A gravidez é um período esperado por muitas mulheres. E, quando realizam esse desejo, sonham com aquele momento de exibir a barriga, de estar sempre com o sorriso no rosto e toda a plenitude que envolve essa etapa da vida. Porém, nem tudo é perfeito. A gestação representa uma época de intensas modificações para a mulher, em que praticamente todos os sistemas do organismo são afetados. E, entre eles, está a pele.
Conhecido como “manchas da gravidez”, o melasma é mais comum do que se imagina, mas aparece, em geral, quando há um perfil genético favorável a sua presença. A dermatologista Renata Sampaio, da Cliniqderm, conta que, até o presente momento, não se conhece a patogênese do melasma, mas sabe-se que pode ser influenciado por fatores genéticos e hormonais, sendo a radiação ultravioleta um fator fundamental no aparecimento da doença. “O melasma se subdivide em tipos, de acordo com a profundidade do pigmento, como epidérmico, situado na camada mais superficial da pele; dérmico, na camada profunda da pele; ou misto.”, explica. Outra classificação usada, lembra a dermatologista Tathya Taranto, de Belo Horizonte, é a centrofacial, malar, mandibular ou extrafacial, de acordo com a região acometida. A dermatologista Luciana de Abreu, da Clínica Dr. André Braz, complementa: “O padrão clínico de acometimento do melasma facial mais comum é a mancha marrom acastanhada de contornos irregulares, acometendo a região centrofacial, como bochechas, nariz, testa e queixo.”.
A Dra. Luciana diz ainda que a hiperpigmentação e o escurecimento da pele costumam ser generalizados, com acentuação das regiões normalmente mais pigmentadas, como aréolas mamárias, região da genitália, períneo, e as dobras (axilas e face interna das coxas). “O estímulo à hiperpigmentação tende a regredir no pós-parto, mas a pele geralmente não retorna à coloração inicial.”, completa.
A veterinária Fernanda Fernandes, de 39 anos, mãe de Pedro, de cinco, conta que os melasmas começaram seis meses após saber que estava grávida. Na época, ela procurou um dermatologista, que passou um tratamento que faz até hoje, com cremes manipulados e protetor solar. “Comecei o tratamento após parar de amamentar. As manchas começaram a diminuir uma semana após começar o tratamento, mas nunca sumiram totalmente. Quando estava grávida, usava base para disfarçar”, comenta.
Já a advogada Débora Pessoa, de 42 anos, mãe de Laura, de oito, explica que já tinha manchas de sol na pele antes da gravidez, pois sempre tomou muito sol e sem os cuidados necessários. No caso dela, com a gravidez, as manchas aumentaram e não apenas no rosto, como no corpo também. Ainda grávida, procurou um dermatologista, que recomendou um medicamento à base de vitamina C, e explicou que o produto não acabaria com os melasmas, mas que impediria que novos pigmentassem e evitaria que os já existentes aumentassem. “Logo após parar de amamentar, comecei a usar ácidos e outros medicamentos para diminuir o problema. Até hoje uso essas medicações e faço sessões de luz pulsada para amenizar”. Ela conta, ainda, que as manchas que apareceram na gravidez começaram a sumir após parar a amamentação. Já as que já tinha e escureceram na gestação foram clareando, e atualmente ela faz um tratamento para diminuí-las..
Dra Renata Sampaio lembra que o tratamento do melasma tem como objetivo controlar a doença, para que não surjam novas manchas e que não fiquem mais escuras, e deixá-las cada vez menos perceptíveis. “Na maioria dos casos, conseguimos deixá-las muito discretas, mas não a retiramos completamente.”. É importante observar que o quadro é mais persistente em mulheres que fizeram uso de anticoncepcionais orais e nos melasmas mistos e dérmicos. Além disso, a mancha pode recorrer em futuras gestações ou após uso de contraceptivos hormonais orais, principalmente se a restrição à exposição solar não é seguida.
Mas quais seriam os tratamentos mais recomendados? O pilar do tratamento é sempre manter uma fotoproteção adequada com uso regular e diário de filtros solares, preferencialmente aqueles com tom de base que protegem também contra a fração da luz visível. “Os principais agentes clareadores são compostos por ácidos (glicólico, retinóico, principalmente), além de despigmentantes como hidroquinona, alfa arbutin, ácido kojico, entre outros, associados a substâncias anti-inflamatórias e antioxidantes. Porém, estes componentes só devem ser utilizados no período pós-parto.”, afirma Luciana de Abreu. Além disso, os peelings combinados são excelentes agentes terapêuticos que promovem clareamento significativo do melasma, com poucas sessões. “Há também tratamentos coadjuvantes orais com antioxidantes que minimizam os efeitos desencadeados pela radiação ultravioleta, prescritos principalmente durante o verão, quando geralmente há maior exposição solar e os índices de raios ultravioletas são mais intensos. Porém, como o melasma tem períodos de recidiva e de remissão, deve-se fazer acompanhamento dermatológico regular para manter os resultados obtidos com o clareamento da mancha e adequar os produtos para cada fase do ano.”, finaliza a médica.
Algumas mulheres grávidas, incomodadas com as manchas, muitas vezes pensam em começar o tratamento ainda durante o período da gestação. Para este tempo, alertam os especialistas, o principal é a fotoproteção adequada, com uso regular de filtro solar. “Nas grávidas, utilizamos, principalmente, medidas educativas para evitar a exposição ao sol, como roupas de manga longa, chapéus e viseiras de aba larga. Reforçamos, ainda, a necessidade do uso do filtro solar de forma regular, a cada duas horas. Podem utilizar alguns cremes clareadores liberados para o uso na gestação, como a vitamina C e o ácido azelaico, sempre com orientação do dermatologista. Normalmente, até 70% das mulheres que iniciaram o quadro durante a gestação irão evoluir com resolução do melasma até o primeiro ano após o parto.”, exemplifica Tathya Taranto. Renata Sampaio complementa, explicando que alguns despigmentantes fracos são aprovados para uso em grávidas. Já os tratamentos mais efetivos, com clareadores mais potentes, microagulhamento e peelings químicos, só podem ser iniciados preferencialmente após o término do período de amamentação.
A Dra. Renata faz um alerta fundamental: “Tão importante quanto o uso dos produtos prescritos pelo dermatologista é a mudança do estilo de vida. Exposição ao sol e uso de medicamentos que pioram o melasma como anticoncepcionais, terapias de reprodução hormonal e cosméticos fototóxicos devem ser evitados ao máximo. Assim como o uso de filtro solar deve se tornar rotineiro.”