Aventuras Maternas

Entenda o papel da alimentação no tratamento do autismo

 

20151209_73450_autismoInabilidade para interagir socialmente, dificuldade no domínio da linguagem para se comunicar ou lidar com jogos simbólicos e padrão de comportamento restritivo e repetitivo são as três características mais comuns das crianças que pertencem a um grupo de dificuldades do desenvolvimento cerebral conhecido por “Transtornos de Espectro Autista” – TEA.

Embora seja amplamente divulgado, ainda existem muitas perguntas sem resposta sobre o assunto. Algo interessante que poucos sabem, por exemplo, é que estudos mostram que a nutrição pode ajudar em alguns casos. Por isso, conversamos com as nutricionistas Debora Marques, Natália Ferreira e Fernanda Levenhagen, da Alimentando Metas Consultoria Nutricional, para esclarecer algumas dúvidas. Confiram no bate-papo abaixo:

Aventuras Maternas: Antes de começarmos, explique, em linhas gerais, por que o cuidado com a alimentação é tão importante para crianças com autismo.

Alimentando Metas: Acredita-se que o autismo seja uma doença de causa genética que pode ser agravada ou desencadeada por fatores externos, tais como poluição, vacinas, alimentos, desequilíbrio da flora intestinal, infecções, alterações de imunidade, entre outras. Desta forma uma intervenção nutricional pode ser eficiente para prevenir ou amenizar os sintomas. 

Aventuras Maternas: Os cuidados nutricionais são mais importantes do que com as crianças que não têm autismo?

Alimentando Metas: Não se trata de maior importância, porém, a criança autista requer cuidados mais específicos, pois alguns ajustes na alimentação podem favorecer melhoras comportamentais e maior sociabilidade da criança.  

Aventuras Maternas: Esse cuidado com o intestino seria uma possível solução também para crianças com outra alteração genética?

Alimentando Metas: Os nutrientes mal digeridos podem servir de substrato para bactérias, favorecendo assim o crescimento de uma flora anormal. A instabilidade da flora intestinal (chamada de disbiose), por sua vez, pode conduzir a uma colonização por bactérias patogênicas e produtoras de neurotoxinas.  Além disso, esse estado de disbiose permite o crescimento de fungos e leveduras e os metabólitos produzidos por eles estão associados não somente ao autismo, mas também a outras condições neurológicas, epilepsia, disfunção cognitiva e distúrbios de linguagem. 

Aventuras Maternas: O que a disbiose provoca no organismo?

Alimentando Metas: A barreira intestinal é um mecanismo de defesa, capaz de selecionar o que deve ou não ser absorvido pelo organismo. Uma vez que a estrutura desta barreira é alterada pelo aumento de bactérias patogênicas (disbiose), o intestino perde a sua função seletiva, prejudicando a absorção de nutrientes importantes e permitindo a passagem de substâncias não desejáveis.  

Aventuras Maternas: Por que os doces e açúcar refinado podem comprometer a saúde intestinal?

Alimentando Metas: O açúcar refinado é alimento para as bactérias patogênicas, favorecendo o seu crescimento e contribuindo para o quadro de alteração da flora intestinal (disbiose), que é considerada em muitos estudos, um dos fatores agravantes mais importantes no autismo.

Aventuras Maternas: Açúcar também está presente em pães e em frutas, sob a forma de frutose. Deveriam, esses alimentos, também ser evitados?

Alimentando Metas: As frutas possuem em sua composição não somente a frutose, mas também fibras, vitaminas e minerais. Estes últimos estimulam a manutenção da flora intestinal benéfica e promovem a manutenção da integridade da barreira intestinal, diferente do açúcar e farinha refinada, presente nos pães brancos, que estimulam a disbiose e são pobres em nutrientes. 

Aventuras Maternas: Por que exatamente o consumo do glúten e do leite podem piorar os sintomas do autismo?

Alimentando Metas: O estado de disbiose (explicado acima) dificulta o processo de digestão e as proteínas mal digeridas (peptídeos) do glúten (trigo, centeio, cevada) e caseína (leite) são capazes de chegar até a corrente sanguínea. Uma vez na corrente sanguínea, esses peptídeos afetam os sistemas de neurotransmissores que regulam o comportamento. 

Aventuras Maternas: Todos os autistas estariam propensos a problemas com esses alimentos? 

Alimentando Metas: Sim, desde que a barreira intestinal esteja comprometida.  

Aventuras Maternas: Existe um problema na qualidade alimentar dos autistas ou existe uma diferença na absorção dos nutrientes?

Alimentando Metas: As crianças autistas costumam apresentar três características comportamentais frequentes em relação à alimentação: seletividade baseada no grupo e textura do alimento, recusa de alguns grupos alimentares e indisciplina durante a refeição, o que estão associados às deficiências nutricionais. Além disso, apresentam preferência por alimentos ricos em gorduras e açúcar e baixo consumo de frutas e hortaliças. 

Aventuras Maternas: Tendo como base essas informações, como seria a alimentação ideal para crianças com autismo? E como essa alimentação mais direcionada poderia mudar o quadro dessas crianças?

Alimentando Metas: A alimentação possui papel essencial na fisiopatologia do autismo, sendo assim o acompanhamento nutricional garante a manutenção da integridade da barreira intestinal, bem como a exclusão de possíveis substâncias tóxicas ao organismo dessas crianças, além de ofertar o adequado aporte de vitaminas e minerais na tentativa de minimizar os sintomas apresentados. De maneira geral, orientamos uma dieta isenta de glúten e caseína, restrita em açúcar refinado, corantes e conservantes, sempre estimulando o consumo de alimentos naturais e em alguns casos, consideramos o uso de enzimas digestivas, probiótico, glutamina e micronutrientes específicos.

                                 

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Priscila Correia

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