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O perigo da “ilusão de controle” na nossa prevenção, por Keitiline Viacava

Pense em que resposta você daria diante da seguinte situação: Os casos relatados de contaminação por coronavírus são bem menores quando há prática de isolamento social versus exposição a agrupamentos e multidões. O que pode ser inferido acerca da eficácia do isolamento social? Que ele é eficaz! Estudos mostram que, em geral, somos capazes de realizar julgamentos corretos diante de situações como essas. Entretanto, a partir de um certo momento, e por razões que permanecem relativamente desconhecidas, começamos a apresentar vieses de julgamentos. Esse processo é chamado de ilusão de controle.

A ilusão de controle se refere à tendência de acreditar que seja possível controlar situações que são regidas pelo acaso ou por forte controle externo, como o caso do perigo de contaminação pelo coronavírus. Pesquisadores das ciências cognitivas e comportamentais têm explorado possíveis explicações para esse fenômeno, e uma delas pode estar na frequência de coincidências entre a ação realizada e o resultado vivenciado.

Para entender o efeito da “frequência de coincidências entre ação e resultado” de maneira bastante simplificada, observe a sua prática pessoal de isolamento social para se proteger. Agora, considere que, todas as vezes que você sai de casa, seja para ir ao supermercado ou ao trabalho, você retorna se sentindo bem. Eventualmente, por efeito de frequência na coincidência entre a ação de sair de casa e o resultado percebido (ainda que não garantido) de não estar contaminado, a ilusão de controle pode emergir. Esse fenômeno foi observado e publicado em 2012, em um estudo realizado no Departamento de Psicologia da Universidade de Deusto, na Espanha1.

É importante termos em mente que todos nós estamos sujeitos à ilusão de controle, ainda que crianças, adolescentes e idosos sejam mais fortemente vulneráveis. Por ser classificada como um viés cognitivo, a ilusão de controle ocorre de maneira automática, quase sem querer e sem que nos demos conta. Portanto, ela pode afetar a prevenção, colocando em risco a nossa saúde e daqueles que interagem conosco.

* Neurocientista pela Universidade de Georgetown nos Estados Unidos e Dra. em Psicologia, Keitiline Viacava está apoiando profissionais e líderes à lidarem com seus vieses diante da pandemia do coronavírus.

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Priscila Correia

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