Diretor do Instituto de Foniatria de Campinas (SP), o médico foniatra e otorrinolaringologista Evaldo José Bizachi Rodrigues dedica-se a um segmento da medicina com grandes implicações no desenvolvimento infantil: a foniatria, definida como especialidade médica que diagnostica e trata distúrbios da maturação, da aprendizagem (inclusive fala, linguagem – leitura escrita) e do desenvolvimento (organização e adaptação). A foniatria foi incluída como especialidade médica na Associação Médica Brasileira por sua indicação junto com a dos professores doutores Mauro Spinelli (S.P.) e Elísio Bautista (B.H.)
Um dos precursores da implementação da foniatria no Brasil, Evaldo foi responsável pela descrição da Síndrome da Infância, apresentada nos congressos internacionais de São Paulo e de Palm Desert, no EUA, e publicada na Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. A síndrome engloba diversos sintomas, tais como: a disfonia (rouquidão); a enurese noturna (xixi na cama); escapes diurnos de urina e de fezes; o valgismo (joelhos em “x”); e a ortodonpatia (problema ortodôntico), entre outros, em crianças ouvintes, com bom potencial e exame neurológico normal.
Com o uso de substâncias neuromusculotróficas, em conjunto com atividades que visam consolidar a noção de espaço/tempo na mente infantil, o foniatra alcançou resultados bastante satisfatórios, que não vinham ocorrendo quando essas manifestações eram tratadas de forma isolada.
Relatando a história da descrição da síndrome, Bizachi recorda que o primeiro paciente que chegou à sua clínica e que lhe chamou a atenção foi uma criança de aproximadamente três anos de idade, com um quadro de disfonia. “Para falar ela precisava de muito esforço, o que fazia com que as veias do pescoço aumentassem de volume. A voz era quase inaudível”, conta. A criança apresentava intensa flacidez muscular, pois também mal conseguia parar em pé. “A resposta ao tratamento, com 3 meses de duração numa primeira fase, foi extremamente satisfatória”, lembra.
Casos semelhantes foram tratados da mesma maneira. Além da melhora relacionada à rouquidão e à postura corporal, constatou-se que os pacientes diminuíram a incidência de xixi na cama e escapes diurnos de urina e de fezes. Intrigado, o médico percebeu que muitas dessas crianças também apresentavam valgismo (joelhos em x) e ortodonpatia (problemas ortodônticos), além da enurese noturna e da disfonia.
Também foram detectados na história clínica outros sintomas que afetavam as funções em que participam estruturas fonoarticulatórias, entre as quais: sucção débil, dificuldade em passar da alimentação líquida para a pastosa e da pastosa para a sólida, mastigação ineficiente e deglutição prejudicada; além do comprometimento da fala, que se manifestava pelo atraso, pela dificuldade com as consoantes líquidas, tais como (r), (l), (lhe), (x) e pela omissão de grupos consonantais. Eram crianças geralmente inquietas e estabanadas, com prejuízo da atividade motora, principalmente a mais refinada, que acarretava importante comprometimento do padrão gráfico (desenho e escrita).
“Eu analisava regularmente esses dados sem entender porque estavam conectados, até que um dia me dei conta de que eles possuíam uma causa em comum: a hipotonia (flacidez muscular) e/ou a frouxidão dos ligamentos, que compromete a eficiência da atividade muscular”, explica o foniatra. Essa hipotonia tem outra implicação muito importante. Segundo ele, a criança hipotônica tende a encontrar dificuldade em adquirir a noção de espaço/tempo e como resultado apreender a relação de causa e efeito, que é fundamental para a maturação e a aprendizagem e para o ser humano entender e funcionar no mundo.
Uma criança com flacidez muscular realiza de maneira ineficaz movimentos essenciais ao seu amadurecimento corporal, o que compromete a possibilidade de enquadramento do espaço. Isso afeta a aquisição do conceito abstrato de tempo e a qualidade das relações causa/efeito que consegue realizar, inclusive com prejuízo para que adquira a noção de perigo, em que num dado momento se associa um fato presente com informações anteriores e se antecipa um possível resultado que pode causar dano pessoal .
Esses fatos levam as famílias e professores a rotularem de infantilizadas ou imaturas as crianças que funcionam aquém do esperado, quando estão em jogo essas relações, se comparadas com as realizadas por outras crianças da mesma idade, mesmo nível sócio cultural e de experiência, que adequadamente incorporaram o espaço e as relações espaço/tempo, ou seja, de causa e efeito. Não à toa, crianças com dificuldade nesse jogo tendem a ser desligadas, desatentas, desorganizadas, com pobreza de conceitos e vocabulário, arredias e provavelmente com mau rendimento escolar, já que é muito sofisticada a passagem de som para letra na escrita e ao contrário na leitura.
Diante das dificuldades de aprendizagem e de desenvolvimento do filho, principalmente as relacionadas ao rendimento escolar, os pais costumam apelar para castigos e chantagens. Quando não são atendidos, acreditam que as crianças agem de propósito para afrontá-los. Segundo Evaldo, não adianta os pais, na cobrança de resultados, usarem palavras como “responsabilidade”, “oportunidade”, “objetivos de vida”, pois a criança que não entende o básico de causa e efeito, não realiza as tarefas mais simples do dia a dia, terá muita dificuldade para a compreensão desses conceitos mais complexos. A falta de percepção desse fato por parte dos pais tende a gerar revolta nos filhos, intensificando o problema.
Outro equívoco cometido pelos pais é a tentativa de solucionar cada sintoma de maneira individualizada apenas. “Não basta procurar providenciar tratamento para cada um desses sinais, assim como não basta prescrever anti-térmico para quem tem febre sem combater a sua causa”, afirma.
Conforme o foniatra, pedir para prestar atenção para não escapar urina ou fezes na roupa; levantar no meio da noite para que a criança não faça xixi na cama; tratar a boca da criança porque fala errado ou gagueja; insistir que ela transcreva ditado, porque troca letras; medicar com calmantes, porque é agitada, muitas vezes é inútil, levando os pais ao desalento, que redunda em mais pressão sobre a criança.
Nesse sentido, Bizachi enfatiza a importância da medicina foniátrica para atuar com mais eficácia no tratamento dos distúrbios relacionados à aprendizagem, à comunicação e ao desenvolvimento. A especialidade dispõe das condições necessárias para avaliar, acompanhar e, muitas vezes, interferir em todos esses aspectos e em todas as suas formas. Desse modo, facilita o trabalho de profissionais de outras áreas que frequentemente estão envolvidos no processo, como fonoaudiólogos, pedagogos, fisioterapeutas, psicólogos e terapeutas ocupacionais.
O tratamento ministrado por Evaldo consiste na ingestão por parte do paciente de substâncias neuromusculotróficas, sem contraindicação, cujo intuito é tornar mais refinada a atividade motora e a percepção das relações espaço/tempo e causa/efeito que regem indistintamente todas as atividades. A dosagem, composição e estratégia de aplicação passam por uma avaliação clínica individual.
Adicionalmente à medicação, o médico recomenda que na interação dos pais com os filhos aconteçam momentos que facilitem a assimilação do conceito de espaço/tempo, que se traduz na relação causa/efeito. Assim, é importante fazer com que a criança perceba como funciona e a importância do significado da medição de tempo (horas, semana, meses), de distância e de peso através de exemplos práticos do cotidiano. “Incorporando a noção dessa relação causa /efeito macro, a criança terá mais facilidade para, no momento oportuno, entender e assimilar a mais sofisticada dessas relações que é passar sons para letras na escrita e vice-versa na leitura”, conclui.
Informações: Assessoria de Imprensa.