nem vai pagar as nossas contas ou pegar nosso filho no colo quando ele estiver fazendo birra na rua. Portanto, quem sabe da nossa vida somos nós e NÓS damos o nosso melhor. Ponto final.

                  

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Priscila Correia

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