Com as mil tarefas que as mães têm para fazer todos os dias, receber alguma ajuda é muito bom. E quando essa ajuda vem dos filhos, além de super bem-vinda, a sensação de estar seguindo o caminho correto é especial.
Algumas mães, por excesso de proteção, acabam “poupando” os filhotes das tarefas domésticas, mas ensiná-los desde cedo sobre como ajudar é essencial para que saibam compartilhar o que têm, ajudar ao próximo, aprender sobre organização, entre outros benefícios.
A jornalista Raquel Pinto, mãe de João e Francisco, de oito anos o primeiro e poucos meses o segundo, conta que aos cinco anos João já ajudava a passar a vassoura no chão, colocava a roupa suja no cesto e, como adoram cozinhar em sua casa, ele misturava a massa de bolo e fazia o brigadeiro. Ela explica que o processo foi aos poucos, mas que hoje João não arruma apenas as coisas dele, mas da casa também. “Ele sempre gostou de brincar de limpar as coisas, empilhar os brinquedos, tirar pó dos móveis. Quando notei que ele tinha equilíbrio, força e controle com as mãos, fomos fazendo pequenos testes até que ele se sentiu seguro e começou a fazer as coisas. Hoje ele coloca a roupa de todos no cesto, lava a louça que todos sujaram, limpa o chão da casa.”, comenta. Quando estava grávida de Francisco, inclusive, Raquel diz que ele se dedicava ainda mais em ajudar, já que ela não tem a ajuda de uma profissional em casa.
Na casa da publicitária Renata Figueiredo, mãe de Malu, de 10 anos, as atividades começaram quando a filha passou a andar, pedindo para a menina guardar os brinquedos. À medida em que ela foi crescendo, Malu começou a auxiliar a mãe de outras formas, como tirando o lixo do quarto dela e ajudando a arrumar seu armário. “Fiz disso uma rotina e ela passou a entender como um processo natural. Atualmente, ela me ajuda retirando o lixo das lixeiras da casa, arrumando o quarto dela e no trato com os animais. É responsabilidade dela cuidar da ração dos cachorros, por exemplo. Ela também me ajuda na cozinha, quando vou preparar algo para comermos. E ela adora. É uma diversão.”, exemplifica.
Outra jornalista, a Lilian Luz Silva, mãe de Gabriella, de 10 anos, conta que, desde pequena, ela ensina a filha a guardar seus brinquedos, manter o quarto organizado. “Quando ela completou sete anos, comecei a aumentar as tarefas, como molhar as plantas, varrer a sala no final de semana. Hoje, ela lava a louça e seca, ajuda a fazer a lista de compras. Ela quer cozinhar, pelo menos fazer um bife, um brigadeiro ou um bolo, mas fico com medo de se queimar e não deixo. Ou, quando deixo, estou sempre ao lado.”
Mas será que existe uma idade correta para começar a ajudar em casa? Alguns especialistas dizem que cinco anos é a idade ideal, outros que é possível começar mais cedo, desde que a criança perceba aquilo como uma tarefa necessária e de grande valia, e não apenas como uma brincadeira. O importante é mostrar para as crianças que todos devem ter responsabilidades, que o seu trabalho em casa é fundamental para o bem-estar de todos.
A farmacêutica Thaiana Mendes, hoje com 33 anos, conta que em sua casa sempre foi assim. “Desde que eu me entendo por gente, eu ajudo em alguma tarefinha em casa. Minha mãe trabalhou em casa, nunca teve mais do que uma diarista para ajudar as vezes e sempre fez questão de manter tudo no lugar. Desde bem pequena, uns 3 ou 4 anos, eu já tinha algumas funções que eram quase brincadeiras na verdade. As primeiras coisas que aprendi foram a guardar meus brinquedos, arrumar a cama e a segurar a cestinha do pregador enquanto minha mãe pendurava a roupa na corda e ensinava o nome das peças e as cores. Evoluiu pra ajudar a tirar o pó dos móveis, lavar a louça no banquinho e, conforme eu fui ficando maior, fui aprendendo a fazer mais coisas. Acho que aos 13 anos eu já era a responsável por lavar a louça, limpar o fogão e varrer o chão da cozinha. E depois do almoço, nos finais de semana, enquanto minha irmã, quatro anos mais nova, secava e guardava. Toda a adolescência eu fazia faxina no meu quarto, no dos meus irmãos, lavava banheiro e dividia essas tarefas com a minha irmã. Como meu irmão é 13 anos mais novo, ele só começou a participar das tarefas bem depois. Hoje, eu tenho 33, minha irma tem 27 e meu irmão 19. Os três sabem lavar, cozinhar, colocar roupa na corda e fazer faxina. Todo mundo muito bem treinado.”, explica.
E se a criança se negar a fazer? Tudo é uma questão de momento. É preciso diferenciar a preguiça e a falta de vontade de ajudar do cansaço por algum motivo. Na casa de Raquel, quando João pede para não fazer em um determinado dia, quase nunca ela o obriga. “Não quero que os afazeres da casa se tornem uma obrigação. Sabemos que, às vezes, até para nós adultos, é chato e cansativo, imagino como não deve ser para ele, que ainda tem tempo para brincar e se dedicar aos estudos. Tento sempre equilibrar as coisas e tem dado certo.”, completa. Já Lilian conta que, no começo, a filha estava mais empolgada, mas hoje não gosta muito. “Quando está com boa vontade, faz sem reclamar. Tenho dificuldades em fazê-la entender da importância da arrumação, incluindo o quarto dela. Parece que vai crescendo e vai ficando mais bagunceira, mas eu insisto. Percebo que com as amigas acontece o mesmo.”, complementa. Lilian conta, ainda, que várias vezes a filha se negou a fazer algo, dizendo estar cansada, que quer brincar, que criança tem direito de brincar. “Concordo com ela, mas ela tem que aprender que tem as obrigações também. Isso faz parte do dia a dia. Algumas vezes deixo quando percebo que ela está realmente cansada ou quando ela está estudando. Não tiro ela dos estudos para fazer nada. A prioridade é sempre a escola.”, enfatiza.
Sobre o maior ganho que essa ajuda pode gerar no futuro, Renata é enfática: “Estou educando a minha filha. Ensinando a vida pra ela. Isso é maturidade e responsabilidade.”. E Thaiana concorda: “Aprendi que as tarefas da casa devem ser compartilhadas por todos ou nada anda. Aprendi que ninguém está aqui pra te servir, que as coisas não se resolvem magicamente e que trabalho em equipe resolve tudo muito mais rápido.”, finaliza. Dona Beatriz Mendes, mãe de Thaiana, certamente está orgulhosa dos ensinamentos que passou para os filhos. Afinal, como diz o ditado, os filhos não são criados para os pais, mas para o mundo.