Uma das doenças dentárias mais comum também é a que se mostra mais presente na retomada das crianças nas consultas odontológicas: a cárie. Causada pelo aumento de consumo de açúcar durante o isolamento social e também, uma má higiene bucal, os dentistas acenderam um alerta para evitar que a doença gere outros impactos para a saúde da criança.
Dados da Universidade Federal de Pelotas, em um estudo publicado em 25 de outubro do ano passado na revista “International Journal of Pediatric Dentistry”, revelaram que houve uma redução de 88% de atendimentos odontológicos realizados em crianças nos meses de janeiro e maio de 2020. “Ficamos três meses sem realizar qualquer tipo de atendimento, justamente porque ninguém sabia o que estava acontecendo. É um vírus novo e o dentista é o profissional com maior risco de exposição” diz a odontopediatra Juliana Martins.
Dentista com parte do seu PhD em odontopediatria e pós-doutorado na Universidade de Harvard (EUA), Juliana desenvolveu um método único, capaz de melhorar a comunicação dos dentistas na disseminação dos conceitos de saúde bucal das crianças para a população geral.
As restrições da pandemia de Covid-19 exigiram que os serviços odontológicos freassem as consultas por um tempo, pois, o ambiente é propício para a disseminação do vírus. Porém, com a retomada de setores essenciais, os consultórios tiveram que aderir a uma nova rotina de trabalho rígida para garantir a segurança tanto dos pacientes como dos profissionais.
Como os dentistas trabalham frente a frente com os pacientes, que precisam ficar com a boca aberta por bastante tempo, é preciso cautela. Segundo Juliana, hoje o espaçamento entre cada paciente está maior (gira em torno de 1 hora). A dentista que atende exclusivamente o público infantil revela que com a quarentena, muitos hábitos alimentares foram alterados na rotina das crianças.
Como está a saúde bucal das crianças na quarentena?
O aumento do consumo de açúcar provocou mais lesões de cárie. O consumo desenfreado de doces aconteceu nessa mudança de rotina dessas crianças. Antes iam para escola, algumas praticavam esporte e com o isolamento social, ficaram presos em casas, junto a muitos pais trabalhando em home office. A alimentação delas mudou e o consumo exagerado de industrializados, justamente para facilitar os pais que já estão sobrecarregados, também se aumentou.
Qual a importância de levar as crianças ao dentista, mesmo neste momento?
Quando pensamos que o dentista é um serviço essencial de saúde, podemos fazer uma comparação com os check-ups semestrais/anuais que os adultos realizam. Independente se há alguma doença, ele procura um clínico-geral para avaliar as condições deste momento. E a mesma coisa deveria acontecer com as crianças, que precisa visitar um pediatra e também um serviço de odontopediatria, não é somente quando a criança está com dor. Nós trabalhamos com prevenção, por isso é importante estar sempre realizando visitas, mesmo com este momento.
Qual é o tratamento mais comum nos pequenos?
Muitas vezes essa criança já chega com dores porque caiu e se machucou. Esses são atendimentos de urgência, onde precisam de rapidez e agilidade. Outras mais frequentes são a cárie, mas também um tratamento de profilaxia e prevenção. Os procedimentos variam muito de acordo com a personalidade da criança, a idade e também se é a primeira vez dela no dentista. Isso tem um diferencial enorme.
Como estão os protocolos de segurança, para além do uso da máscara e álcool em gel?
Tivemos que reforçar a segurança com espaçamento nos atendimentos, com uma média de uma hora entre cada paciente. Não estamos tendo a sala de espera e os pacientes vem previamente agendado, pedimos que se possível também venha apenas um responsável para diminuir a exposição ao vírus. Estamos usamos avental descartável e impermeável, enfim, os protocolos ficaram mais rigorosos, mas tudo pela segurança do profissional e dos pacientes.